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Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo (SP)
Estamos no final da Campanha da Fraternidade de 2015. O tema – “Fraternidade: Igreja e Sociedade” – serviu para refletir sobre um dos aspectos fundamentais do Concílio Ecumênico Vaticano II, de cuja conclusão estamos lembrando 50 anos.
O Concílio tratou da relação Igreja-mundo. Não se trata de duas instâncias separadas ou antagônicas, nem também redutíveis a uma única realidade: ambas as realidades coexistem e interagem. O “mundo” tem sua autonomia legítima, diz o Concílio e isso significa que as “realidades terrestres” têm sentido e valor por si próprias, e não, apenas, porque a religião lhes dá sentido.
A Igreja reconhece que no mundo da natureza há uma lógica interna, que possui um sentido positivo, conferido por Deus Criador; e o próprio homem, organizando a sua convivência, é também capaz de realizar a boa obra, mesmo sem que isso dependa de um direcionamento religioso. A vida social precisa ser ordenada retamente, não por causa da religião, bem sim, por causa dos valores bem e da justiça, para os quais deve estar ordenada toda a vida e ação humanas.
Qual é, então, a parte da Igreja, inserida no mundo e na sociedade? Ela é testemunha do Evangelho do Reino de Deus e tem uma contribuição importante a dar ao convívio social e a toda atividade humana: apresentando a luz do Evangelho, ela ajuda a sociedade a encontrar mais facilmente os caminhos da retidão, da justiça e da realização da obra boa. Em uma palavra, a Igreja indica a verdadeira fraternidade, como forma de convivência na grande família humana.
Apontando para Jesus Cristo, “caminho, verdade e vida”, ela convida a seguir seus passos; e indica o Reino de Deus como o grande bem para o homem, a partir do qual se julgam toda decisão e ação humanas e todos os valores terrenos. A partir de sua antropologia, ela ajuda a compreender o valor e a dignidade de cada pessoa, que deve estar no centro de toda organização social, política e econômica.
Com a Campanha da Fraternidade, a Igreja no Brasil indica um valor fundamental para o convívio social: a fraternidade, expressão concreta do amor ao próximo. A Igreja ajuda a sociedade a orientar-se pela fraternidade, buscando a justiça, o respeito à pessoa e a solidariedade. Os referenciais para a vida social, econômica e política, propostos pela Igreja, podem ajudar a superar mais facilmente tantos problemas que afligem o convívio social: desonestidade e corrupção, a injustiça e violência, guerras, fome e exclusão social… Tudo isso é contrário à fraternidade e fere profundamente a dignidade humana.
A Igreja não é uma instância concorrente com a sociedade organizada, mas faz parte dela, mesmo não se confundindo com ela. Através de seus membros, que também são cidadãos do mundo, a Igreja se faz presente e atuante em toda parte. Ela age na sociedade e nos diversos níveis das relações sociais, quer através de seus representantes hierárquicos e de iniciativas que lhe são próprias; quer, ainda mais, através da presença de seus filhos em todo o tecido social. É grande o campo de atuação e testemunho cristão dos leigos!
A Campanha da Fraternidade se encerra no Domingo de Ramos; mas os temas por ela postos e suas reflexões, bem como iniciativas suscitadas por ela, continuam ao longo do ano inteiro. Não é demais lembrar que o grande documento do Concílio, que trata das relações Igreja-sociedade, é a Constituição Pastoral Gaudium et Spes, cuja leitura e estudo são muito úteis e recomendados.
No Domingo de Ramos, todos somos chamados a fazer nosso “gesto concreto de solidariedade”, como fruto da nossa penitência quaresmal. As ofertas recolhidas, servirão para apoiar projetos pastorais de caridade social, nas dioceses e, em âmbito nacional, promovidos e apoiados pela CNBB.
Publicado em O São Paulo
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