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O Fundo Nacional de Solidariedade (FNS) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) destinou a doação de 141 mil reais para os Regionais Noroeste e Norte 1 da CNBB para auxiliar no enfretamento da pandemia e das consequências das enchentes e da crise migratória na região. Em reunião virtual realizada na manhã desta quarta-feira, 3 de março, o secretário-geral da CNBB, dom Joel Portella Amado, definiu com bispos dos dois estados sobre a distribuição dos recursos.
A doação de recursos, segundo dom Joel, “não é mérito de ninguém, pelo contrário, é obrigação que decorre da fé de estarmos compartilhando um pouco daquilo que nós temos”. O secretário-geral da CNBB definiu a ocasião como um “momento de oração e de celebração pela alegria de, em meio a tantas dores, a tantas dificuldades, nos alegrarmos por fazer o bem”.
Participaram do encontro, além de dom Joel, o arcebispo de Manaus (AM), dom Leonardo Steiner; o secretário executivo do Regional Norte 1 da CNBB, diácono Francisco Lima; o bispo de Rio Branco (AC) e presidente do Regional Noroeste, dom Joaquín Pertiñez Fernandez; o bispo da Prelazia de Lábrea (AM), dom Santiago Sánchez Sebástian; a colaboradora do Regional Noroeste Célia; o secretário do bispo de Guajará-Mirim (RO), Héder Carlos; os subsecretários da CNBB, padre Dirceu Oliveira e Marcus Barbosa; o ecônomo, monsenhor Nereudo Freire Henrique; o secretário executivo de Campanhas da CNBB, padre Patriky Batista; e o coordenador do Departamento Social da CNBB, Franklin Ribeiro.
Após o Conselho Gestor do FNS destinar recursos para 15 projetos sociais de ajuda humanitária, no mês passado, com recursos doados pela agência alemã Adveniat, uma parte do valor ainda estava disponível para aplicação em outra situação emergencial. Assim, o Secretariado Geral colocou em debate a questão com secretários executivos dos Regionais e depois decidiu pela aplicação no Norte do Brasil.
O Acre enfrenta, além das consequências da pandemia do novo coronavírus, um crescimento nos casos de dengue, alagamentos e enchentes por conta da cheia histórica dos rios e uma crise na fronteira com o Peru devido à tentativa de migrantes haitianos retornarem para seu país. Por esse motivo e pelas doações que chegam à capital amazonense, dom Leonardo Steiner sugeriu a dom Joel que a maior parte dos recursos fosse destinada ao Regional Noroeste, que deve também sofrer as consequências após a diminuição do nível das águas.
Assim, os participantes aprovaram a seguinte divisão: 90 mil reais serão aplicados no enfrentamento da crise no Acre e os outros 51 mil reais serão entregues para o Regional Norte 1, que compreende o Norte do Amazonas e Roraima.
Dom Leonardo Steiner começou partilhando sobre a situação atual de Manaus e do Amazonas como um todo. Os hospitais ainda lotados, segundo o arcebispo, o pico já passou na capital, mas ainda é a realidade do interior do Amazonas. “É para lá que nós temos destinado o oxigênio que temos recebido e os instrumentos necessários”, contou.
“A solidariedade é muito grande. No momento, a maior dificuldade que nós estamos vendo, especialmente na cidade de Manaus, mas também em outras cidades, é a questão da fome”, partilhou dom Leonardo, lembrando que o número de beneficiados com marmitas saltou de 200 para 400 pessoas.
A arquidiocese de Manaus tem praticado a partilha: “O que tem vindo para a arquidiocese, estamos procurando repartir com as outras Igrejas também, para amenizar um pouco a situação”, disse dom Leonardo.
O secretário executivo do Regional Norte 1, diácono Francisco Lima, preparou um relato do encaminhamento de recursos e das perspectivas de enfrentamento da situação por meio da campanha “Amazonas e Roraima contam com sua solidariedade”. A iniciativa arrecadou R$ 819.492,23 em dinheiro e também recebeu materiais. Foi possível distribuir para as dioceses do Regional Norte 1 cilindros e concentradores de oxigênio, equipamentos de proteção individual (EPIs), material de uso hospitalar e itens de alimentação.
“A crise inicial, motivadora da campanha, era a questão de oxigênio. Até o momento, conseguimos atender cerca de 23 municípios. Conseguimos com esse gesto de solidariedade chegar a todas as nossas dioceses”, destacou diácono Francisco.
Dom Leonardo Steiner também pontuou que entidades têm buscado a Igreja para acompanhar a entrega de doações: “É bom ressaltar isso, a confiança que as pessoas têm na nossa Igreja”.
Dom Joaquín Pertiñez partilhou sobre a situação no estado, afetado pela considera maior enchente da história em Cruzeiro do Sul e Tarauacá, interdição de estradas, a epidemia de dengue, junto com a Covid-19. “Hoje está tudo colapsado, não tem nenhuma vaga de UTI, nem público, nem privado. O necrotério do pronto-socorro ontem tinha oito cadáveres esperando sem dar saída; enfim, a situação está muito, muito difícil”, partilhou.
“Temos também a situação da fronteira do Peru, com os migrantes – principalmente haitianos – que estão querendo voltar a seu país e o Peru fechou a fronteira e não abre de jeito nenhum. Haitianos não querem ficar no Peru, só querem passar para o seu país de origem, dada a crise que encontraram no Brasil”, contou dom Joaquín sobre a situação de mais de 400 migrantes na cidade de Assis Brasil (AC), a cidade com maior número de infectados de Covid-19, de acordo com o bispo.
Dom Joaquín também sublinhou que o Hospital Santa Juliana, da diocese de Rio Branco, é de alta-complexidade, uma referência no Acre, mas tem sobrevivido de empréstimos bancários para arcar com obrigações trabalhistas e investimentos necessários, como mini-usina de oxigênio.
Dom Santiago, de Lábrea, também partilhou um pouco da situação dos municípios da prelazia. Por lá, doações de equipamentos de saúde não puderam ser utilizados devido à falta de profissionais da saúde. Os pacientes têm sido trasladados de avião para as capitais Manaus e Porto Velho (RO). Já as doações de itens alimentícios têm sido aproveitadas e encaminhadas pelas organizações para que a Igreja faça a distribuição.
Durante a oração final, dom Joaquín Pertiñez partilhou sobre um fato interessante. Ele havia recebido uma carta de Barretos (SP) e abriu curiosamente, pois não havia identificação do remetente. Dentro do envelope, vinha um pequeno bilhete com a frase “É pouco, mas é com amor. Deus abençoe”. O bispo ficou curioso e, em seguida, encontrou uma cédula de dois reais no envelope.
“Pois é, as duas moedinhas da viúva, logo em seguida eu comparei. Eu tenho aqui guardado como algo sagrado. E realmente esses gestos são os que nos confortam, nos animam e nos dão força para continuar, porque é dos pobres que saem as partilhas para os mais necessitados”, partilhou o bispo de Rio Branco.
Fonte: CNBB
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