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O trabalho dos meios de comunicação católicos não é só uma atividade complementar que se vem juntar às outras atividades da Igreja: a comunicação social tem, com efeito, um papel a desempenhar em todos os aspectos da missão da Igreja. Não é suficiente, também, ter um plano pastoral de comunicação, mas é necessário que a comunicação faça parte integrante de todos os planos pastorais, visto que a comunicação tem, de fato, uma contribuição a dar a qualquer outro apostolado, ministério ou programa(Aetatis Novae, 1992, n. 17).
O que afirma a Instrução Pastoral do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais ajuda a reflexão sobre o binômio pastoral e comunicação. Ao sustentar que o empenho nos meios de comunicação não é simplesmente “uma atividade complementar que se vem juntar às outras atividades da Igreja”, o documento reforça, antes de tudo, que a evangelização não se sente estranha ao mundo da comunicação. Ainda que sejam necessários alguns cuidados para que a comunicação cristã não seja distorcida pelos meios e exigências da comunicação social, afirma-se com força que não existe incompatibilidade absoluta, nem hostilidade permanente entre comunicação e pastoral. Querer justificar o escasso interesse pela comunicação social, com a convicção de que evangelho e comunicação são dois mundos paralelos, poderia constituir, mais que uma prudência pastoral, falta de conhecimento e de zelo apostólico.
Além de afirmar que o encontro entre evangelização e comunicação midiática é possível e fecundo, o texto da Aetatis Novae supera uma visão setorial da pastoral. A comunicação, de fato, não é só uma atividade a ser somada a todas aquelas que a obra da evangelização já inclui. A razão essencial que nos impede de considerá-la unicamente como um âmbito circunscrito novo a ser unido a todos os outros é que “a comunicação tem, de fato, uma contribuição a dar a todos os aspectos da missão da Igreja”. Desse modo, ela já não deve ser identificada apenas com os meios da comunicação social (imprensa, cinema, rádio, televisão, internet…), mas definida como um fenômeno complexo e difuso em toda a sociedade e na Igreja.
Também nesse texto da Aetatis Novae, passa-se de uma visão da comunicação como um conjunto de meios a uma perspectiva mais adequada, que distingue nela uma cultura em contínua reformulação. Com essa certeza, não se pretende minimizar a presença e o papel dos meios de comunicação na sociedade e na Igreja, mas se convida a não absolutizá-los. Seria redutivo pensar que uma pastoral dedicada à comunicação exauriu o seu trabalho quando pôde elencar as editoras católicas, as revistas, as emissoras de rádio e televisão, os bancos de dados de propriedade ou de inspiração católica. Se a comunicação “tem uma contribuição a dar a todos os aspectos da missão da Igreja”, não pode ser confinada entre as atividades práticas de determinada pastoral setorial. A comunicação entendida como cultura é considerada na totalidade da missão de evangelizar.
Já a Instrução Pastoral Communio et Progressio (1971) oferecia uma visão global do interesse pela comunicação por parte da Igreja: “Os meios de comunicação social, portanto, prestam um tríplice serviço à Igreja: possibilitam a sua manifestação ao mundo; promovem, no seio da mesma Igreja, o diálogo; finalmente, põem-na ao corrente da mentalidade das pessoas de hoje, às quais ela deve anunciar o evangelho, mas usando uma linguagem compreensível ao mundo e partindo da problemática que agita o gênero humano” (n. 125). A comunicação se torna assim alternada: a Igreja se comunica ao mundo; os vários componentes da Igreja se comunicam entre si; o mundo comunica à Igreja. Seria, portanto, muito apressado pensar o testemunho cristão na comunicação como simples processo de tecnologias comunicativas ou uma criação de produtos católicos. Sem uma estratégia eclesial global, que valorize a multiplicidade da comunicação, o empenho cristão na comunicação se reduz a um esforço concorrencial no mercado editorial, radiofônico, televisivo…
Seria necessário desenvolver com maior originalidade o que intuiu a Communio et Progressio: “Toda a problemática dos meios de comunicação deve estar presente nas diversas disciplinas teológicas e, de um modo especial, na moral, pastoral e catequética” (n. 108). Levando em conta o desenvolvimento da comunicação nos últimos anos, o convite dessa instrução pastoral deve ser acolhido e ampliado. A moral, a catequese e a pastoral podem beneficiar-se dos aportes da comunicação somente se esta não for reduzida a aprovações e censuras (moral), subsídios (catequese), tecnologias e produtos (pastoral)…
Se acolhermos em profundidade as indicações de João Paulo II na Redemptoris Missio(1990, n. 37), teremos a coragem de considerar a comunicação como uma cultura que requer um esforço gigantesco: repensar, reexprimir a totalidade do anúncio evangélico, na totalidade da cultura da comunicação. O apelo missionário de João Paulo II é amplo e requer empenho: “Não é suficiente usá-los [os meios de comunicação] para difundir a mensagem cristã e o Magistério da Igreja, mas é necessário integrar a mensagem nesta ‘nova cultura’, criada pelas modernas comunicações” (n. 37c). Somos, portanto, convidados a uma operação global de inculturação do evangelho na comunicação, não a uma expropriação da comunicação, para enquadrá-la na linguagem de outra situação cultural.
Quando se constata que “os meios de comunicação social podem e devem ser instrumentos ao serviço do programa de reevangelização e de nova evangelização da Igreja no mundo contemporâneo” (Aetatis Novae, 11), é preciso, antes de tudo, assimilar o programa traçado por João Paulo II para a inculturação da fé na comunicação. Para que a comunicação na pastoral não seja reduzida a instrumentos de uma propaganda religiosa com linguagem e conteúdos anacrônicos, mas seja a elaboração de formas atuais, com as quais se pode deixar transparecer o testemunho da fé, é necessário ter a humilde audácia de inculturar a fé na cultura da comunicação e respeitar a sua autonomia expressiva.
Fonte: Revista Vida Pastoral
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