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Alta, negra e bonita, Francisca de Paula de Jesus, ou Nhá Chica, como era chamada por todos, nasceu em 1808, na “Porteira dos Vilellas”, fazenda de Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno Distrito de Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno), povoado a seis léguas (aprox. 13 km) de São João Del Rei, Minas Gerais.
Foi batizada em 1810, conforme livro de assentos da paróquia, na capela de Santo Antônio onde se encontra a pia batismal na qual foi batizada. Francisca teve apenas um irmão, Theotônio Pereira do Amaral, que nasceu provavelmente 4 anos antes, em 1804. A família mudou-se para Baependi e instalou-se numa casinha na Rua das Cavalhadas, hoje Rua da Conceição. Nesta casa iria viver a maior parte de sua vida a Serva de Deus.
Pouco tempo depois morreu dona Izabel, e Nhá Chica ficou orfã, com apenas dez anos. Embora pudesse acompanhar seu irmão ou casar-se, preferiu morar em sua casinha e dedicar-se a Deus e às pessoas mais necessitadas. Morrendo, sua mãe lhe recomendara a vida solitária, para melhor praticar a caridade e conservar a fé Cristã. Seguindo esse conselho ela não deixou a casa onde vivia, recusando o convite do irmão que a chamava para sua companhia. Cresceu isolada do mundo, dedicando-se à caridade e à fé. Rapazes do seu tempo pediram-na em casamento, mas recusou a todos. Tornou-se até muito amiga do que mais insistira, grata pela suas boas intenções. Sua única companhia era o escravo liberto, Félix, que cuidava dos trabalhos e dos afazeres da capela.
Nhá Chica fazia suas preces à Sua Sinhá, como ela chamava Nossa Senhora, representada numa pequenina imagem da Senhora da Conceição, de terra cota, até hoje conservada em sua casa. Sua casa é a imagem de sua vida pobre e dedicada aos pobres. Pouco a pouco sua fama foi aumentando, porque dava sempre ótimos conselhos. Para todos ela tinha palavras de consolação e de conforto, a promessa de uma oração, a predição do resultado de uma empresa ou um socorro material. Nela cumpre-se a palavra do Evangelho: “Eu te louvo, ó Pai, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos”. Ainda moça Nhá Chica já era a “mãe dos pobres”.
Nhá Chica é simplesmente uma pobre mulher analfabeta, uma fiel serva de Deus cheia de fé. Mas ela respondia dizendo: “Eu repito o que me diz Nossa Senhora e nada mais: eu rezo a Nossa Senhora, que me ouve e me responde”. “Nunca senti necessidade de aprender a ler”, dizia ela. “Só desejei ouvir ler as escrituras santas; alguém fez-me esse favor, fiquei satisfeita”. Ainda uma outra grande devoção povoava o coração de Nhá Chica. Guardava especial devoção às três horas de agonia, e nas sextas-feiras recolhia-se em oração.
Toda sua vida Nhá Chica procurou realizar o que ela dizia ser um pedido de Nossa Senhora: a construção de uma Capela. Era um empreendimento caro demais para uma mulher pobre daquele tempo, ainda mais sendo filha de escrava. Ela saia, então, pela vizinhança, pedindo auxílio para a construção. Aos poucos a notícia correu e logo começou a receber de todas as partes esmolas para este fim. Ela pode também usar a herança que recebeu de seu irmão, e sua obra chegou a bom termo. A construção foi iniciada em 1865. Quando já tinha uma certa quantia, Nhá Chica recebeu a ordem de Nossa Senhora para dar início aos trabalhos. Chamou um oficial de pedreira, que deu início a capela que media 34m e 35cm de comprimento por 8m e 20cm de largura. A ornamentação foi quase toda doada: imagens, alfaias, vasos, lâmpadas e até um órgão.
Aos 8 de julho de 1888, estando doente e de cama Nhá Chica fez o seu testamento e aos 14 de Junho de 1895 faleceu com mais de 80 anos e foi sepultada somente no dia 18. Seu semblante não apresentava sinais de morta, o que deixou o médico local em dúvida. O milagre que permitiu o início do processo de Nhá Chica foi a cura de um grave problema de nascença no coração da professora aposentada Ana Lúcia Meirelles Leite, de Caxambu (MG). O pequeno município mineiro de Baependi (400 km de Belo Horizonte) foi palco no dia 04/05/2013 da cerimônia preparada pela Igreja Católica para oficializar a beatificação de Nhá Chica, a leiga Francisca Paula de Jesus, primeira negra a ser declarada beata no Brasil. Sua festa se celebra no dia 14 de Junho.
Estamos agora felizes com a notícia que me foi dada pelo meu venerável irmão Dom Frei Diamantino Prata de Carvalho, OFM, DD. Bispo da Campanha, que adquiriu um amplo e bonito terreno para a construção do Santuário amplo para a devoção em honra da Beata Nhá Chica. Com esta grande santa, de vida autenticamente confiante em Deus e na Virgem da Conceição, queremos rezar:
“Virgem da Conceição,
Vós fostes aquela Senhora
que entrastes no céu vestida de sol, calçada de lua,
coroada de estrelas e
cercada de anjos…
Vós prometestes ao Anjo Gabriel
que socorreríeis a todo aquele
que invocasse
Vosso Santo Nome.
Agora é a ocasião.
Valei-me, Senhora da Conceição! (3 vezes)
Salve Rainha, mãe de misericórdia…”
Por Raymundo Damasceno, Cardeal Assis – Arcebispo Metropolitano de Aparecida, SP
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