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Jó é um dos personagens bíblicos mais importantes, cujo livro nos faz meditar sobre o sentido da vida. Não existe uma definição para seu nome, mas, alguns especialistas o vincularam à ideia de “inimizade” ou “inimigo inveterado” (raiz hebraica); na raiz árabe seria “arrependido” ou “penitente”. É considerado um homem “justo e honrado, religioso e separado do mal” (Jó 1,1); um sábio, que se sente hostilizado e perseguido pelas pessoas e por Deus. Ele é o protótipo do sofredor que está em constante diálogo e conflitos com o transcendente.
Quem se decide pela leitura do Livro de Jó deve levar em consideração o contexto de sua vida e suas lutas. Normalmente, as pessoas desistem de lê-lo devido ao diálogo sem coordenação no desenvolvimento do discurso. Parece haver incoerência nas falas e isso se explica pela constante tensão do autor com as perdas existenciais e as mudanças que lhe são imputadas. Os conflitos descritos por Jó fazem referência à integridade humana na tentativa de se reconstruir diante da graça. Ele aborda o tema do sofrimento de maneira natural e vivencial que mistura fé, esperança, indignação, revolta, medos, temas próprios de cada ser humano que se questiona diante dos desafios e quer superá-los com a força de Deus.
Não é pelo fato de ser justo e coerente que está livre do sofrimento e do mal que o mundo promove. Ele sentiu na pele a dor de quem ama a Deus e quer fazer de tudo para caminhar na luz. Diante das perdas materiais e espirituais, Jó larga as ilusões de uma vida de sucesso, rejeita as interpretações dadas por seus amigos a respeito de seu destino, não se sente culpado pelos fracassos, pois sabe que não agiu contra os desígnios de Deus. Ele é um homem correto que segue sua luta em sintonia com Deus, tem claros seus valores e é sensível ao sofrimento e às consequências de seus dramas.
A vocação de Jó ilumina o ser humano de cada tempo a buscar respostas aos seus mistérios sem conformar-se com os preconceitos e as respostas prontas que mais o fazem distanciar-se do potencial de vida do que encontrá-los. É preciso ter a coragem de Jó para passar pelas trevas e manter-se unido ao caule da vida que nos dá outra compreensão da existência. Ele viveu o despojamento como sinal de maturidade e liberdade. Essa é a sabedoria que Jó encontra: tudo está inter-relacionado e é Javé quem a possui. Deus é providente e “Se aceitarmos de Deus os bens, não vamos aceitar os males?” (Jó 2,10). A confiança em Deus faz com que Jó receba de volta todas as suas posses, tornando-se mais rico ainda. Isso quer dizer que seu sofrimento foi redentor e ele o compreendeu, integrou e fecundou, tornando seus últimos dias repletos de sentido e compaixão. Foi um longo e maduro processo de entrega e mudança interior envolvendo um querer humano e divino.
Vida bem-sucedida é antes de tudo restabelecer a autoestima diante dos confrontos e reafirmar os valores que são eternos. Deus não abandona Jó, mas se deixa interpelar. Deus está sempre pronto a responder ao que nosso coração busca.
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