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Educar é um ato eminentemente humano. Existe em cada um de nós uma profunda sede de aprender e de ensinar. Educar é também uma ação divina, as Sagradas Escrituras mostram a história de um Deus que educa o seu povo e caminha com ele. Nas ações de Jesus sempre encontramos um caminhar educativo.
Atenta a essa realidade, a Igreja do Brasil escolheu o tema da educação para ocupar as reflexões da Campanha da Fraternidade (CF) 2022. “Fraternidade e educação” é o tema desta edição e o lema é “Fala com sabedoria, ensina com amor” (Pr 31,26).
Há quase sessenta anos a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) propõe às comunidades eclesiais a Campanha da Fraternidade como um exercício espiritual do Tempo Quaresmal.
Pela terceira vez, o tema da educação é abordado numa campanha. A primeira vez foi em 1982, a segunda, em 1998, e agora, em 2022, porém, desta vez com o enfoque sobre o Pacto Educativo Global, proposto pelo Papa Francisco.
A proposta da Campanha da Fraternidade 2022 é promover um diálogo sobre a realidade educativa no Brasil, à luz da fé cristã, propondo caminhos em favor do humanismo integral e solidário.
Além disso, buscará refletir sobre o papel da família, da comunidade de fé e da sociedade no processo educativo com a colaboração das instituições de ensino e incentivar propostas educativas que, enraizadas no Evangelho, promovam a dignidade humana, a experiência do transcendente, a cultura do encontro e o cuidado com a casa comum.
Em entrevista, o Padre Patriky Samuel Batista, secretário-executivo de Campanhas da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, discorreu sobre o objetivo da Campanha da Fraternidade 2022 em despertar a solidariedade nos fiéis em relação a um problema concreto que envolve a sociedade brasileira, buscando caminhos de solução à luz do Evangelho: “A Campanha da Fraternidade nos convida a imitar a misericórdia do Pai repartindo o pão com os necessitados, fortificando nosso espírito fraterno. A Igreja nos pede para incluir no caminho de preparação para a Páscoa, que exige de nós verdadeira conversão e compromisso missionário, uma reflexão sobre o tema educação”.
Segundo o secretário, que está à frente da Campanha da Fraternidade desde 2019, uma das contribuições da de 2022 para uma educação a serviço da comunidade é a proposta de reflexão sobre a importância de pensar e dar início a bons processos educacionais que coloquem a pessoa no centro. O grande foco é pensar a educação de forma integral, além de recuperar experiências da tradição cristã católica que possam iluminar os inúmeros desafios do tempo presente.
Por meio do tema e lema escolhidos, o Texto-base da Campanha da Fraternidade 2022 convida todos a refletir sobre a indispensável relação entre fraternidade e educação, recordando que educar não é um ato isolado, mas, ao contrário, é encontro em que todos são educadores e educandos.
O documento se inspira na missão educacional de cada pessoa, da família, da escola, da Igreja e de toda a sociedade: “Não há dúvidas de que a qualidade da educação depende da participação de todos os atores envolvidos em um clima de apoio e solidariedade” (Texto-base, 269).
Em todos os tempos, os educadores tiveram desafios inerentes ao contexto social, político e econômico, entre outros. Um dos maiores desafios enfrentados por toda a sociedade é a atual pandemia da covid-19 (do inglês coronavirus disease-19, doença do coronavírus surgida em 2019). Rotinas foram interrompidas, sonhos adiados, mortes de pessoas queridas, mais de 630 mil vidas perdidas. O período pandêmico intensificou processos e gerou novas realidades para toda a sociedade.
Nestes últimos dois anos foi preciso se reinventar, redescobrir e ousar criativamente novos caminhos também para a educação: pais que tiveram que acompanhar mais de perto a vida educacional dos seus filhos, o ensino remoto e os desafios de uma boa conexão de internet, assim também como os educadores tiveram que se adaptar à nova realidade educacional.
Orlando Caldeira de Farias Júnior é professor de Geografia da educação básica na rede pública de ensino em Guarulhos, região metropolitana de São Paulo, e falou sobre sua experiência como educador nos tempos atuais: “A pandemia trouxe-me um mundo de possibilidades: poder trabalhar remotamente e mostrar que a educação não tem fronteiras. Conhecemos novas ferramentas e subsídios que auxiliam nosso cotidiano em sala de aula, mas também serviu para mostrar quão desafiador é a realidade brasileira”.
Problemas de estudantes sem internet em casa, ou usando celular partilhado entre irmãos, são fatores que atrapalharam o desenvolvimento dos alunos: “Acredito que essa defasagem no aprendizado será futuramente tratada como desenvolvimento cognitivo, mas, na verdade, trata-se da perversidade global que afeta a educação nos países distantes dos centros globais. Esse é o desafio: a consequência após a causa pandêmica e tentar recuperar essa seara na defasagem de conteúdos”, comenta o educador.
