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“Deus onipotente e eterno, eis que me aproximo do sacramento do teu Filho unigênito, nosso Senhor Jesus Cristo: aproximo-me como um doente do médico, que lhe devolve a vida, como o pecador à fonte da misericórdia, como o cego à luz do esplendor eterno, como o pobre e o necessitado ao Senhor do Céu e da
Terra”: com esta oração, Tomás de Aquino iniciava sua preparação à Celebração Eucarística, profundamente consciente do próprio nada e totalmente abandonado ao amor do Pai. Talvez sua grandeza fosse proporcional à sua humildade.
Nasceu no castelo de Roccasecca, próximo de Caserta, no sul da Itália, em 1225 ou 1226, da nobre família dos Aquinos. O pai, Landolfo, era de origem longobarda e a mãe, Teodora, era uma napolitana de origem normanda. Teve outros três irmãos e cinco irmãs, sem contar os três nascidos de um Matrimônio anterior do pai.
DESTINADO À CARREIRA ECLESIÁSTICA
Sendo Tomás o filho mais novo dos homens, os pais pensaram no seu futuro oferecendo-o como oblato aos 5 anos à abadia de Montecassino. A oblatura – como se costumava chamar – não pressupunha que o rapaz, quando atingisse a maturidade, tivesse necessariamente de fazer os votos religiosos, era apenas uma preparação que tornava os candidatos idôneos a tal escolha.
Tomás se deu muito bem no mosteiro e sempre manteve ótimo relacionamento com seus mestres. O abade o estimava muitíssimo, seja pelos dons intelectuais, seja pelo amor que demonstrava à disciplina monástica, embora Tomás, já crescido, não pensasse em ser monge.
A rica abadia de Montecassino naquele período era motivo de controvérsia entre o Papa e o imperador Federico II. O imperador em 1239 ocupou-a militarmente e expulsou todos os monges que não tinham nascido nos territórios de sua jurisdição. Lá ficaram somente oito. Era impossível naquelas condições manter uma escola para os oblatos. O abade acompanhou pessoalmente Tomás para seus pais e recomendou-lhes que fizessem continuar os estudos em Nápoles, embora a universidade não fosse papal, mas do imperador.
Em Nápoles, Tomás fez o curso das artes liberais e teve a felicidade de conhecer a tradução de alguns escritos de Aristóteles. As obras do filósofo grego, utilizadas pelos mestres muçulmanos para combater a fé cristã, eram proibidas nas faculdades eclesiásticas. Tomás percebeu que eram valiosas.
PREFERIU O CARISMA DE DOMINGOS
Em Nápoles aconteceu um fato muito importante: Tomás conheceu os frades pregadores do Convento de São Domingos, talvez por tê-los escutado nas pregações, ou por terem sido seus companheiros de estudos, e ficou fascinado pelo seu estilo de sua vida.
Ele conhecia a vida do mundo e da igreja. Nos anos que passou em Montecassino, descobriu a beleza do cristianismo mas viu também como os monges sempre estavam envolvidos em interesses mundanos por causa da riqueza que possuíam. Na família, havia experimentado o amor verdadeiro dos pais e dos irmãos, mas havia também visto muitas tramas políticas para ele incompreensíveis. Sobretudo, não aceitava que homens de igreja se envolvessem nos afazeres temporais e ficassem competindo para obter por todos os meios cargos economicamente rentáveis.
Àquela situação nada evangélica, Tomás quis dar uma resposta bem concreta com a sua vida e resolveu se tornar mendicante dominicano. Tinha aproximadamente 20 anos e sua decisão deixou os parentes boquiabertos, sobretudo a mãe, viúva, que contava com ele para levar adiante a gestão dos negócios da família. Usufruindo, de fato, dos favores do imperador, a quem seguiam seus filhos, tinha a possibilidade de torná-lo rapidamente abade de Montecassino, segundo um antigo desejo paterno.
