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Hoje você lerá mais um capítulo da série que trata dos desafios e oportunidades da formação dos catequistas. A segunda edição do tema abordará a “via inversa” do catequista acompanhante e formador. Leia, lembrando-se de que este conteúdo foi publicado originalmente no portal Material de Catequese:
À luz destas análises, gostaria de sublinhar como a questão do catequista e do seu serviço se coloca de forma diferente consoante se encontre numa situação de cristandade, numa situação de secularização no contexto cultural cristão mas ainda com traços de tradição cristã ou numa situação de secularização total.
a) Numa situação de cristandade, onde a fé avança de “per si”, o objetivo da catequese, que pode contar com uma “iniciação sociológica na fé”, é apenas providenciar a gramática do que se vive difusamente. Portanto, o acento deve incidir sobre os conhecimentos e a noção de conteúdo que se identifica com a doutrina. A formação do catequista será, pois, centrada no “saber” da fé.
b) Numa situação de continuidade sociológica parcial da fé, embora já no meio de uma secularização de mentalidades, pode-se contar com um certo conhecimento e uma certa prática. Mas a vida das pessoas passa ao lado da fé. O problema da fé torna-se a unidade entre a vida e a fé e a sua maior preocupação é mostrar que a fé (os seus dogmas, as suas práticas, os seus ritos, as suas tradições, etc.) é uma boa nova para a vida. A catequese antropológica encarrega-se desta preocupação. A competência do catequista consiste em assegurar um esforço correlativo entre as experiências fundamentais da fé e a experiência das pessoas.
c) O que acontece num contexto de exculturação da fé e, consequentemente, à catequese da proposta e do primeiro anúncio? Como enfrentar a formação dos catequistas nesta perspectiva missionária?
Em 1912, um bispo italiano, (Bonomelli, bispo de Crémone), respondia a um questionário apresentado pelo Papa Pio X a propósito do seu catecismo (o catecismo de Pio X, de perguntas e respostas, que conhecemos bem):
“ Tenho a convicção – escrevia – que o catecismo deve ser radicalmente modificado na forma. Os catecismos tradicionais seguem um método que deve ser afastado. Os sábios, que contemplam as verdades já organizadas no seu espírito segundo um dado esquema, são levados a expô-las aos outros com o mesmo sistema de teses e fórmulas, esquecendo a via que tiveram de percorrer para as aprender desde a primeira vez, a “via inversa”…”
Afinal, o que vem a ser esta “via inversa”?
Retomo aqui uma intuição de François Bousquet. Diz que a profissão de fé contida no Símbolo “pertence à ordem da exposição. É válida para quem é cristão, para quem se reconheça nela, para quem a possa compreender. Contrariamente, eu acho que o primeiro anúncio deve dizer aquilo em que se acredita, na ordem da descoberta. E aí, o movimento é inverso. Na ordem da descoberta tudo começa com o Amen da vida de crente. A partir dessa palavra pode-se então restabelecer essa experiência do Espírito com a identificação como Espírito de Jesus que, sem cessar, nos reenvia ao Pai, e assim a ordem da exposição é percorrida em sentido inverso, tal como a fé enunciada no Credo. Par enfrentar um primeiro anúncio, é necessário passar da enunciação dos objectos da fé recitados no Credo à experiência da fé levada por um corpo que a faz ver, ouvir e tocar”.
Esta intuição permite-nos abordar de uma outra forma a formação de catequistas. Numa lógica catecumenal, a fé dá-se no coração de uma experiência com todos os seus registos. A fé, nesta lógica, é assimilada num caminho que é uma escola de vida cristã, inductivamente e não deductivamente.
O que é que isto pode significar para a formação dos catequistas? Com efeito, os nossos catequistas, e nós também, fomos formados para educar uma fé que já lá estava. Precisamos imaginar um percurso de formação para catequistas que saibam percorrer a “via inversa” da catequese de iniciação. Temos de confessar que ainda não conseguimos um tal modelo de formação.
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