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“Não penseis que nado em consolações, oh não! meu consolo é não ter consolações na terra. Sem mostrar-se, sem se fazer ouvir, Jesus ensina- me em segredo, não é por meio dos livros, pois não entendo o que leio, às vezes, porém, uma palavra como esta que destaquei no final da oração (após ter ficado no silêncio e na aridez) vem consolar-me: “Eis o mestre que te dou, ensinar-te-á o que deves fazer. Quero levar-te a ler no livro da vida onde está a ciência do amor”. A ciência do Amor, oh sim! esta palavra soa doce ao ouvido da minha alma, só desejo essa ciência. Tendo dado por ela todas as minhas riquezas, calculo, como a esposa dos cânticos sagrados, nada ter dado… Entendo tão bem que só o amor possa nos tornar agradáveis a Deus, que fiz dele o único objeto dos meus desejos. Jesus sente prazer em mostrar-me o único caminho que leva para essa fornalha divina, e esse caminho é a entrega da criancinha que adormece sem receio no colo do pai… “Quem for criança, venha cá”, disse o Espírito pela boca de Salomão, e esse mesmo Espírito de Amor disse também que “A misericórdia é dada aos pequenos” Ms B”.
“Minha irmã querida, pedistes para eu vos descrever meu sonho e “minha pequena doutrina”, como a chamastes… Foi o que fiz nas páginas a seguir, mas tão mal que me parece impossível que compreendais. Achareis, talvez, minhas expressões exagera as… Ah! perdoai-me, isso deve ser atribuído a meu estilo pouco agradável. Asseguro-vos não haver exagero nenhum na minha alminha, que está tudo calmo e descansado… (Ao escrever, é a Jesus que falo, assim me é mais fácil expressar meus pensamentos… O que, ai! não impede que estejam mal expressos!)”.
“Ser tua esposa, ó Jesus; ser carmelita; ser, pela minha união a Ti, a mãe das almas, deveria ser-me suficiente… mas não é… Sem dúvida, esses três privilégios formam minha vocação: carmelita. esposa e mãe. Todavia, sinto em mim outras vocações, a de Guerreiro, a de Sacerdote, a de Apóstolo. a de Doutor, a de Mártir, enfim, sinto a necessidade, o desejo de realizar, para Ti, Jesus, as mais heróicas obras… Sinto na minha alma a coragem de um cruzado, _de um zuavo pontifício. Queria morrer num campo de batalha pela defesa da Igreja…”.
“Ó meu Jesus! o que vais responder a todas essas loucuras?… Há alma menor, mais impotente que a minha?… Porém, por causa da minha fraqueza, achaste prazer, Senhor, em atender aos meus pequenos desejos infantis e queres, hoje, realizar outros desejos, maiores que o universo… Como meus desejos me faziam sofrer um verdadeiro martírio na oração, abri as epístolas de são Paulo a fim de procurar alguma resposta. Meus olhos caíram sobre os capítulos 12 e 13 da primeira epístola aos Coríntios… No primeiro, li que nem todos podem ser apóstolos, profetas, doutores etc… que a igreja é composta de diferentes membros e que o olho não poderia ser, ao mesmo tempo, a mão”.
“A resposta estava clara, mas não satisfazia aos meus desejos, não me propiciava paz… Como Madalena se inclinando sempre junto ao túmulo vazio acabou por encontrar o que desejava, também me abaixei até as profundezas do meu nada e elevei-me tão alto que consegui atingir minha meta… Sem desanimar, prossegui com minha leitura e esta frase aliviou-me: “Aspirai, também, aos carismas mais elevados. Mas vou mostrar-vos ainda uma via sobre todas sublime”. E o apóstolo explica como todos os mais perfeitos dons não valem nada sem o Amor… Que a caridade é a via excelente para levar seguramente a Deus. Enfim, tinha encontrado repouso… Considerando o corpo místico da Igreja, não me reconheci em nenhum dos membros descritos por são Paulo, melhor, queria reconhecer-me em todos… A Caridade deu-me a chave da minha vocação. Compreendi que se a Igreja tem um corpo, composto de diversos membros, o mais necessário, o mais nobre de todos não lhe falta. Compreendi que a Igreja tem um coração e que esse coração arde de amor. Compreendi que só o Amor leva os membros da Igreja a agir, que se o Amor viesse a extinguir-se os apóstolos não anunciariam mais o Evangelho, os mártires negar-se-iam a derramar o sangue…”.
“Eis, meu Bem-Amado, como se consumará minha vida… Não tenho outros meios para te provar meu amor, a não ser lançar flores, isto é, não deixar escapar nenhum pequeno sacrifício, nenhum olhar, nenhuma palavra, aproveitar as menores coisas e fazê-las por amor… Quero sofrer e mesmo gozar por amor, dessa forma lançarei flores diante do teu trono, não encontrarei uma só sem desfolhá-la para Ti… e, ao jogar minhas flores, cantarei”.
“Como pode uma alma tão imperfeita como a minha aspirar à plenitude do Amor?… Ó Jesus! meu primeiro, meu único Amigo, Tu que amo UNICAMENTE, dize-me que mistério é esse. Por que não reservas essas imensas aspirações para as grandes almas, para as águias que planam nas alturas?… Considero-me apenas um mero passarinho coberto de leve penugem, não sou uma águia, só tenho dela os olhos e o coração, pois apesar da minha extrema pequenez ouso fixar o Sol Divino, o Sol do Amor, e meu coração sente em si todas as aspirações da águia… O passarinho quer voar para esse Sol brilhante que encanta seus olhos, quer imitar as águias, suas irmãs, que vê chegar ao lar divino da Trindade Santíssima… ai! o que pode fazer é bater as asinhas, voar, porém, não está em seu pequeno alcance! O que será dele? Morrer de tristeza por se ver tão impotente?… Oh não! o passarinho nem vai ficar aflito. Com total abandono, quer ficar olhando seu divino Sol; nada poderá assustá-lo, nem o vento nem a chuva, e se nuvens escuras vierem esconder o Astro de Amor o passarinho não trocará de lugar”.
“Jesus sou pequena demais para fazer grandes coisas… e minha loucura pessoal é esperar que teu amor me aceite como vítima… Minha loucura consiste em suplicar às Águias, minhas irmãs, que consigam para mim o favor de voar para o Sol do Amor com as próprias asas da Águia divina… Enquanto quiseres, ó meu Bem-amado, teu passarinho ficará sem forças e sem asas, com os olhos sempre fixos em Ti. Quer ser fascinado pelo teu olhar divino, quer tornar-se a presa do teu Amor… Um dia, espero, Águia adorada, virás buscar teu passarinho e, subindo com ele ao Lar do Amor, mergulharás para sempre no ardente Abismo desse Amor a quem se ofereceu como vítima…”.
“Ó Jesus! como posso dizer a todas as almas pequeninas o quanto é inefável a tua condescendência… sinto que, embora seja impossível, se tu encontrasses uma alma mais fraca, menor que a minha, terias prazer em cumulá-la de favores ainda maiores, caso ela se abandonasse com inteira confiança à tua misericórdia infinita. Mas por que desejar comunicar teus segredos de amor, ó Jesus. Não foste tu quem os ensinaste a mim e não podes revelá-los aos outros?… Sim, sei, e te suplico para fazê-lo, te suplico que abaixes teu olhar divino sobre um grande número de almas pequeninas… Suplico-te escolher uma legião de pequenas vítimas dignas do teu AMOR!”.
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