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“Fizeste resplandecer em Francisca as virtudes de esposa e de mãe e na sua oblação
consagraste-a com todos os teus dons.”
Os anos do cisma do Ocidente (1378-1449) foram tempos difíceis para Roma. Quando o Papa retornou de Avignon, lá ficou um Antipapa e pouco depois surgiu outro com a pretensão de ser o legítimo sucessor de Pedro. A cristandade ficou desorientada a tal ponto que nem mesmo os santos, como São Vicente Ferrer, conseguiam reconhecer quem era o verdadeiro Papa.
Em tal situação deplorável, o Estado pontifício e, de um modo especial, a cidade de Roma estavam politicamente abandonados e economicamente falidos. Por três vezes ocupada por Ladislau de Durazzo, rei de Nápoles, foi posta a ferro e fogo e, como sempre acontece nessas circunstâncias, foram os pobres os que mais sofreram. Nesse ambiente e em tal dilaceração da história desenvolve-se a vida de Francisca Bussa ou de Buscis.
SANTA, MAS EM FAMÍLIA
Nascida em 1384 de família nobre, teve uma educação esmerada para uma criança de seu tempo. Entendia de arte, literatura e conhecia muito bem a Divina comédia. Cristã convicta, admirava a vida dos mosteiros, mas seu caminho foi o Matrimônio. Segundo o costume do tempo, casou-se ainda muito jovem, aos 13 anos, com um outro nobre, Lourenço Ponziani. Os Ponziani viviam n um luxuoso palácio em Trastevere, junto à Igreja de Santa Cecília, e ocupavam cargos importantes no Estado pontifício.
Francisca se adaptou muito bem à nova família, estabelecendo ótimo relacionamento não só com os sogros, mas também com o cunhado e com a sua mulher, Vannozza. Esta tinha um caráter particularmente difícil, mas, depois de ter hostilizado Francisca, deixou-se conquistar pelo seu amor e se tornou uma fiel colaboradora nas obras de atendimento em favor dos pobres. Francisca desempenhava muito bem o seu papel de mulher da nobreza sem se deixar ir atrás das vaidades daquele mundo. Teve três filhos, que amou com muito carinho, mas somente um chegou à idade adulta.
Quando Roma foi ocupada, saqueada e atingida pelas angústias da fome e golpeada pelo flagelo da peste, enquanto os grandes afiavam as armas e os homens da Igreja discutiam sobre a superioridade ou não do concílio ecumênico sobre o Papa, Francisca arregaçou as mangas e, sem perder tempo, abriu as portas do celeiro e da adega e junto com sua cunhada Vannozza e outras damas da nobreza romana organizou a assistência aos pobres. Frequentemente conduzia um burrinho carregado de lenha ou de alimentos e passava de casa em casa para distribuí-los aos pobres; visitava os doentes e os confortava, preparando com suas próprias mãos os remédios para lhes amenizar a dor.
AS OBLATAS OLIVETANAS
Enquanto se doava incansavelmente às obras de caridade, o Senhor lhe favorecia com iluminações celestes que ela submetia humildemente a seu confessor para depois comunicá-las às suas amigas e colaboradoras. Estas seguiam seu exemplo e, permanecendo cada uma na própria casa, empenhavam-se em viver as virtudes monásticas e se doar aos pobres. Em 1425, constituíram-se em associação e se chamaram oblatas olivetanas, pois frequentavam a igreja dos monges beneditinos olivetanos, e se inspiraram nessa espiritualidade. Em 1433, tornou-se uma congregação religiosa de vida comum e foram morar em um edifício em Tor de’ Specchi (Torre dos Espelhos).
Francisca as acompanhou em 1436, após a morte do marido, depois de quarenta anos de vida matrimonial vivida na mais plena harmonia. O esposo foi comandante das tropas pontifícias e foi ferido gravemente enquanto defendia Roma contra Ladislau de Nápoles, permanecendo inválido pelo resto da vida, mas cercado do afeto da mulher e do filho.
UMA ALMA DA IGREJA
Francisca passou os últimos quatro anos de vida no convento onde foi eleita superiora e se dedicou, sobretudo, a três tarefas: formar as suas filhas segundo as luzes que Deus lhe dava, dar-lhes o exemplo nas obras de misericórdia a que eram chamadas e orar pelo fim do cisma na Igreja.
Morreu no dia 9 de março de 1440. Os cronistas daquele tempo afirmam que toda a cidade fez parte do seu funeral, que já a chamava com a doce invocação de “Santa Francisca Romana”. A Igreja reconheceu oficialmente sua santidade no ano de 1608.
Quando Paulo V perguntou ao Cardeal Roberto Belarmino se achava oportuno que Francisca Romana entrasse para o calendário universal da Igreja, recebeu o parecer favorável com esta motivação: “Ela pode ser exemplo de virtude para todas as idades e a cada estado de vida”.
Na bula de canonização se diz que ela, com suas orações e sacrifícios, apressou o fim do cisma do Ocidente.
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