É dentro do seu próprio lar que ele divide as alegrias e as angústias inerentes da profissão com sua esposa Ellen Cristina dos Santos Oliveira, também professora, da disciplina de História na rede pública em Guarulhos. Em entrevista, Ellen falou sobre sua experiência na pandemia: “Meu maior desafio foi então a minha mais simples obrigação: ensinar História aos nossos jovens. Nesse período lecionei para estudantes que precisaram deixar a própria educação de lado para trabalhar, ajudar em casa e sobreviver, assim como lecionei para crianças que durante o período de isolamento passaram por violências, necessidades e perdas. Foi preciso muita persistência e argumentação para trazê-los de volta aos estudos”.
Esse cenário apresentado pelo casal de professores vem ao encontro do apontamento das últimas pesquisas em torno do cenário escolar do país. Em 2021 foram contabilizados 46,7 milhões de matrículas nas 178,4 mil escolas de educação básica no Brasil, 627 mil matrículas a menos em comparação com 2020. Entre os anos 2019 e 2021, a rede privada teve uma redução de 10%. No mesmo período, a rede pública teve uma redução de 0,5%. Os dados são do Censo Escolar da Educação Básica 2021, divulgado em 21 de janeiro de 2022 pelo Ministério da Educação. Os números refletem mudanças na estrutura da sociedade, o medo dos pais em relação ao coronavírus e os impactos da crise econômica associada à pandemia.
O Pacto Educativo Global é um chamado do Papa Francisco para que todas as pessoas no mundo, instituições, religiões e governos priorizem uma educação humanista e solidária como modo de transformar a sociedade.
Se para educar uma criança é preciso de uma aldeia inteira, nessa mesma aldeia existem os atores fundamentais para esse processo: a família, a igreja, a escola e a sociedade. É preciso que cada um desses agentes atue com coragem ao colocar a pessoa no centro do processo educativo, como cita um dos objetivos da Campanha da Fraternidade 2022 e também do apelo do Sumo Pontífice.
André Luiz Milani é professor de Filosofia na rede pública em São Paulo (SP) e em entrevista falou sobre a promoção de uma educação comprometida a serviço da vida humana, em especial, dos mais pobres: “É necessária uma ação educativa global, que inclua todos os valores e passe por todas as dimensões, para que a vida aconteça em sua plenitude. Como dizia Jesus, ‘Eu vim para que todos tenham vida e a tenham abundância’ [Jo 10,10]. É preciso contrapor tudo aquilo que nega a vida e a justiça. Contrapor aos valores de uma sociedade que descarta, exclui e é opressora com os mais vulneráveis”.
Na opinião do filósofo e também teólogo é preciso que os estudantes sejam sujeitos da sua própria transformação: “Com consciência, autonomia e liberdade para serem verdadeiros homens e mulheres na construção de uma sociedade justa, humana e solidária”.
Um dos objetivos específicos da Campanha da Fraternidade 2022 é pensar o papel da família, da comunidade de fé e da sociedade no processo educativo, com a colaboração dos educadores e das instituições de ensino.
Para Thiago Wolf Raimundo, professor de História e Ensino Religioso na rede privada de ensino em São Paulo, a educação precisa ser uma ação comunitária e que envolve todas as esferas da vida comum: familiar, religiosa, política, econômica e social: “Em sua mensagem na abertura do Pacto Educativo Global, o Papa Francisco cita a educação como um ‘antídoto natural à cultura do individualismo’.
Esse individualismo é o grande vilão da educação nos tempos atuais, em que poucos têm acesso às grandes oportunidades e uma imensa maioria nunca entrou numa sala de aula. Precisamos enxergar o outro como parte de um todo para que a igualdade seja alcançada e a falta de coisas básicas como saúde, educação, moradia, alimentação e segurança não seja mais uma realidade tão dolorida”.
Um dos passos indicados pela Campanha da Fraternidade 2022 é o escutar. Diante do contexto da pandemia, não somente os alunos, mas os educadores também, expressaram a urgência de ser escutados, de apresentar seus medos, dores, inseguranças e aflições diante desse inesperado e doloroso tempo.
A pastoralista e professora de Ensino Religioso, Hortência Brito Novais, sempre atenta à realidade, reservou momentos para escuta e partilha com os alunos e educadores: “No período de isolamento, busquei estabelecer alternativas de aproximação, fazíamos encontros on-line para partilhar, momentos de música, celebrações, produzi um podcast fazendo interface entre cultura pop e espiritualidade, duas vezes por semana ligava para os educadores perguntando como estavam e dialogando sobre como superar as dificuldades e desafios fiz lives com diferentes temas, como entretenimento e formação, fiz happy hour on-line”, comentou Hortência, que trabalha nas áreas da educação e pastoral.
Toda a rotina escolar foi alterada, mas sem deixar a pedagogia da escuta de lado.
“Ao retornarmos para o contexto presencial foram estabelecidos momentos de acolhida e diálogos com os estudantes e educadores. Acredito muito na pedagogia do pátio, assim como muitos santos educadores preconizaram: São João Bosco, São João Batista de la Salle e São Marcelino Champagnat. Assim, no pátio, respeitando os protocolos sanitários, vivenciamos momentos de escuta, acolhida e diálogo que contribuíram e contribuem eficazmente para enfrentarmos com leveza e consciência os desafios pandêmicos”, completou a educadora que atua na rede particular de ensino em São Paulo.
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