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“O vosso pobre padre vos saúda e vos exorta a perseverardes no amor de Cristo e na fiel observância da lei cristã, como eu vos mostrei com palavras e ações quando estive no meio de vós.”
Não foi difícil ao general Palisse apoderar-se do castelo de Castelnuovo de Quero sobre o rio Piave, não obstante a defesa valorosa do comandante Jerônimo Emiliano ou Miani, que o governava em nome da República de Veneza. Jerônimo teve que se render e foi encarcerado em seu próprio castelo.
Enquanto esperava que os venezianos viessem libertá-lo, ou pelo menos tentassem resgatá-lo, os dias se arrastavam tão lentamente que lhe pareciam eternos.
Na época, tinha 25 anos. Seu pai era senador da Sereníssima [República de Veneza] e sua mãe descendente dos doges. Tinha outros dois irmãos, que também foram adestrados para a arte da guerra e instruídos para a carreira política. Para eles, e particularmente para Jerônimo, tudo estava indo muito bem até que, no famoso dia 27 de agosto de 1511, de uma hora para outra foi preso como se fosse um perigoso delinquente. Recordava sua vida passada: vida amorosa, sempre a cavalgar, comandando e se divertindo.
“SE EU SAIR VIVO DESTE INFERNO”
Era cristão, pois essa era a fé de seus pais, mas, até aquele momento, o Evangelho ainda não lhe tinha despertado nenhum interesse. Pela primeira vez, surgiram na sua consciência perguntas como estas: “Por que passar a vida fazendo guerra, disseminando a miséria e a morte? Por que aumentar estupidamente o número de órfãos e de viúvas?”. Em seu coração tomou uma decisão: “Se eu sair vivo deste inferno, minha vida tomará outro rumo!”.
Tinha apenas amadurecido em si esses pensamentos quando, no começo da noite de 27 de setembro, conseguiu enganar a vigilância dos guardas; em seguida, passou despercebido pelos soldados inimigos e continuou a percorrer caminhos ocultos, mas bem conhecidos deles, distanciou-se do castelo, e se dirigiu a Treviso. Aí, na Igreja de Santa Maria Maior, prometeu à mãe de Jesus gastar o resto de sua vida não mais para fazer as pessoas sofrerem, mas para ajudá-las a viver melhor. Não lhe passava pela cabeça nem de longe entrar para uma ordem religiosa, nem mesmo tornar-se sacerdote, mas queria somente fazer o bem, ficando como era: um simples leigo.
A guerra, no entanto, continuava. Veneza recuperou o castelo e Jerônimo foi reconhecido como administrador. Em 1519, depois da morte de seu irmão Lucas, teve que ir para Veneza e se responsabilizar pela família e pelos três sobrinhos que tinham ficado órfãos. Retornando a Castelnuovo, lá permaneceu até 1527, quando, pela morte de outro irmão, Marcos, retornou definitivamente a Veneza para administrar somente os bens da família e para cuidar de outros três sobrinhos.
Enquanto realizava com empenho seus deveres familiares, amadureceu em seu coração a decisão de se dedicar totalmente ao serviço dos pobres. Começou a colocar à disposição dos pobres os seus bens e a própria moradia. Intensificou essa atividade caritativa nos anos de 1528-29, por ocasião de uma grave carestia.
A ESCOLHA PELOS POBRES
Frequentemente naquele período, enquanto cuidava dos doentes internados nos dois famosos hospitais venezianos, o dos Incuráveis e o de Bersaglio, deparava com crianças órfãs e abandonadas que andavam pelas ruas da cidade como cachorros vira-latas à procura de comida. Decidiu acolhê-las numa casa chamada São Basílio e se empenhou não só em alimentá-las, mas também a dar-lhes educação religiosa e ensinar-lhes profissões.
Em 1529, tendo contato com os doentes de peste, contraiu também a enfermidade. Logo que se curou, abandonou definitivamente a responsabilidade assumida para com seus sobrinhos já adultos. Passou para eles, com registro em cartório, a propriedade e os bens da família, destinou aos pobres a parte de que podia dispor e, pobre entre os pobres, com uma iluminada confiança na providência, deu início àquela que seria a sua divina aventura.
