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A Pedagogia de Jesus é a da pergunta que “des-vela”, que nos coloca diante do mistério de nossa vida, de nossas opções, de nossa fé…; pergunta que nos move a entrar no mais profundo de nós mesmos e encontrar-nos com a fonte que mana e corre. É através das perguntas que Jesus nos abre acesso às nossas reservas interiores de criatividade e imaginação.
De fato, a força criativa de suas perguntas, põe em movimento grandes dinamismos de vida do ser humano; debaixo do modo paralisado e petrificado de viver, existe uma possibilidade de vida nova nunca posta em movimento. Jesus, ao destravar a interioridade de cada um, reconstrói “pessoas quebradas” e presas ao passado. As perguntas que Ele faz consistem em libertar o ser humano de sua inatividade e dar-lhe capacidade de ação. Isso implica em abandonar a estreiteza da vida e deixar o coração bater no ritmo do seu coração compassivo.
São as perguntas que, com frequência, nos despertam. Se deixarmos de nos perguntar, o fogo vai se apagando. As perguntas são como a lenha que adicionamos ao fogo. As grandes perguntas permanecem dentro de nós, como uma brasa ardendo. Quando nos perguntamos a nós mesmos, algo se inquieta dentro de nós, o fogo se aviva, brota um impulso que nos desinstala e nos move a buscar o novo. Quem tem medo das perguntas, acovarda-se e fecha-se numa vida sem criatividade e sem busca. Quem não se pergunta é porque quer viver tranquilo, sem necessidade de mudança alguma.
Há perguntas inofensivas, fáceis de responder e que não nos comprometem. O problema está quando nos fazem perguntas nas quais nos sentimos implicados. Há perguntas que parecem ser de pesquisas; e há perguntas que nos desvelam por dentro. Há perguntas secundárias sobre as quais podemos dizer qualquer coisa. E há perguntas essenciais que nos movem a falar de nós mesmos. E essas perguntas doem porque são perguntas que desnudam o fundo de nosso coração. São perguntas que nos implicam naquilo que somos realmente.
O perguntar é ousado, instigante; perguntar contém desafio, provocação; leva dose de irreverência. “Perguntar é mergulhar no abismo” (Exupèry). As perguntas têm uma força que não encontramos nas respostas. Somente enquanto perguntamos por Alguém, palpita em nós um impulso, um interesse que não se apaga enquanto não sacia nossa curiosidade.
A pergunta é movimento, emerge a novidade, ativa a busca por uma resposta criativa. Mais ainda, perguntar põe em crise certas convicções, ideias fechadas, modos arcaicos de viver… e nos mantém em busca permanente.
É neste nível que surge a pergunta de Jesus aos discípulos, na região de Cesaréia de Filipe. Ele não pergunta aos seus discípulos sobre o que pensam a respeito do Sermão da Montanha ou sobre sua atuação curativa juntos aos doentes da Galiléia. Para seguir Jesus, o decisivo é a adesão à sua Pessoa. Por isso quer saber o que eles pensam e sentem, depois de um tempo de convivência com Ele.
Jesus propõe a pergunta fundamental, “e vós, quem dizeis que eu sou?”; uma pergunta exigindo que eles se examinem a sério, que tomem consciência do que pretendem, que explicitem as reais motivações que os levam a segui-lo. Responder à pergunta “Quem sou eu para vocês?” é fazê-los comprometer com um novo estilo de vida, é assumir o novo caminho com Ele, é arriscar-se numa aventura.
A pergunta é desafiadora, e não simples curiosidade e inquietação, e se dirige a todos. Cada um tem de dar sua resposta. Ela exige uma tomada de posição, um ato de fé.
É importante para Jesus saber o que as pessoas pensam d’Ele. Mas é possível que isso fosse apenas uma introdução para a segunda pergunta. De modo particular, a Jesus lhe interessava não tanto saber o que sabiam ou pensavam, mas “quê significava Ele para eles?”
É a pergunta que todos deveríamos nos fazer: não o quanto sabemos d’Ele, nem quê doutrinas ou teorias sobre Ele seguimos, nem qual é a nossa teologia sobre Ele. Para Jesus lhe interessa mais “o significado, o sentido de Sua Vida em nossas vidas”.
Muitas vezes a própria comunidade cristã está muito preocupada com a “ortodoxia doutrinal” e não se preocupa em fazer sua a Vida de Jesus. Há mais condenações doutrinais que condenações de falta de vivências. É preciso “mais evangelho e menos doutrina” (papa Francisco).
A fé implica ideias e doutrinas. Mas a fé não é crer em doutrinas; é crer em “Alguém”; e crer em Alguém que seja o centro de nossas vidas, em Alguém que inspira as nossas vidas, em Alguém que dê sentido ao que fazemos e como fazemos.
Começamos a ser cristãos quando nos deixamos impactar pela pessoa de Jesus e decidimos seguir seus passos e viver como Ele viveu. Podemos saber muita teologia sobre Jesus e ter uma vivência d’Ele muito pobre. O que importa é o “Jesus vida e na vida”.
Todos estamos seguros de que Jesus é o centro de nossas vidas, mas não nos atrevemos a nos questionar por dentro. Com isso, nosso seguimento vai se esvaziando e se tornando pura normatividade. Para aprofundar nossa fé em Jesus, é preciso nos perguntar constantemente por ela: quê significado Ele tem em nossas vidas? Quê implicações tem no nosso cotidiano o modo de ser e de viver de Jesus? Porque não basta dizer que cremos nele; é preciso perguntar-nos: em quê Jesus cremos e quem é Ele para nós? Tal pergunta nos conduz a uma identificação com o estilo de vida d’Ele.
Mas hoje, talvez num gesto de ousadia e atrevimento, poderíamos inverter as perguntas. No Evangelho, é Jesus quem pergunta e nós respondemos; agora somos nós que fazemos as perguntas a Jesus. Se Ele está interessado em saber o que os outros pensam dele, também nós estamos interessados em saber o que Ele pensa de nós: “Senhor, quê dizes, quê pensas de mim?”
Talvez, de início, possamos sentir um pouco de medo da verdade que Ele dirá sobre nós. Mas, pensando bem, podemos concluir que Jesus pensa melhor sobre nós que nós sobre Ele. E se nos dá vergonha responder às suas perguntas, certamente que Jesus não sentirá vergonha alguma em responder às nossas.
Aliás, nós estamos mais acostumados a perguntar a Deus que deixar-nos perguntar por Ele. Porque, em tudo o que nos acontece, nossa reação imediata costuma ser sempre: “Por quê, Senhor?”; “por quê aconteceu comigo?”; “por quê não me escutas?”… A agenda de Deus está cheia de nossas perguntas.
Texto bíblico: Mt 16,13-19
Na oração: “Senhor, Tu quê pensas de mim como pessoa? Porque tu me deste a vida não para que a conserve atrofiada mas para que me realize humanamente e chegue a ser uma pessoa livre, madura e comprometida. Tenho amadurecido no amor, chegando a ser essa pessoa que Tu esperas de mim?”
• “Senhor, que pensas e dizes de mim como batizado(a) e teu(tua) seguidor(a)? Sou realmente essa imagem do(a) homem/mulher novo(a) nascido(a) de tua Páscoa?”
• Senhor, que pensas e dizes de mim como: jovem? Esposo(a)? Trabalhador(a)…?”
Como Tu falas ao coração, melhor permanecer em silêncio, que é a melhor maneira de escutar-te.
Pe. Adroaldo Palaoro sj,
Diretor do Centro de Espiritualidade Inaciana – CEI
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