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Você já imaginou nascer com o canal das lágrimas fechado? Além de seus olhos ficarem secos, com risco de infecções, você não teria a sensação de vê-las escorrerem pelo seu rosto. No domingo da Páscoa deste ano, vi isso num bebê que foi batizado no santuário onde trabalho. Seu nome era Heloísa, de Sertãozinho (SP). No fim da celebração, a mãe me pediu uma bênção especial para a filhinha, pois tinha nascido com as vias lacrimais obstruídas. Seria necessária uma cirurgia no momento oportuno, quando crescesse mais um pouco. Elas me acompanharam à capela onde fica um dos oratórios da Virgem Santa, Padroeira do Brasil. Coloquei as mãos sobre a cabeça de Heloísa. Toquei os seus olhinhos e pedi com fé: “Mãe Aparecida e Beato Donizetti, levem esse pedido a Jesus. Esta criança precisa dessa graça. Façam que suas vias lacrimais sejam curadas e as lágrimas possam fluir normalmente”.
O tempo passou. No dia 12 de outubro, na Missa das dez horas, para minha alegria vi mãe e filha sentadas nos primeiros bancos do santuário. Fui abraçá-las e acolhê-las. Então, recebi uma ótima notícia: a pequena Heloísa, naquela semana depois do Batismo, sentiu, pela primeira vez, as lágrimas umedecerem seus olhos, sem precisar da cirurgia. Enfim estava bem, apta a molhar o rosto quando fosse preciso, em todos os momentos da vida.
Muitos afirmam que não devemos chorar quando alguém que amamos partiu para junto de Deus, entretanto, Jesus chorou quando seu amigo Lázaro morreu. Ainda bem que temos lágrimas para derramar, nos momentos de alegria ou dor, de vitória ou arrependimento. Olha que cena linda São Lucas nos narra em seu Evangelho: “Um fariseu convidou Jesus a ir comer com ele. Jesus entrou na casa dele e pôs-se à mesa. Uma mulher pecadora da cidade, quando soube que estava à mesa em casa do fariseu, trouxe um vaso de alabastro cheio de perfume; e, estando a seus pés, por detrás dele, começou a chorar. Pouco depois, suas lágrimas banhavam os pés do Senhor e ela os enxugava com os cabelos, beijava-os e os ungia com o perfume. Ao presenciar isso, o fariseu, que o tinha convidado, dizia consigo mesmo: ‘Se este homem fosse profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que o toca, pois é pecadora’. Então, Jesus lhe disse: ‘Simão, tenho uma coisa a dizer-te’. ‘Fala, Mestre’, disse ele. ‘Um credor tinha dois devedores: um lhe devia quinhentos denários e o outro, cinquenta. Não tendo eles com que pagar, perdoou a ambos a sua dívida. Qual deles o amará mais?’ Simão respondeu: ‘A meu ver, aquele a quem ele mais perdoou’. Jesus replicou-lhe: ‘Julgaste bem’. E voltando-se para a mulher, disse a Simão: ‘Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não me deste água para lavar os pés; mas esta, com as suas lágrimas, regou-me os pés e enxugou-os com os seus cabelos. Por isso, te digo: seus numerosos pecados lhe foram perdoados, porque ela tem demonstrado muito amor’. Então, Jesus, dirigindo-se à mulher, disse-lhe: ‘Tua fé te salvou; vai em paz’” (Lc 7,36-44.50). A pecadora quebrou o frasco de perfume e chorou. Derramou suas lágrimas por ter pecado e, depois, por ter sido perdoada.
Neste mês de novembro homenageamos nossos queridos familiares e amigos que partiram para a Casa do Pai. Às vezes, você chora de saudade? Não fique triste ou se culpe por isso! Quero partilhar com você uma frase que aprendi, com meu formador pastoral, quando ainda era seminarista: “Não cremos na vida depois da morte, mas na vida depois da vida, pois a morte foi vencida por Jesus Cristo, caminho, verdade e vida”.
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