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1.Escuta com amor: a jovem estava em silêncio. Esta é a primeira palavra-chave: quietude. Sem esta predisposição, não existe escuta. Já vimos de mil maneiras que “amar é abrir”, e os ouvidos de Maria estavam bem abertos. Ela conseguiu ouvir uma voz do céu na metáfora do anjo Gabriel, mensageiro de uma Palavra do Pai. O céu se abriu e disse: “Alegra-te, cheia de Graça.” Esta Graça é o próprio Deus que se dá à Maria em forma de uma imensa alegria. O povo do interior costuma perguntar “qual é sua graça?” para significar “qual
é seu nome?”. Nome é identidade, e a graça identifica o próprio Deus. Maria é agraciada com um dom do alto.
Isto tudo acontece em uma simples casinha de Nazaré, diferentemente do solene anúncio a Zacarias, entre oferendas e incenso, no Templo de Jerusalém. Mas aquele sacerdote duvidou da voz de Gabriel. Por isso, ficou mudo. Com Maria foi o contrário. Na simplicidade de um bairro de periferia, ela escutou com fé e em silêncio. Maria em silêncio de fé, escuta… Zacarias fica em silêncio por sua pouca fé, não escuta! Dois tipos de silêncio. Deus preferiu a simplicidade de Nazaré. Encontrou uma porta aberta na terra e fez dela a porta do céu. Pediu licença para entrar. E foi atentamente ouvido por aquela menina-moça. O silêncio atento foi o primeiro segredo do amor vivido por Maria.
2. Amar a Deus: o silêncio não basta. Escutar com amor também não é o suficiente. É preciso avançar para a “sintonia”. Maria ficou pensando no que o anjo havia lhe dito: “O Senhor está contigo.” Ficou pensativa e perplexa. A voz do céu mexeu com ela. Ela entrou em êxtase. Ficou encantada com a declaração de amor de Deus. Este é o segundo código: experimentar os encantos do amor de Deus. Antes de amar a Deus, é preciso fazer a experiência de que somos amados por Ele.
Maria está toda voltada para a proposta do céu que lhe diz: “Eis que conceberás e darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó e o seu reino não terá fim.” A atenção amorosa à proposta de amor do céu deixa Maria inquieta. Ela não entendia “como” isso poderia acontecer. Por isso faz a pergunta: “Como acontecerá isso?” Perguntar é um jeito de amar, e o encontro de Maria leva a esta sintonia de amor. O anjo explica todos os detalhes do projeto de salvação que aconteceria por meio dela.
3. Sobre todas as coisas: o silêncio levou à sintonia, e essa, por sua vez, gerou a sinergia que deu forças a Maria para responder: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a sua palavra.” Este “faça-se” parece ecoar o “faça-se” do poema da Criação, no primeiro capítulo do Gênesis: “Faça-se a luz… e a luz foi feita.” Pelo sim daquela menina, começava uma nova criação. Todas as coisas seriam refeitas em Cristo. Ela se tornava a primeira cristã, a jardineira do novo jardim de Deus. O paraíso perdido começava a ser restaurado no ventre da mulher que teve coragem de ouvir a voz do céu.
4. E ao próximo: o silêncio gerou a sintonia que tornou possível a sinergia. Mas esta energia vital não poderia ficar em uma espiritualidade solitária. Maria está grávida de Deus. Mas não ficou em casa. O anjo havia lhe dito que sua prima, Isabel, estava grávida de seis meses. Morava a mais ou menos 120 quilômetros dali. Ela não tem dúvidas. Silêncio, sintonia e sinergia deveriam levar à simpatia, que significa sentir com o coração do outro. Ela saiu às pressas para levar o amor e a ternura a alguém que estava precisando. Esqueceu de si mesma e até do Menino-Deus que se formava em seu ventre. Não se preocupou com nada. A verdadeira serva do Senhor é serva do próximo — neste caso, um pouco distante! Mas não existe tempo nem distâncias para o amor. Tudo é aqui e agora quando a gente ama, e com Maria foi assim.
A cena do encontro é de uma beleza sem igual. Ela chega sem discursos, apenas com a disponibilidade para servir. Quando Isabel ouviu a voz de Maria, o menino que trazia em seu ventre estremeceu e ela ficou cheia de Deus. É impressionante que, quando somos amorizados, nos tornamos capazes de amorizar também. Isabel começou a rezar e louvar a Deus. Chamou Maria de “bendita entre todas as mulheres” porque a profecia encarnada em seu ventre se cumpriria. Poderíamos continuar imaginando os dias que se passaram naqueles três meses que faltavam para o nascimento de João Batista. As conversas, as alegrias, a simplicidade e a serenidade de quem vive na dimensão do amor…
5. Como a si mesmo: após silêncio, sintonia, sinergia e simpatia, o que poderíamos esperar mais? O quinto segredo do amor é descoberto por Maria sob a forma de uma grande “sinfonia”. Ela cantou repetindo os poemas das grandes mulheres de Israel: “A minha alma engrandece o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador.” Aquele silêncio da escuta agora transborda sob a forma de canção. Somente quem ouve a voz do céu pode cantar os ecos criativos do Criador. A intimidade de Maria é íntegra e integrada. Ela tem vida interior. No seu coração habitam multidões.
Chama a atenção que o Magnificat comece nesta chave pessoal e termine em um plural maravilhoso: “em favor de Abraão e de sua descendência, para sempre, conforme prometera a nossos pais.” A fé de Maria não é intimista. Ela articula o céu com a terra, o espiritual com o social, o singular com o plural. Não vive uma egolatria. Equilibra a dimensão pessoal com a pluralidade que habita em suas memórias. Ela reconhece que não é tão singular assim. O mundo inteiro habita no seu coração.
Mais do que isso. Sua prece é radical no louvor e extremamente realista no clamor. Ela pede que os poderosos sejam derrubados dos seus tronos. É uma canção revolucionária que seria proibida por muitos regimes totalitaristas. É mais do que uma poesia; é uma profecia. Na canção de Maria, encontramos o modelo perfeito da prece cristã.
Depois desta canção, não encontramos mais muitas palavras de Maria. A Bíblia diz que ela “guardava todas as coisas no seu coração” (Lucas 2,51). Este é o quinto segredo: guardar as coisas no coração. Maria entendeu a lição. Viveu os códigos do amor e conectou a terra com o céu!
Trecho extraído do livro “Os cinco segredos de Maria”, de padre Joãozinho, sjc
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