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Nada do que a Igreja pede a seus fiéis será efetivamente parte da consciência da comunidade católica se não for incluído na catequese. Quase todos nós já passamos pela embaraçosa experiência de lidar com pessoas que acham que estão defendendo a nossa Igreja quando estão de fato afirmando coisas que não combinam com o ensino católico oficial. Para deixar cada um a par do que a Igreja realmente deseja, os catequistas precisam conhecer o que está em nossos documentos mais importantes. Sabemos que esse conhecimento ás vezes fica difícil porque nossa Igreja tem uma quantidade imensa de documentos, nem sempre numa linguagem acessível a todos os fiéis. Por isso, os encarregados da formação devem comunicar o essencial em linguagem simples, num espírito de pastoral de conjunto, que não deixe de fora nenhum aspecto importante do conjunto da mensagem. Nesse conjunto, muitas vezes a parte referente a ecumenismo e diálogo inter-religioso fica excluída, seja por simples desconhecimento, seja por considerar que não se trata de algo realmente importante, seja até porque se acha que o catequista ainda não está preparado para uma reflexão mais ampla. Muitos consideram ecumenismo como um problema, em vez de encará-lo como parte da missão e da vivência dos católicos.
E aí temos duas conseqüências negativas: 1) o catequizando fica sem condições de lidar com o inevitável convívio com pessoas de outra Igreja ou religião; 2) o mundo acaba desconhecendo que a nossa Igreja tem um posicionamento bonito, maduro, fraterno em relação a esse assunto.
Então lembremos algumas afirmações da Exortação Apostólica de João Paulo II Catechesi Tradendae (A catequese no nosso tempo, de 1979):
“A catequese, de fato, não pode ficar alheia a esta dimensão ecumênica, uma vez que todos os fiéis, cada um segundo as suas capacidades próprias e a sua situação na Igreja, são chamados a participar no movimento para a unidade”. CT 32
Pensemos no que aí se diz: cada um deve participar de acordo com a sua situação. Uma criança, por exemplo, não vai participar de discussões teológicas sobre a questão ecumênica. Mas precisaria saber como deve lidar com seu colega de escola que pertence a outra Igreja ou com algum parente que tem um posicionamento religioso diferente do seu. Um adulto deve ser preparado para esse mesmo tipo de convívio no seu trabalho ou na vizinhança.
“… é sobremaneira importante fazer uma apresentação correta e leal de outras Igrejas e comunidades eclesiais, das quais o Espírito de Cristo não recusa servir-se como de meios de salvação; e entre os elementos e os bens, tomados em conjunto, com que a Igreja se edifica e é vivificada, alguns e até muitos e muito importantes podem existir fora dos limites visíveis da Igreja Católica.” CT 32
Para fazer essa “apresentação correta e leal” temos que conhecer a outra Igreja sem preconceitos, procurando entender os sentimentos de quem dela participa. Podemos fazer isso sem medo de estar diminuindo em algum nivel o valor da nossa própria tradição de fé. Não é uma postura perigosa para o diálogo: pelo contrário, se a pessoa da outra Igreja souber que a nossa doutrina oficial reconhece esses valores, ficará bem menos motivada a nos agredir, procurará até alguma coisa boa para dizer sobre nós. Afinal, só uma Igreja segura, séria e generosa ousaria assumir tal posicionamento.
O próprio documento do papa reconhece isso quando diz:
Entre outras coisas, uma tal apresentação ajudará os católicos, por um lado a aprofundarem sua própria fé e, por outro lado, a melhor conhecerem e estimarem os outros irmãos cristãos, facilitando assim a procura em comum do caminho para a plena unidade na verdade total. Ela há de ajudar também os não-católicos a melhor conhecerem e apreciarem a Igreja Católica e a sua convicção de ser o “meio geral de salvação”. CT 32
O que se diz aí é que o “desarmamento” faz bem aos dois lados e, ainda por cima, ajuda as Igrejas na busca do atendimento àquele importante pedido de Jesus, que desejava que seus seguidores fossem um, como ele e o Pai eram um.
Então está tudo resolvido? Evidentemente não. As Igrejas ainda têm que dar muitos passos para curar as feridas da separação, resolver questões doutrinárias e buscar formas aceitáveis de cooperação. Por isso, o papa também lembra:
“A comunhão de fé entre os católicos e os outros cristãos, no entanto, não é completa e perfeita; existem mesmo, em alguns casos, profundas divergências. Por conseqüência, esta colaboração ecumênica é por sua própria natureza limitada:ela não poderá nunca significar uma redução a um mínimo comum”. CT 33
Fazer de conta que não há problemas não leva a um caminho satisfatório. Sentir a dor da separação pode ser até uma boa motivação para continuar buscando uma unidade cada vez mais visível e próxima da plenitude. Fazer tudo isso com respeito pelo outro, fidelidade à sua própria identidade e, principalmente, desejo de atender ao pedido de Jesus pode nos envolver num trabalho emocionante cujos frutos nos darão muita alegria.
Por Therezinha Cruz
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