As pessoas vulneráveis, encontradas e acolhidas com a graça e o estilo de Cristo, podem ser uma presença do Evangelho na comunidade de fiéis e na sociedade. Foi o que disse o Papa ao receber em audiência na manhã desta sexta-feira, 1º de março, na Sala Clementina, no Vaticano, aos participantes do Convênio “Vulnerabilidade e comunidade entre acolhimento e inclusão”, um expressivo grupo de 150 pessoas, por ocasião da segunda “Cátedra da acolhida”, realizada estes dias na Fraterna Domus de Sacrofano, nas proximidades de Roma.
Dado que o Santo Padre ainda se encontra resfriado, pediu a um de seus colaboradores que lesse seu discurso aos presentes.
Francisco disse apreciar a iniciativa “Cátedra da acolhida”, em sua segunda edição, que colocou no centro o tema da vulnerabilidade. Acolhida e vulnerabilidade, considerada em suas várias formas. Em seguida, ofereceu algumas reflexões.
Em primeiro lugar: para acolher irmãos e irmãs vulneráveis, devo me sentir vulnerável e acolhido como tal por Cristo. Ele sempre nos precede: Ele se fez vulnerável, até o ponto da Paixão; acolheu nossa fragilidade para que, graças a Ele, possamos fazer o mesmo. São Paulo escreve: “Acolhei-vos uns aos outros como Cristo vos acolheu” (cf. Rm 15,7). Se permanecermos n’Ele, como ramos na videira, daremos bons frutos, também vasto campo da acolhida.
No segundo ponto de sua reflexão, o Santo Padre ressaltou que Jesus passou a maior parte de seu ministério público, especialmente na Galileia, em contato com os pobres e os doentes de todos os tipos. Isso nos diz que, para nós, a vulnerabilidade não pode ser uma questão “politicamente correta” ou uma mera organização de práticas, por melhores que sejam. “Digo isso porque, infelizmente, o risco existe, está sempre à espreita, apesar de toda boa vontade”, observou Francisco. Especialmente em realidades maiores e mais estruturadas, mas também em realidades menores, a vulnerabilidade pode se tornar uma categoria, as pessoas indivíduos sem rosto, o serviço uma “prestação”, e assim por diante.
Portanto, devemos permanecer firmemente ancorados no Evangelho, em Jesus, que não ensinou seus discípulos a planejar uma assistência aos doentes e aos pobres. Jesus quis formar os discípulos em um estilo de vida, estando em contato com os vulneráveis, em seu meio. Os discípulos viram como Ele se encontrava com as pessoas, viram como Ele acolhia: sua proximidade, sua compaixão, sua ternura. E depois da Ressurreição, o Espírito Santo imprimiu esse modo de vida neles.
Então, novamente o Espírito formou homens e mulheres que se tornaram santos por amarem pessoas vulneráveis como Jesus. Alguns foram canonizados e são modelos para todos nós; mas quantos homens e mulheres se tornaram santos por acolherem os pequenos, os pobres, os frágeis, os marginalizados! E é importante, em nossas comunidades, compartilhar as histórias dessas testemunhas ocultas do Evangelho com simplicidade e gratidão.
Antes de concluir seu discurso, o Pontífice ofereceu um último ponto de sua reflexão.
No Evangelho, os pobres, os vulneráveis, não são objetos, são sujeitos, são protagonistas junto com Jesus na proclamação do Reino de Deus. Pensemos em Bartimeu, o cego de Jericó (cf. Mc 10,46-52). Essa história é emblemática, convido-os a relê-la com frequência porque é muito rica. Estudando e meditando sobre esse texto, vemos que Jesus encontra naquele homem a fé que estava buscando: somente Jesus o reconhece em meio à multidão e ao barulho, ouve seu grito cheio de fé. E aquele homem, que por causa de sua fé no Senhor recupera a visão, parte, segue Jesus e se torna sua testemunha, tanto que sua história entrou para os Evangelhos. O vulnerável Bartimeu, salvo pelo vulnerável Jesus, compartilha da alegria de testemunhar sua ressurreição. Mencionei essa história, mas haveria muitas outras, com diferentes tipos de vulnerabilidade, não apenas física.
Francisco citou ainda Madalena: ela, que era atormentada por sete demônios, tornou-se a primeira testemunha de Jesus ressuscitado.
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