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Já foi lançada pela CNBB a Campanha da Fraternidade deste ano de 2012. Como todo mundo já sabe, seu tema é a Saúde Pública, e seu lema retoma o sonho do livro do Eclesiástico, “que a saúde se difunda sobre a terra”.
Lançada em Brasília, a Campanha já se faz presente nas milhares de comunidades, espalhadas pelo Brasil. Aí está um dos fatores que garantem a rápida ressonância da Campanha. Ela valoriza as comunidades. Ela conta com a capilaridade da Igreja. Aciona as lideranças, em cujas mãos coloca os subsídios que municiam a reflexão em torno do tema proposto. E aproveita o tempo da quaresma para motivar a participação e estimular compromissos concretos, que traduzam as sugestões que o tema vai apresentando.
Desta maneira, podemos afirmar que a Campanha da Fraternidade é a maior experiência que se realiza no Brasil, de reflexão conjunta, de debate aberto, em torno de um determinado assunto de interesse social.
A partir desta constatação, se percebe o alcance político da Campanha da Fraternidade. Ela proporciona um clima favorável para aquilo que o povo brasileiro é arredio, e não gosta de fazer: refletir e debater os problemas que envolvem a vida do povo.
De fato, temos uma tradição de pouca participação nos debates políticos. Os próprios partidos não conseguem sustentar esse debate, eles que teriam a incumbência constitucional de apresentar propostas para o adequado enfrentamento dos problemas existentes. Assim, eles não se caracterizam por suas propostas política. . Mas se limitam à estratégia eleitoral de alcançar o poder, sem dizer para que o buscam.
Temos no Brasil uma grande carência de debate político. A Campanha da Fraternidade, com seus limites de iniciativa suscitada por motivações religiosas, é a ainda a instância que mais sustenta e articula uma reflexão séria, em cima de dados reais, sobre problemas concretos da sociedade.
O tema deste ano serve de exemplo. Traz uma reflexão muito bem fundamentada, em cima de dados muito interessantes, relativos às questões ligadas ao campo da saúde pública. É tão vasto este campo, que ele precisa ser abordado com conhecimento de causa, com disposição de enfrentá-lo com responsabilidade, e com a certeza de contar com o respaldo do estado e da sociedade.
Os médicos costumam discernir os casos de “alta complexidade”. A Campanha deste ano nos apresenta também um tema de “alta complexidade” que requer as atenções de todos.
Nos tempos da Constituinte, em que se buscava critérios norteadores para definir a lei básica da Nação, se formulou a sentença, que parecia dar conta do problema de maneira exaustiva. Afirmava-se que “a saúde é direito de todos e dever do Estado”.
A sentença ainda pode continuar vigente. Mas sua compreensão foi adquirindo nuances muito concretas, com incidências muito práticas. O fato de ser “dever do Estado” não exime a sociedade de suas responsabilidades com a saúde pública. A começar pelo dever de acompanhar de perto as políticas públicas relativas à saúde, participar dos conselhos paritários, onde é possível levar as demandas da população e urgir a ação do Estado. E sobretudo, fiscalizar a aplicação dos recursos públicos, para que sejam distribuídos de maneira equitativa e adequada às condições existentes.
Em todo o caso, a campanha deste ano mostra a importância de refletir sobre a saúde pública com informações concretas, à luz dos grandes valores envolvidos nesta questão de interesse tão direto da população. Quanto mais informações, maiores serão os consensos, maior o envolvimento da sociedade, maior o compromisso do Estado, sobretudo garantindo os recursos financeiros, que viabilizem as ações indispensáveis para uma verdadeira política de saúde pública.
Por Dom Demétrio Valentini – Bispo de Jales (SP)
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