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Durante as preparações para a festa do Natal do Senhor, todos os anos temos a oportunidade de nos inspirar com exemplos de ações concretas realizadas por personagens famosos e anônimos que, seguindo o exemplo do Cristo Salvador, do Deus Emanuel, também se despojam de si mesmos, encontrando no serviço ao próximo razões que justificaram sua escolha fundamental de vida.
Seguramente, dentre as afigurações mais universais se põe aquela do Papai Noel, lenda universal inspirada na vida de São Nicolau de Bari. Segundo as fontes históricas, Nicolau nasceu na Turquia meridional, em meados do século III d.C., sendo de uma família bastante rica e cristã. Ainda em sua juventude ficou órfão e, por sua livre decisão, gastou toda a herança recebida na assistência aos enfermos e pobres.
Os feitos de suas boas obras ultrapassaram seu território e, ainda jovem, foi sagrado bispo de Mira; posteriormente, sob perseguição do imperador Diocleciano, foi perseguido, exilado e preso. Uma vez liberado, fez parte do grande Concílio de Niceia, em 325, falecendo em sua diocese no ano 343. Desde então, muitos relatos atribuídos a esse venerável bispo dão testemunho de sua vida devotada aos mais frágeis, principalmente aos mais pequeninos e sofredores.
Sua devoção se difundiu por toda a Europa, sendo que nos territórios germânicos a festa de São Nicolau, celebrada no dia 6 de dezembro, sempre evidenciou sua proteção às crianças, originando o costume de, às vésperas de sua festa, as crianças deixarem meias e sapatos ao lado das lareiras à espera de presentes e doces, costume que, com o passar dos anos, transportou-se para as vésperas do Natal do Senhor.
Há, sem dúvida, na história de vida de São Nicolau a concretização do que a Teologia nomeia como sequela Christi (seguimento de Cristo, imitação de Cristo), ou seja, São Nicolau testemunhou, com suas escolhas, apesar das grandes dificuldades enfrentadas, que é possível seguir a Cristo, imitando, mesmo em circunstâncias desafiadoras, suas mesmas escolhas, atualizando, no tempo e no espaço contemporâneos, as mesmas consequências que só o exercício do bem pode realizar.
No entanto, faz-se necessário delimitar que o seguimento de Cristo, em termos operativos, significa, concretamente, viver segundo as virtudes cristãs, ou seja, a partir dos valores ensinados com as palavras e com o exemplo de Cristo. Porém, cabe precisar que as virtudes cristãs não são normas categorizadas aos parâmetros das leis humanas, mas se põem como um corolário no qual o ser humano deve projetar-se objetivando, por meio de suas ações, o bem completo e definitivo da própria vida.
Na vida e obra do insigne bispo São Nicolau, vemos fervilhar a constância dessas virtudes que, para florescer plenamente, precisam, inevitavelmente, ser disponibilizadas no coração humano, ou seja, a graça de Deus abunda vertiginosamente somente na vida daquele que se abre à sua ação, principalmente pela busca constante de intimidade com Deus, que nos amou por primeiro e nos chamou ao conhecimento de sua vida divina. Assim, pode-se, sem senão, afirmar que São Nicolau era caridoso com os pobres de seu tempo porque antes, e com grande abertura, amou e serviu a Deus, adorou-o, louvou-o, glorificou-o. A experiência pessoal com o Verbo que se fez carne (cf. Jo 1,1-3), com o Todo-Poderoso que se fez pobre, com o Deus onipotente que se esvaziou de si mesmo por amor de nós (cf. 2Cor 8,9) é que possibilitou São Nicolau a, seguindo os passos e exemplo de Cristo, entregar-se, obedecer a Deus, doar seus bens renunciando a suas riquezas terrenas, cuidar dos pobres e desvalidos, principalmente as crianças, suportar a prisão e o exílio por causa do seu amor pelas coisas do Alto e pelo Reino de Cristo, sem se desesperar. A experiência de seus atos de caridade ecoa na eternidade porque estão intrinsicamente unidos à caridade de Deus, em Cristo Jesus, que morreu e ressuscitou.
O apostolado se realiza espontaneamente quando o fiel procura ordenar as próprias atividades buscando, em cada detalhe, a sua união com Cristo. O clero realiza seu apostolado por meio do exercício do ministério da Palavra e pela administração dos Sacramentos; os religiosos, com sua oração e seu testemunho escatológico; os leigos, por sua vez, são chamados a exercê-lo por meio da vida cristã, pela palavra, pelo testemunho, pelo serviço fraterno, ou seja, a missão do apostolado laical se une à animação cristã do que está na ordem temporal, evidenciando, mediante o exemplo concreto e por meio das palavras, a via que se deve seguir para ser discípulo de Jesus.
Também sob esse aspecto, o testemunho das virtudes de São Nicolau nos inspira. Ele, bispo da Igreja, viveu seu apostolado de maneira diligente e fiel. Honrou seu ministério, suportando os sofrimentos, o exílio, a prisão, sem apostatar da fé católica e inspirando seus diocesanos a resistirem até o fim, por amor a Cristo. Seu apostolado, no entanto, não se limitava às paredes da sua catedral; seu olhar aguçado e amoroso, percebia a presença de Cristo nos sofredores, nos pobres, nas crianças famintas. Ele reconheceu Cristo escondido e sacramentado no olhar e no sofrimento desses irmãos. Por amor a Ele, por amor ao próximo, não se poupou: deu pão a quem estava com fome, água a quem tinha sede, roupa a quem padecia no tempo, visitou o doente e o encarcerado e os consolou (cf. Mt 25,35-37).
São Nicolau amou os miseráveis, as crianças pobres, porque amou Jesus sobre todas as coisas, por isso seu gesto se perpetuou, gritando a verdade, até mesmo no Natal contemporâneo, já tão desvestido de Cristo e inchado de consumismo vazio e esvaziado de Deus.
Mais do que dar um brinquedinho a um pobrezinho, o exemplo de São Nicolau nos grita na alma, mostrando-nos que naquela criança, cujos olhos cintilam na esperança do recebimento de um regalo, está escondida uma alma que anela pelo anúncio de Deus. Mais do que as marmitas feitas aos pobres (que devem ser feitas), o santo nos ensina a dar o alimento de Deus, que é imperecível. Mais do que doar nossas roupas, São Nicolau mostra que precisamos vestir o mundo nu da esperança que preenche todos os vazios.
Mais do que ações caridosas pontuais, o bispo santo grita que toda a nossa vida de filhos de Deus precisa ser uma constante oblação, um testemunho atualizado da verdade máxima de que Deus é amor e que tal amor jamais passará (cf. 1Cor 13,9).
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