“Perdoa o teu irmão!”: muitos pais repetem esta ordem quando os filhos brigam, achando que o perdão é uma espécie de consequência automática de apenas pedir e pronto. No entanto, o verdadeiro perdão depende da nossa real vontade de perdoar. Aliás, depende só dela: podemos inclusive perdoar um agressor que nem está arrependido (assim como também poderíamos nos recusar a perdoar alguém que sinceramente se arrependeu). Perdoar é um ato da pessoa que foi ferida. E, mesmo que não apague o mal que o agressor cometeu contra nós, ele supera esse mal, em nossa alma, com um bem maior, que é precisamente o gesto de perdoar.
Nem sempre é fácil – nem sequer em família. Pense em casos como traição conjugal, desavença entre irmãos, brigas por dinheiro…
O psicólogo canadense Jean Monbourquette nos sugere um caminho interior de 12 etapas em seu livro “Comment pardonner?” (“Como perdoar?”, em tradução livre do título; o original em francês é de 1992, pela Novalis/Bayard, Ottawa/Paris). Trata-se de um caminho espiritual e psicológico que nos pede buscar na alma aberta a Deus o que somos incapazes de realizar apenas com as nossas forças humanas.
A condição prévia ao perdão é:
1 – Decida não vingar-se, dando fim à ofensa. Não há necessidade de continuar sofrendo. Você é responsável por restaurar a sua própria dignidade e rejeitar a condição de vítima. Vingar-se, tanto por meio de pequenas alusões quanto mediante um contra-ataque direto, só serviria para alimentar o rancor e atrasar a paz, evitando voluntariamente cicatrizar a própria ferida.
A fase emocional do caminho do perdão é a cura psicológica:
2 – Reconheça a sua ferida. Seu sofrimento pode ser uma mistura de vergonha e humilhação, e aceitar este fato evita que eles se disfarcem de ira ou negação.
3 – Compartilhe a sua ferida com alguém. Verbalize a suas emoções, coloque-as em perspectiva mediante o desabafo com alguém de confiança. Sinta-se compreendido.
4 – Identifique bem a perda que você sofreu. Não rebaixe a sua importância! As feridas não são comparáveis; o sofrimento de cada um é único; e identificar a ferida permite entendê-la melhor, sem negá-la (nem exagerá-la). Qual é a fibra sensível do seu interior que foi afetada por essa ofensa?
5 – Reconheça a sua ira e desejo de vingança. É um sentimento normal – mas deve ser controlado. Reconheça essa raiva para não deixá-la projetar-se contra outra pessoa ou contra você mesmo: encontra válvulas de escape saudáveis, como o esporte.
6 – Perdoe a si mesmo. Isto surpreende você? Acontece que você corre o risco de não querer parecer vulnerável. Mas todos somos. Peça a graça de encontrar a reta compaixão por si mesmo, que não é complexo de vitimismo. Isto é importante para superar a ofensa sofrida.
7 – Compreenda o ofensor. Isto pode ser possível depois de certo tempo de trabalho de cura da sua ferida. É muito importante aprender a diferenciar entre o ato e a pessoa.
8 – Encontre um sentido para a ofensa, por mais difícil que isto pareça. Cada feridas curada é uma oportunidade para crescer. Pergunte-se, por exemplo, o que ela ajudou você a descobrir sobre si mesmo, seus limites, suas fragilidades, seus recursos, sua mudança nas relações com os outros.
Por último vem a etapa do perdão integral, que convoca todos os seus recursos espirituais.
9 – Sinta-se digno de perdão. Sinta-se você mesmo perdoado. Faça a experiência de deixar-se amar de maneira incondicional, por uma fonte de Amor que vai muito além de você. Você pode chamá-la de Deus, se for crente. Na certeza de ser amado, com toda a grande força interior que ela proporciona, você poderá continuar o caminho do perdão.
10 – Não fique se forçando a querer perdoar. O seu perdão é maior que você e precisa de um tipo de generosidade maior que a meramente humana. Peça esta força a Deus.
11 – Abra-se à graça de perdoar. Permita que Deus aja no seu interior!
12 – Decida entre terminar a relação ou renová-la. O perdão permite que você reencontre a liberdade na relação. Pondere se é possível recuperar a relação; sim, às vezes é necessário encerrá-la. Como quer que seja, a sua perspectiva sobre si mesmo e sobre o seu ofensor terá mudado profundamente, mesmo que não haja reconciliação ou que o ofensor tenha falecido.
Embora seja espiritual, o perdão não é uma questão de religião. O seu valor curativo é comprovado: ele diminui a ansiedade, alivia a depressão, acalma os arrebatamentos de ira e aumenta a autoestima. A mulher abandonada pelo marido com dois filhos pequenos pode ter caído em depressão, mas o perdão que ela conseguiu dar a si mesma e ao marido lhe permitiu redescobrir a própria força vital e tirar das costas um fardo pesado; ela parou de se menosprezar, superou a ferida e se tornou livre. Seja livre você também: perdoe!
Bénédicte de Dinechin
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