ACONTECE NA IGREJA Amor Bíblia Carmelitas Carmelo Catecismo Catequese Catequista Catequistas CNBB Coronavírus Deus ESPAÇO DO LEITOR Espiritualidade Espírito Santo Eucaristia Família Formação Fé Igreja Jesus juventude Maria MATÉRIA DE CAPA Natal Nossa Senhora do Carmo O.Carm. Ocarm Oração Ordem do Carmo Papa Francisco Pentecostés provocarmo Páscoa Quaresma Reflexão SANTO DO MÊS Sociedade Somos Carmelitas somoscarmelitas São Martinho Vida vocacional Vocação vocação carmelita
Caros sacerdotes,
A Jornada de Santificação do Clero 2018, na Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, nos oferece uma ocasião para pararmos diante da presença do Senhor, para renovar a memória do nosso encontro com Ele e, assim, revigorar a nossa missão a serviço do povo de Deus. Não devemos nos esquecer, de fato, que o fascínio da vocação que nos atraiu, o entusiasmo com o qual escolhemos de caminhar na vida da especial consagração ao Senhor e os prodígios que vemos na nossa vida presbiteral têm origem no olhar de Deus a cada um de nós.
Todos nós, de fato, “tivemos em nossa vida qualquer encontro com Ele” e, cada um de nós, pode fazer a própria memória espiritual e retornar a alegria daquele momento “no qual sentiu que Jesus olhava”. (Papa Francisco, homilia na Santa Marta, 24 de abril de 2015).
Também os primeiros discípulos viveram a alegria da amizade com Jesus, que mudou para sempre suas vidas. Todavia, depois do anúncio da paixão, sobre seus corações se estendeu um véu de obscuridade que escureceu o caminho. O ardor da sequela, o sonho do Reino de Deus inaugurado pelo Mestre e os primeiros frutos da missão se encontram agora com uma realidade dura e incompreensível, que faz vacilar a esperança, alimentar as dúvidas e arriscou de apagar a alegria do anúncio do Evangelho.
É quando pode acontecer sempre, também na vida do sacerdote, a grata memória do encontro inicial, alegria da sequela e o zelo do ministério apostólico, talvez levado adiante por anos e em situações não sempre fáceis, podem ceder o passo ao cansaço ou a falta de coragem, fazendo avançar o deserto interior da aridez envolvendo a nossa vida sacerdotal na sombra da tristeza.
Neste momento, porém, o Senhor, que não esquece nunca a vida dos seus filhos, nos convida a subir com Ele ao monte, como fez com Pedro, Tiago e João, transfigurando-se diante deles. Conduzindo-os ao alto e à margem, Jesus cumpre com eles a maravilhosa viagem da transformação: do deserto ao Tabor e da escuridão a luz.
Caros sacerdotes, precisamos, a cada dia, ser transfigurados de um encontro sempre novo com o Senhor que nos chamou. Deixar-se conduzir ao alto e permanecer a margem com ele não é um dever de trabalho, uma prática exterior ou uma inútil subtração de tempo à incumbência do ministério, mas a fonte que jorra em nós para impedir que o nosso eis-me aqui seque e murche.
Contemplando a cena evangélica da transfiguração do Senhor, agora, podemos colher três pequenos passos, que nos ajudam a confirmar a nossa adesão ao Senhor e a renovar a nossa vida sacerdotal: subir ao alto, deixar-se transformar e ser luz para o mundo.
1. Subir ao alto, porque se permanecemos sempre centrados no fazer, arriscamos de nos tornar-nos prisioneiros do presente, de sermos sugados das incumbências cotidianas, de permanecer excessivamente centrados em nós mesmos e, assim, de acumular cansaços e frustrações que poderiam ser letais. Ao mesmo modo, subir ao alto é o antídoto àquelas tentações da mundanidade espiritual que, também atrás das aparências religiosas, nos afastando de Deus e dos irmãos, nos fazem recolocar as seguranças das coisas do mundo. Precisamos, ao contrário, de imergir-nos a cada dia no amor de Deus, em especial através da oração. Subir ao monte nos recorda que a nossa vida é um subir constante em direção a luz que vem do alto, uma viagem em direção ao Tabor da presença de Deus, que abre horizontes novos e surpreendentes. Esta realidade não deseja nos afastar dos empenhos de pastorais e dos desafios cotidianos que nos pressionam, mas pretende recordar-nos que Jesus é o centro do ministério sacerdotal, e que tudo podemos somente naqu’Ele que nos fortalece (Fl 4,3). Por isso, a subida dos discípulos em direção ao monte Tabor nos induz a refletir sobre a importância de destacar-se das coisas mundanas, para cumprir um caminho em direção ao alto e contemplar Jesus. Se trata de preparar-nos a escuta atenta e orante de Cristo, o Filho amado do Pai, buscando momentos de oração que permitam acolhida dócil e alegre da Palavra de Deus (Papa Francisco, Ângelus, 6 de agosto 2017).
