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A Igreja tem a missão de evangelizar. Desde seu início, ela sabe da necessidade de anunciar a boa-nova, segundo a ordem de Jesus: “Ide por todo o mundo, proclamai o evangelho a toda criatura” (Mc 16,15).
A Igreja sempre se preocupou em responder a essa nobilíssima vocação de ser portadora da boa-nova e sacramento universal de salvação (LG 48). Para tanto, no decorrer do tempo, criou estruturas, uma das quais é a paróquia.
No início da era cristã, o império romano abrangia grandes metrópoles como Roma, Alexandria e Antioquia da Síria, ligadas entre si pelas vias romanas. Com a expansão do cristianismo, em Roma e Alexandria, os presbíteros começaram a presidir assembleias cristãs, dispersas pelas cidades, mas as grandes celebrações do batismo e da eucaristia eram reservadas aos bispos.
A Igreja, sob a presidência do bispo, com seus presbíteros e diáconos, desenvolveu-se até o século V com base nas comunidades estabelecidas nas cidades.
Com a queda do império romano, as cidades perderam a importância e houve o predomínio rural, acarretando enorme perturbação na organização da Igreja. Surgiram vários lugares de culto, espalhados pelos campos, e foi implementado o sistema paroquial, no qual o bispo concedia ao pároco poderes para celebrar localmente a eucaristia nas festas mais solenes.
Assim sendo, a partir do século VI, multiplicaram-se as Igrejas rurais menores, isto é, as paróquias, à frente das quais estava um presbítero diocesano ou um presbítero paroquial, que imitavam toda ação do bispo para responder às necessidades dos fiéis.
Com a Renascença, a Reforma Protestante e os concílios dos séculos XVII e XVIII, foi se estruturando o sistema paroquial. A preocupação recaía mais sobre a boa organização, sobre os registros, sobre a contabilidade e as festas populares do que sobre a santidade manifestada no testemunho cristão da consciência e sobre a obrigação missionária da Igreja Católica (cf. LG 42 a 49).
Historicamente, a estrutura paroquial foi ganhando forças principalmente com os padres conciliares no Vaticano II, que analisaram a evolução do sistema paroquial como uma condição histórica do cumprimento do mandato de Jesus. Basta percorrermos os documentos conciliares, o Código de Direito Canônico e o Catecismo da Igreja Católica.[1]
Porém, nos tempos subsequentes, pela década de 70 e 90, por conta do progresso e da urbanização, a instituição paroquial passou a ser objeto de grandes interrogações e reflexões. Poderíamos dizer: uma instituição vetusta?
O documento Catechesi Tradendae, fruto do Sínodo de 1977 sobre catequese, afirmou: “A paróquia foi profundamente abalada pelo fenômeno da urbanização. Alguns chegaram mesmo a admitir com demasiada facilidade que a paróquia estava ultrapassada, se não mesmo voltada ao desaparecimento, em favor de pequenas comunidades mais adaptadas e mais eficazes” (n. 67).
No entanto, o mundo urbano nos apresenta novas questões e pede novas respostas. Não podemos descansar num cristianismo tradicional, baseado em ritos e tradições culturais. Temos de ser visionários em relação à instituição paroquial.
Foi a partir da década de 80 que a instituição paroquial ganhou maior renovação na linha eclesiológica, sendo progressivamente reconhecida e revalorizada. No final do ano de 1988, na exortação apostólica pós-sinodal Christifidelis Laici, sobre a vocação e missão dos leigos na Igreja e no mundo, o papa João Paulo II afirmou que as paróquias vivem numa fase nova e prometedora: “A paróquia não é uma estrutura, um território, um edifício, mas é a família de Deus, como uma fraternidade animada pelo espírito de unidade; é uma casa de família, fraterna e acolhedora, é a comunidade dos fiéis” (n. 26).
Com efeito, cada paróquia está fundada sobre uma realidade teológica, pois é comunidade eucarística. Isso significa que é comunidade idônea para celebrar a eucaristia, na qual se situam a raiz viva do seu edificar-se e o vínculo sacramental do seu estar em plena comunhão com toda a Igreja. Essa idoneidade repousa no fato de a paróquia ser uma comunidade de fé e orgânica, isto é, constituída pelos ministros ordenados e pelos outros cristãos, na qual o pároco, que representa o bispo diocesano, é o vínculo hierárquico com toda a Igreja particular (Congregação para o Clero, O presbítero, pastor e guia da comunidade paroquial, 2002, n. 18).
Com o passar do tempo e, recentemente, com os processos de urbanização, reurbanização e conurbação, a estrutura paroquial ainda continua objeto de discussão e questionamento.