O bispo Carafa – futuro Papa Paulo IV, que em Veneza apoiava são Caetano de Thiene na fundação dos clérigos teatinos –, aconselhou-o a se tornar religioso teatino, mas ele, mesmo tendo estima por aqueles seus amigos, compreendeu que seu caminho era outro e foi morar em São Basílio com os seus órfãos.
TRÊS SANTOS, TRÊS CAMINHOS DIVERSOS
Naquele período, em Veneza, viviam três grandes santos que com seus carismas particulares deram contribuições, até certo ponto determinantes, à renovação da Igreja e da sociedade de seu tempo.
Caetano de Thiene, como já dissemos, fundou a Ordem dos Teatinos que, conservando os valores tradicionais da vida monástica, procurava formar sacerdotes capazes de evangelizar as massas populares.
Inácio de Loyola ainda estava lançando as bases da Companhia de Jesus, que difundiu a luz do Evangelho, sobretudo no mundo das pessoas cultas.
Enfim, o nosso Jerônimo, aparentemente o mais humilde, que sem nenhuma pretensão cultural, e sem se sentir chamado a pregar em público, imiscuía-se nas misérias do povo, particularmente dos órfãos, para dar a todos famílias e futuros dignos do ser humano. Em linguagem atual, dir-se-ia que Jerônimo fazia a opção preferencial pelos pobres.
A OBRA SE DESENVOLVE
Após a experiência positiva em Veneza, os bispos de várias dioceses do Vêneto e da Lombardia convidaram Jerônimo para criar novas fundações caritativas nos seus territórios ou para revitalizar as que já existiam. Em março de 1532, Jerônimo iniciou o seu itinerarium caritatis (caminho da caridade) em Verona, Bréscia, Bérgamo, Como, Milão e Pavia.
Não se ocupou somente com os órfãos, com toda espécie de pobreza, mas também com os idosos abandonados e com as mulheres obrigadas a prostituírem-se por causa da fome ou por outras situações vexatórias.
Onde Jerônimo abria uma casa, encontrava colaboradores e colaboradoras, que ele sabia organizar de modo admirável, mas sabia, sobretudo, transmitir a todos a sua fé na presença de Jesus em cada pobre. O trabalho, porém, a que ele mais se dedicou, e a que deram continuidade depois de sua morte, foi o dos órfãos. Ele queria que aqueles rapazes e moças encontrassem nas suas casas o amor materno e paterno de Deus como se pode experimentar numa verdadeira família cristã. A experiência lhe dizia que isso era possível.
Em 1532, mais uma vez reunindo os fiéis colaboradores em Merone, deu-lhes o nome de Companhia dos Servos dos Pobres e dois anos depois, em Somasca, um povoado perto de Bérgamo, formulou a estrutura jurídica da sua obra; esta tomou o aspecto de uma congregação de clérigos regulares, não sendo ainda possível, pela mentalidade da época, aceitar uma forma leiga de consagração a Deus.
Por causa do nome da cidade, Somasca, os servos dos pobres foram em seguida chamados popularmente como os padres somascos
EVANGELIZAÇÃO E PROMOÇÃO HUMANA
A característica deste fundador está na novidade por ele introduzida na formação dos jovens: não se preocupou somente em lhes oferecer uma residência, dando alimento e ensinando o Catecismo, mas se empenhou em prepará-los profissionalmente, a fim de que pudessem enfrentar a vida com dignidade.
Em seu sistema pedagógico, não separava nunca a formação cristã da humana: a promoção humana era evangelização, pois a prática do Evangelho deveria abrir-lhes ao mesmo tempo as portas do Céu e as do mundo. Daí se explica a expansão que teve a sua congregação.
A morte surpreendeu Jerônimo no dia 8 de fevereiro de 1537, em Somasca, tendo contraído novamente a doença da peste enquanto socorria os enfermos dessa cidade.
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