Quando a castelã de Roccasecca soube que Tomás estava viajando para Paris, pediu aos filhos para trazê-lo de volta para casa, usando, se necessário, também a força. Esses obtiveram uma escolta armada da parte do imperador, que se encontrava na Toscana, para combater contra as cidades fiéis ao Papa; prenderam-no e enviaram-no de volta, fazendo uma parada no castelo de São João, que lhes pertencia.
A PACIÊNCIA TEM SEUS LIMITES
Na cela onde Tomás estava preso foi levada à noite uma belíssima jovem com a desculpa de servi-lo, mas, na realidade, era para tentar seduzi-lo. Tomás, que normalmente era muito paciente, depois de um dia cheio de aventuras e agitado perdeu a paciência e com um tição aceso ameaçou-a, obrigando-a a fugir. O acontecimento pode parecer lendário, mas, além de seus biógrafos daquele tempo, como também os historiadores modernos, consideram-no autêntico.
O amor de Tomás pela castidade, de fato, era proverbial; não é por nada que ele é chamado doutor angélico. Não se trata de uma castidade miraculosa, mas de um dom conquistado com luta, no dia a dia, como testemunha esta oração escrita por ele: “Ó, meu bom Jesus, sei bem que todo dom perfeito, mais do que qualquer outro, o da castidade, depende da poderosa influência da vossa providência e que, sem vós, o homem não pode fazer nada. Peço-vos que me protejais com a vossa graça a castidade e a pureza da minha alma e do meu corpo. E se receber contra a minha vontade qualquer impressão sensual, que possa manchar a castidade e a pureza, eu vos peço que a retireis de mim, vós que sois o supremo Senhor de todos os sentidos, para que eu possa com o coração imaculado avançar no vosso amor e serviço, oferecendo-me casto, todos os dias de minha vida, sobre o altar da vossa divindade”.
No dia seguinte foi conduzido a Roccasecca e entregue à mãe que o amava com muita ternura, mesmo que não conseguisse aceitar que um de seus filhos se tornasse um mendicante. Procurou convencê-lo com todos os argumentos, mas, foi inútil. Ele tentou influenciar a irmã Marotta para que ficasse do seu lado e também abandonasse o mundo. De fato, ela também se tornou monja e, depois, abadessa de Santa Maria de Cápua.
A mãe nada mais podia fazer além de aceitar a decisão do filho. Começou por permitir aos dominicanos de Nápoles que o visitassem e, depois de um ano, deixou-o partir com sua bênção. Nesse meio de tempo, a nobre castelã normanda viu caírem por terra os seus planos, pois o imperador, depois de acontecimentos desagradáveis, já não tinha mais a mesma força.
Naquela confusão de lutas entre o Papa e o imperador, entre poder temporal e espiritual, Tomás expressou com clareza seu pensamento num escrito. Assim o resume James A. Weisheipl, seu biógrafo atualmente mais qualificado: “Tomás afirma que o Papa, em virtude de seu ofício canônico, é o chefe espiritual da Igreja e nenhum outro; todo atributo político ou mundano que se sobrepõe a essa autoridade essencialmente espiritual é um elemento acidental, cuja presença ou ausência não modifica de modo algum a natureza espiritual intrínseca na Igreja”.
É de admirar a lucidez dessa visão quando se pensa que, naquele tempo, a grande maioria dos eclesiásticos raciocinava de modo diferente, porém Tomás, antes de assumir uma posição teórica, tinha rejeitado, como diz Weisheipl, qualquer posição na Igreja que pudesse envolvê-lo nos negócios temporais.
De volta ao convento, podia finalmente preparar-se para fazer sua profissão na Ordem dos Pregadores. O superior-geral, João, o Teutônico, também dessa vez achou oportuno mandá-lo para o estrangeiro para evitar posteriores reconsiderações e consequentes complicações por parte dos parentes.
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