O relacionamento pessoal com Deus é um conceito central para a jornada espiritual. Os escritores bíblicos usaram muitas metáforas pra descrever o relacionamento humano/divino e a realidade humana mais próxima foi a do matrimônio. Para crescermos em nosso relacionamento com Deus, vale a pena tentar aprender algo do desenvolvimento normal de um relacionamento humano. Penso que o processo espiritual no matrimônio e na vida consagrada é o mesmo, com exceção dos meios para alcançar o objetivo. A vida humana é uma escola de amor. Se não aprendermos a amar, mesmo que realizemos grandes coisas aos olhos do mundo, somos como um bronze que soa ou um címbalo que tine (1Cor 13,1). Pelo número de matrimônios que terminam em divórcio podemos compreender que aprender a amar não é fácil.
A oração é o portão pelo qual entramos no relacionamento com Deus e o caminho para manter viva a chama no relacionamento. Oração é comunicação com Deus. Marido e mulher não podem crescer em seu amor sem uma comunicação contínua. As regras que regulam os relacionamentos humanos também podem ser aplicadas ao relacionamento com Deus. A tentação quanto a oração é vê-la como um dever a ser realizado em vez de um caminho para se comunicar com Deus. Se fosse meramente uma obrigação, seria bem simples. Bastaria dizer as palavras certas ou preencher o tempo necessário. A oração é algo mais. Ela deve nos transformar. Se não acontece transformação alguma, algo não está certo com nossa oração ou com nossa vida.
O objetivo da vida espiritual é bem simples: tornar-se como Deus, ser capaz de ver a criação como Deus a vê e a amá-la como Deus ama. As vocações particulares (família, vida consagrada, etc…) são caminhos diferentes para alcançar os mesmos objetivos. Toda estrada deve ser um modo para aprendermos como Deus ama.
O relacionamento humano, compreendido como um modelo para o desenvolvimento de nosso relacionamento com Deus, tem seus limites. Cristo é muito mais do que um amigo. Ele é o único que pode nos restaurar e nos transformar totalmente, levando-nos à nossa plenitude. Num relacionamento humano normal, se um lado decide não continuar uma amizade, não há nada mais a ser dito ou feito. No entanto, Deus nos persegue continuamente porque só Deus sabe qual é nosso bem final.
Deus nos procura e nos convida a entrar mais profundamente no mistério da vida da Trindade. Somente em Deus podemos encontrar a resposta ao nosso próprio mistério. A oração começa com o convite que Deus nos apresenta de diferentes maneiras. Deus sempre tem muitos recursos. Deus vem a nós quer estejamos num bom lugar ou não. Deus nos chama desse lugar e nos convida a começar uma jornada na companhia divina. Se recusarmos, Deus repete o convite continuamente de modos diferentes. Deus nunca desiste de nós. Quando não respondemos positivamente, Deus nos guia delicadamente. Todo relacionamento é diferente, mas podemos aprender algo com as experiências alheias.
A oração é um relacionamento com Deus. Somos chamados a sermos amigos íntimos de Deus, em e através de Jesus Cristo. Não é fácil dar permissão a outra pessoa para entrar em nossas vidas e dar a essa pessoa a liberdade de percorrer os corredores de nosso coração, mas uma amizade profunda exige isso. Jesus Cristo quis nos transformar. O processo de transformação é longo e muitas vezes árduo. Deus nunca desiste de nós, mas devemos fazer nossa parte para que o grande trabalho de transformação seja realizado plenamente.
Na espiritualidade carmelitana, Maria é venerada como Mãe e Irmã. Ela nos ajuda, nos alimenta e nos acompanha em nossa jornada pela vida. Seu papel é acima de tudo nos ajudar a entrar e a crescer em nosso relacionamento com Deus. Não devemos apenas admirar seus privilégios. De certa forma, eles nos apontam para nosso próprio futuro. Maria pode nos ajudar mais facilmente se estivermos abertos à sua presença em nossas vidas.
Texto: Frei Joseph Chalmers O. Carm.
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