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Centenas de participantes estão reunidos com o Papa Francisco no Sínodo dos Bispos, em Roma, para refletir uma realidade que diz respeito a todos: a família. A instituição familiar exige das organizações governamentais e não governamentais, segmentos todos da sociedade, especial atenção. A família – alicerce da vida pessoal, comunitária e social – não deve ser tratada de qualquer maneira. Por isso, a Igreja, de modo comprometido e sério, debruça-se sobre a família, em uma escuta ampla, sensível a diferentes culturas. Considera os muitos desafios e problemas, iluminando-os com sua sólida e inegociável doutrina.
A retomada indispensável de referências doutrinais não deve ser entendida como um enrijecimento diante das mudanças que marcam a cultura contemporânea. A doutrina cristã católica sobre a família não é uma “camisa de força”. É um horizonte norteador que qualifica a Igreja no exercício de sua missão. Desse patamar seguro, pés firmados na verdade e no amor, podem ser enfrentados os enormes desafios que estão afetando a vida familiar na atualidade, a realidade na casa de cada um de nós.
Ilusório, obviamente, seria pensar em mudança doutrinal diante de valores inegociáveis que alicerçam a família. Essa base é referência imprescindível para encontrar as respostas novas, que permitam a qualificação indispensável de homens e mulheres para cumprirem sua tarefa e missão como integrantes de grupos familiares. Iluminada por esses valores, as famílias tornam-se caminhos novos que levam a sociedade a afastar-se de suas muitas decadências.
Por ser tão determinante, uma realidade complexa, a família reúne também um conjunto complexo de pautas a serem profundamente analisadas. É importante pensá-la a partir das diferentes perspectivas científicas, considerar as muitas culturas, necessidades e as profundas mudanças na contemporaneidade. A Igreja sabe do enorme desafio que é buscar caminhos para que essa instituição continue a ser lugar de processos educativos determinantes na formação de cidadãos. Muito importante é a compreensão e indispensável é o respeito à natureza cristã da família, quanto à sua formação e ao seu funcionamento. Trata-se de clarividência e fidelidade que contribuem para fazer dessa realidade relacional um ambiente melhor e que ajude as pessoas no exercício de tarefas cidadãs, com respeito a princípios éticos e morais. Uma escola que também forma líderes capazes de impulsionar a sociedade na direção do bem, da justiça e da paz.
É preciso compreender a família na sua configuração antropológica, iluminada pela claridade de valores inegociáveis que definem os seus rumos como lugar de determinantes processos educativos. Ora, a experiência familiar pode fazer avançar a humanidade ou comprometê-la, pois formata a assimilação de modelos que orientam dinâmicas do cotidiano, as condições de inserção em processos sociais e políticos. As instituições e instâncias todas da sociedade têm grande responsabilidade quanto ao tratamento dado à família e ao que define a sua essencialidade. O Sínodo dos Bispos é a Igreja Católica iluminando-se em inesgotável fonte de tradição e valores para encontrar caminhos no enfrentamento de intrincados desafios morais e existenciais, a partir da sua tarefa missionária, espiritual e humanitária.
Nessa missão, a Igreja, conforme afirma o Papa Francisco, se insere como um “hospital de campanha”, em plena guerra de ideologias e de perigosas relativizações. Acolhe os feridos para qualificar homens e mulheres no desempenho de tarefas educativas vivendo o amor e por amor, à luz da fé. Busca, assim, fazer com que cada casa, lugar sagrado, seja antídoto para a deterioração da sociedade contemporânea. Modelos rígidos, pouco humanistas, laxistas ou moralistas, incapazes de considerar cada pessoa como única, sem abertura à solidariedade, e com o cultivo suicida do fechamento à espiritualidade, manterão vidas em prisões a céu aberto.
Orientada por sua sólida doutrina, a Igreja Católica se desafia para encontrar modos e dinâmicas que façam da vida familiar um lugar capaz de formar homens e mulheres marcados pelo humanismo. Não se trata absolutamente de mudanças de práticas burocráticas, ou de relativizações pelas fragilidades da cultura contemporânea. Com a iluminação teológica e da fé, em estreita fidelidade a princípios e valores, a Igreja Católica busca, assim, contribuir para que a sociedade não se acomode nos parâmetros da mediocridade. Todos devem investir para que a família, cada vez mais, seja a grande escola da educação, da santidade e da vida. De pequenas a significativas intervenções, dinâmicas precisam ser intuídas a partir da cooperação e empenho de cada pessoa. Eis o desafio. São muitas as pautas sobre a família.
Por Dom Walmor Oliveira de Azevedo – Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte
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