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Os exemplos de todos os mártires nos primeiros séculos eram convites aos não cristãos à conversão e, nos séculos seguintes, quando o Batismo começou a ser ministrado às crianças, estimulava os cristãos a redescobrirem o valor desse Sacramento, encarnando com seriedade o Evangelho na vida pessoal e da comunidade.
São Jorge é um mártir do século III ou IV, certamente antes do Édito de Constantino. Sabemos que existiu uma antiquíssima igreja, construída em sua honra, em Lidda-Diospolis, Palestina. Exceto o fato de ter existido, nada mais sabemos de certo sobre esse santo e devemos nos contentar com aquilo que foi descrito em sua passio (atas do sofrimento) a respeito de seu martírio, historicamente incerta, escrita – diz-se – por seu ajudante de nome Pasicrate.
Segundo esse autor, Jorge era originário da Capadócia e tornou-se oficial do exército. Convertido ao cristianismo, renunciou a seu ofício e, quando foi preso por causa da fé, enfrentou com firmeza o martírio.
À sua figura foi ligada a famosa lenda do dragão, que vale a pena ser contada, pois no imaginário popular queria significar que então a força desarmada do cristianismo estava para triunfar sobre a violência desumana do mal.
Próximo da cidade, havia um lago do qual de tempos em tempos saía um horrível dragão que, com seu hálito fétido, matava muitas pessoas inocentes.
Para aplacar sua ira era necessário lhe oferecer vítimas humanas e uma vez coube ao rei do lugar dar-lhe em alimento a própria filha. Mesmo profundamente entristecido, levou-a até o lago, acompanhado por uma multidão de pessoas aos prantos.
Quando o dragão saiu das águas para agarrar a jovem, encontrou ao seu lado um cavaleiro, Jorge, que lhe pôs uma corrente ao pescoço e entregou-o à jovem. Iniciou-se a procissão de volta para a cidade: caminhava a filha do rei e ao seu lado o corajoso cavaleiro, levando preso à corrente o monstro que se tornou manso como um cordeiro.
Quem permaneceu na cidade, ao ver o dragão acorrentado e então inofensivo teve medo, fechava a porta e espiava pela janela entreaberta o insólito espetáculo. O cavaleiro garantia a segurança a todos, afirmando que ele viera em nome de Cristo para libertar a cidade do dragão e anunciar a todos a salvação por meio do Batismo. O povo percebeu o significado do acontecimento e, a começar pela princesa e sua família, pediram o Batismo, deixando para sempre as práticas de escravidão às quais se submetiam até aquele momento.
O culto a São Jorge foi e continua sendo um dos mais difundidos no mundo cristão em todos os lugares. Sua imagem de cavaleiro com o dragão sob seus pés se de um lado alimenta a fantasia popular, de outro instrui também os analfabetos, infundindo nos cristãos a confiança na proteção divina também nos momentos mais difíceis da vida. Na Idade Média, São Jorge se tornou protetor dos cavaleiros e, de maneira particular, dos cruzados; numerosas igrejas foram dedicadas a ele. Devido a São Jorge, o reino da Geórgia e os reis da Inglaterra, a começar por Ricardo Coração de Leão, quiseram que ele fosse o patrono da casa real e de suas terras.
O imperador Constantino ergueu uma igreja em Constantinopla em homenagem a São Jorge. Entre os povos eslavos sua figura é muito apreciada.
Ainda hoje é incontável o número de igrejas católicas e ortodoxas dedicadas a ele, em todas as partes do mundo. Talvez a função histórica desses santos envoltos em lendas seja a de recordar ao mundo um só pensamento muito simples, mas fundamental: o bem, mesmo que demore, vence sempre o mal e a pessoa sábia nas escolhas fundamentais da vida não se deixa jamais enganar pelas aparências.
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