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Duas parábolas que ressaltam a necessidade de rezar sempre e perseverar mesmo diante das contrariedades e adversidades da vida: a do amigo importuno e a da viúva que insiste junto ao juiz. Elas contêm um caminho pedagógico extraordinário.
A primeira fala do amigo importuno (cf. Lc 11,5-8). A hospitalidade, no Oriente, faz parte do costume ao qual não se pensava em romper. Assim, o amigo vai à casa de outro à noite, mesmo sabendo que perturbaria. Apesar dos protestos do que está na casa, pois já era noite avançada, o amigo importunado cede à insistência do que pede por necessidade. “Pedi e vos será dado” (Mt 7,7) expressa a necessidade de focar a ação de rezar sempre e nem tanto o resultado.
O que vai à casa e suplica é convencido do valor presente na causa requerida. Não se ilude. A parábola apresenta que o amigo se levanta não somente pelo outro, mas por ser importuno. Exatamente a convicção do amigo sobre a importância de sua causa o torna importuno.
A causa do Reino deve entusiasmar os(as) seguidores(as) de Jesus de tal maneira que sejam anunciadores(as) convictos(as) em todo tempo, lugar e circunstâncias. A convicção é tão certa e intensa que pode tornar inoportuna a pessoa na busca da justiça, ou seja, incomodar todo o sistema pautado na injustiça. Jamais se acomoda a ponto de achar normal o que é anormal ao projeto de Jesus.
Um chamado a superar, como seguidores e seguidoras de Jesus, a indiferença crescente e reinante na sociedade tanto de ontem como de hoje. Fazer acontecer a justiça do Reino, o amor entre todos, alicerçando a transformação social para uma comunidade de irmãos e irmãs.
A parábola da viúva (cf. Lc 18,1-8) é modelo de perseverança na oração, na busca da justiça. Ela por várias vezes foi até o juiz injusto e pediu-lhe que lhe faça justiça. O que parecia improvável, pois ela, mulher e pobre, pedia a um homem possuidor do poder, aconteceu: ela alcançou o que necessitava, a justiça.
A lei mandava proteger “ao estrangeiro, ao órfão e à viúva” (Dt 26,12-13), porém, a aplicação da lei no contexto em que se encontravam as comunidades cristãs do primeiro século dependia da vontade de quem as administrava. A narrativa da viúva que não se deixa vencer servia de exemplo para despertar nos discípulos e discípulas a força para perseverar na difícil missão em uma sociedade injusta e violenta como era.
A força está em saber acolher e colocar em ação a justiça presente na vida e causa de Jesus. Os cristãos sabem que não devem se deixar contaminar pelo “fermento de Herodes”, ou seja, agir da mesma maneira com violência, falsidade e injustiça. Convencer-se sempre mais de que a causa da justiça é também a causa do Deus de Jesus.
Assim, a figura da viúva se torna paradigma de coragem, força e perseverança, fidelidade que faz resistir a toda corrupção social e religiosa. Tornar-se agente da justiça em favor de todos os oprimidos e injustiçados. O juiz injusto acaba cedendo à coragem, constância e rogos da viúva, que está ciente da causa reclamada.
Essas são duas parábolas que expressam fatos do cotidiano para mostrar a necessidade da oração perseverante na vida do crente. Rezar com a confiança inabalável de quem sabe em quem depositou a sua confiança (cf. 2Tm 1,12). A oração, assim como o alimento, o ar, é uma necessidade constante e diária. Se até um amigo atende à necessidade do outro, mesmo sentindo-se importunado, quando mais o Pai do Céu, que ama sempre (11,13).
Essas parábolas são exemplares para a atualidade, com um estilo de vida cada vez mais frenético pelo ritmo das coisas, pelo individualismo, pela busca do lucro desmedido, por vezes não lícito; a oração é de fundamental importância para alimentar o coração, formá-lo no caminho do amor de Deus. Assim, a humanidade se fará mais solidária e fraterna.
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