Num tempo ainda marcado tristemente pelas violências da guerra, pelas alterações climáticas, pela pobreza e pela fome, disse o Papa, sempre precisamos ouvir e receber o anúncio de que “Deus vem”.
Maria, portanto, inspira o escutar. A jovem de Nazaré deu ouvidos ao anúncio do Anjo e abriu o coração ao projeto de Deus. Escutar é um verbo bíblico que não diz respeito apenas ao ouvido, mas requer o envolvimento do coração e consequentemente da própria vida. E não só: Maria compreende que é destinatária de um dom inestimável e, “de joelhos”, isto é, com humildade e maravilha, coloca-se à escuta.
“Escutar ‘de joelhos’ é o melhor modo para escutar de verdade, pois significa que estamos diante do outro, não na posição de quem pensa que sabe tudo, mas ao contrário abrindo-nos ao mistério do outro.”
Às vezes, se corre o risco de ser como lobos vorazes: procura-se de imediato devorar as palavras do outro, sem verdadeiramente as escutar. Por isso, a exortação do Papa é para aprender a contemplação na oração, permanecendo de joelhos diante do Senhor, mas com o coração e não apenas com as pernas.
“Escutemo-nos mais, sem preconceitos, com abertura e sinceridade; com o coração de joelhos.”
A escuta mútua leva ao segundo verbo: discernir, que Francisco desenvolve a partir de João Batista. Jesus não era como ele O esperava e por isso o próprio Precursor deve converter-se à novidade do Reino, deve ter a humildade e a coragem de fazer discernimento.
De igual modo, disse o Papa, o discernimento é importante para todos, para não cair na pretensão de já saber tudo, “repetindo simplesmente esquemas, sem considerar que o Mistério de Deus sempre nos supera e que a vida das pessoas e a realidade que nos rodeia são e sempre permanecerão superiores às ideias e teorias. A vida é superior às ideias, sempre”.
O discernimento deve ajudar no trabalho da Cúria a ser dóceis ao Espírito Santo, para poder escolher as orientações e tomar as decisões, não com base em critérios mundanos nem simplesmente aplicando regulamentos, mas segundo o Evangelho.
Por fim, a terceira palavra: caminhar, inspirado pelo movimento dos Magos.
A alegria do Evangelho, explicou o Pontífice, desencadeia em nós o impulso do seguimento, provocando um verdadeiro êxodo de nós mesmos e encaminhando-nos para o encontro com o Senhor. A fé cristã, recordou, não pretende confirmar as nossas seguranças. Pelo contrário, coloca-nos em viagem.
“Também aqui, no serviço da Cúria é importante permanecer a caminho, não cessar de procurar e aprofundar a verdade, vencendo a tentação de ficar parado e «labirintar» dentro dos nossos recintos e dos nossos medos.”
Os medos, a rigidez, a repetição dos esquemas, prosseguiu o Papa, geram uma situação estática, que tem a vantagem aparente de não criar problemas – quieta non movere –, mas levam a girar sem resultado nos nossos labirintos, penalizando o serviço que são chamados a oferecer à Igreja e ao mundo inteiro.
“Permaneçamos vigilantes contra a fixidez da ideologia”, pediu Francisco. Quando o serviço que se realiza corre o risco de se tornar morno, rígido ou medíocre, preso nas redes da burocracia e da insignificância, é preciso olhar para o alto, recomeçar a partir de Deus.
“É preciso coragem para caminhar, para ir mais longe. É uma questão de amor.”
Para Francisco, hoje a dificuldade é transmitir paixão a quem já há muito tempo a perdeu: “À distância de sessenta anos do Concílio, ainda se debate sobre a divisão entre ‘progressistas’ e ‘conservadores’, e esta não é a diferença. A verdadeira diferença central está entre ‘apaixonados’ e ‘habituados’. Esta é a diferença. Só quem ama pode caminhar”.
O Papa concluiu agradecendo aos cardeais pelo trabalho e dedicação, sobretudo aquele realizado no silêncio.
“Que o Senhor Jesus, Verbo Encarnado, nos dê a graça da alegria no serviço humilde e generoso. E, por favor, não percamos o humorismo. E, diante do presépio, façam uma oração por mim.”
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