2. Deixar-se transformar, porque a vida sacerdotal não é um programa onde tudo está organizado com antecedência ou um trabalho burocrático que se desenvolve segundo um esquema pré-estabelecido; ao contrário, essa é a experiência viva de uma relação cotidiana com o Senhor, que nos faz tornar sinais do seu amor com o povo de Deus. Por isso, “não podemos viver o ministério com alegria sem viver momentos de oração pessoal, face a face com Senhor, falando, conversando com Ele” (Papa Francisco, encontro com os párocos de Roma, 15 de fevereiro 2018). Nesta experiência, somos iluminados pelo rosto do Senhor e transformados com a sua presença. Também a vida sacerdotal é um “deixar-se transformar” da graça de Deus porque o nosso coração torna-se misericordioso, inclusivo e compassivo como o coração de Cristo. Se trata simplesmente de ser, como nos recordou recentemente o Santo Padre, dos “padrões normais, simples, mansos, equilibrados, capazes de deixar-se constantemente regenerar-se pelo espírito” (Papa Francisco, homilia com celebração eucarística junto aos Missionários da Misericórdia, 10 de abril de 2018). Esta restauração vem antes de tudo através da oração, que muda o coração, transforma a vida: cada um de nós se torna aquele que reza. É bom recordar, nesta jornada de santificação, que “a santidade é feita de abertura habitual à transcendência, que se exprime na oração e na adoração. O santo é uma pessoa do espírito orante, que precisa de comunicar-se com Deus” (Papa Francisco, Gaudete et Exsultate, n. 147). Subindo ao monte, seremos iluminados com a luz de Cristo e poderemos descer ao vale, levar a todos a alegria do Evangelho.
3. Ser luz para o mundo, porque a experiência do encontro com o Senhor nos envia na estrada do serviço aos irmãos, a sua Palavra rejeita de ser fechada na privacidade da devoção pessoal e no perímetro do tempo e, sobretudo, a vida sacerdotal é uma chamada missionária, que exige a coragem e o entusiasmo de sair desse mesmo para anunciar ao mundo inteiro o que ouvimos, vemos e tocamos com a nossa experiência pessoal (cf. 1Jo 1,1-3). Fazer conhecer aos outros a ternura e o amor de Jesus, por que cada um possa ser alcançado da sua presença que liberta do mal e transforma a existência, é o primeiro trabalho da Igreja e, por isso, o primeiro grande empenho apostólico dos presbíteros. Um desejo que devemos cultivar é aquele de “ser padres capazes de levantar no deserto do mundo o sinal da salvação, isto é a cruz de Cristo, como fonte de conversão e de renovação para toda a comunidade e para o mundo” (Papa Francisco, homilia na celebração eucarística com os Missionários da Misericórdia, 10 de abril de 2018). O fascínio do encontro com o Senhor deve encarnar-se em um empenho de vida a serviço do povo de Deus que, progredindo constantemente no vale escuro das fadigas, do sofrimento e do pecado, precisa de pastores luminosos e radiantes como Moisés. De fato, “ao término da experiência admirável da transfiguração, os discípulos desceram do monte” (cf. v.9). É o percurso que podemos cumprir também nós. A redescoberta sempre mais viva de Jesus não é um fim a si mesma, mas nos induz a “descer do monte “… transforma-te da presença de Cristo e do ardor da sua palavra, seremos sinal concreto do amor vivificante de Deus para todos os nossos irmãos, especialmente para quem sofre, pelos que se encontram na solidão e no abandono, para os doentes e para a multidão de homens e de mulheres que, em diversas partes do mundo, são humilhados pela injustiça, pela prepotência e pela violência” (Papa Francisco, Ângelus, 6 de agosto de 2017).
Caros sacerdotes, a beleza deste dia, consagrado ao Coração de Jesus, possa fazer crescer em nós o desejo da santidade. A Igreja e o mundo precisam de sacerdotes santos! O Papa Francisco, na nova Exortação Apostólica sobre a santidade, “Gaudete et Exsultate”, chamou a memória dos sacerdotes apaixonados no comunicar, de anunciar o Evangelho, afirmando que “a Igreja não precisa de tantos burocráticos e funcionários, mas de missionários apaixonados, devorados do entusiasmo de comunicar a verdadeira vida. Os santos surpreendem, se deslocam, porque suas vidas chamam a sair da mediocridade tranquila e anestesiante” (Papa Francisco, “Gaudete et Exsultate”, n.138). Será necessário cumprir, antes de tudo interiormente, este caminho de transfiguração: subir ao monte, deixar-se transformar no Senhor, para depois se tornar luz para o mundo e para as pessoas que nos são confiadas. Possa Maria Santíssima, mulher luminosa e mãe dos sacerdotes, acompanhá-los e protegê-los sempre.
Cardeal Beniamino Stella – Prefeito da PONTIFÍCIA Congregação para o Clero
Dom Joel Mercier – Arcebispo titular de Rota – secretário
Jorge Carlos Patrón Wong – Arcebispo-bispo emérito de Papantla – secretário
Comments0