O âmbito desse questionamento é muito variado: uns comentam a abolição desse modelo, pois o consideram sem perspectiva; alguns dizem que é algo medieval e rural; outros afirmam, ainda, que é uma realidade totalmente voltada para si mesma, uma instituição eclesiástica que ignora o crescimento e o desenvolvimento do mundo.
O surgimento da civilização urbana transforma os modos de viver, as estruturas habituais da existência e os relacionamentos na família, na vizinhança, modificando os próprios moldes da comunidade eclesial.
Assim, cada atividade paroquial precisa ser fecundada pelo amor, para que seja mediação efetiva de encontro com Deus. Para tanto, fazem-se necessários três paradigmas: a) identificar a finalidade da paróquia; b) estreitar os vínculos entre os paroquianos; c) selecionar os melhores processos de interação com outras paróquias.
a) Identificar a finalidade da paróquia
Para que a paróquia seja revitalizada, é necessário redimensionar, identificar e explicitar sua finalidade no mundo contemporâneo. Para tanto, convém retomar a exortação apostólica pós-sinodal Ecclesia in America, de João Paulo II, a qual, no número 41, deixa bem clara a missão paroquial.
Para que atinja sua finalidade, a paróquia deve ser: acolhedora e solidária; lugar da iniciação cristã, da educação e da celebração da fé; aberta à variedade de carismas, serviços e ministérios; comprometida com os movimentos de apostolado e atenta às distintas culturas dos habitantes.
O Documento de Aparecida vem se somar e tornar-se também uma bússola para resgatar e revalorizar a instituição paróquia, principalmente quando descreve sua natureza e sua missão, incentivando “uma corajosa ação renovadora” (n. 170). Nos números 170-177, faz duas grandes abordagens sobre a paróquia: a identidade e a organização da vida paroquial.
Em relação à missão, o documento diz ser um lugar privilegiado onde a maioria dos fiéis tem uma experiência concreta de Cristo, pois Jesus, antes de pregar, viveu no meio de nós, conheceu a nossa condição, foi ao encontro das pessoas, foi presença. Assim também que as paróquias sejam casas e escolas de comunhão eclesial (cf. ibid., n. 170). A paróquia, presente no meio das casas dos seus filhos, tem a missão de ser casa de família, fraterna e acolhedora (cf. Christifidelis Laici, n. 26).
b) Estreitar os vínculos entre os paroquianos
Em consequência do item anterior, a comunidade paroquial se reúne para partir o pão da Palavra e da eucaristia e perseverar na catequese, na vida sacramental e na prática da caridade “para que todos os discípulos missionários possam, nos sacramentos, dar frutos permanentes de caridade, reconciliação e justiça para a vida do mundo” (Documento de Aparecida, n. 175). A estrutura paroquial deve estar a serviço do apostolado comunitário, mantendo a interação entre os paroquianos, auxiliando toda iniciativa apostólica e missionária da comunidade eclesial. Concorre para isso uma evangelização mais personalizada, aumentando as relações positivas entre as pessoas. O trabalho de gestão, indispensável em qualquer organização, facilita a interação entre paroquianos e possibilita atividades que os envolvam em seus diversos grupos, pastorais, movimentos e serviços. Uma cultura organizacional permite não somente cadastrar os paroquianos, os coordenadores, os agentes de pastoral, as comunidades, as pastorais e movimentos, mas também informá-los sobre o andamento da paróquia, se possível com o uso de mala direta.
Em meio a um processo acelerado de urbanização, as paróquias, especialmente as situadas em grandes centros, necessitam lançar mão de todos os meios que aproximem as pessoas e as mantenham bem informadas.
A paróquia, convocando e formando leigos missionários a serviço do mundo (cf. ibid., n. 171), necessita reformular suas estruturas para que seja uma rede de comunidades e grupos capazes de se articular, conseguindo que seus membros se sintam realmente discípulos e missionários de Jesus Cristo em comunhão (cf. ibid., n. 172).
c) Selecionar os melhores processos de interação
O decreto Apostolicam Actuositatem oferece orientações para que a paróquia possa responder às necessidades das cidades e das regiões rurais que já sofrem a influência da cultura urbana: não confinar sua ação dentro dos próprios limites ou da diocese, mas esforçar-se por estendê-la aos campos interparoquial, interdiocesano, nacional ou internacional.
O projeto de evangelização interparoquial é excelente meio para que as paróquias urbanas atinjam seus fiéis, não definindo limites, mas somando forças. Os encontros interparoquiais (várias paróquias na mesma cidade) oferecem possibilidade de uma evangelização mais pertinente, pois ajudam a conhecer novas realidades, a detectar avanços, acertos e erros comuns. Também neles se elaboram propostas práticas e ações úteis nas soluções de problemas da ação missionária, além de favorecerem maior grau de envolvimento das paróquias, colaborando efetivamente para uma ação evangelizadora no meio urbano.
Fonte: Revista Vida Pastoral
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