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“Jogai fora o velho fermento, para que sejais uma massa nova, já que sois ázimos, sem fermento. De fato, nosso cordeiro pascal, Cristo, foi imolado. Assim, celebremos a festa, não com o velho fermento nem com o fermento da maldade ou da iniquidade, mas com os pães ázimos da sinceridade e da verdade” (1 Cor 5, 7-8). Começou a festa da Páscoa. A Páscoa cristã nasceu no contexto da Páscoa judaica, quando Jesus se reuniu com seus discípulos no Cenáculo, justamente para orações e os ritos próprios da celebração anual realizada por todas as gerações que mantinham a esperança do cumprimento das promessas de Deus.
“Quando tiverdes entrado na terra que o Senhor vos dará, conforme prometeu, observareis este rito. Quando vossos filhos vos perguntarem: ‘Que significa este rito?’ respondereis: ‘É o sacrifício da Páscoa do Senhor, que passou ao lado das casas dos israelitas no Egito, quando feriu os egípcios e salvou as nossas casas’. Então o povo prostrou-se em adoração, e saindo dali, os israelitas fizeram o que o Senhor tinha ordenado a Moisés e Aarão” (Ex 12, 25-28; Cf. Ex 13, 14; Cf. Dt 6, 20). A cada Páscoa, o rito da imolação do Cordeiro trazia à memória os acontecimentos do Êxodo. Uma refeição carregada de sentido, com a força necessária à sustentação da fé de um povo “dependurado” nas promessas do Senhor.
As tensões que pairavam em Jerusalém estão presentes no local em que Jesus reuniu seus discípulos para celebrar a Páscoa. Cada palavra pronunciada por Jesus, os salmos e bênçãos que se sucediam, tudo mostrava uma novidade a se revelar. De repente, pronuncia palavra de fogo: “‘Ardentemente desejei comer convosco esta ceia pascal, antes de padecer. Pois eu vos digo que não mais a comerei, até que ela se realize no Reino de Deus’. Então pegou o cálice, deu graças e disse: ‘Recebei este cálice e fazei passar entre vós; pois eu vos digo que, de agora em diante, não mais beberei do fruto da videira, até que venha o Reino de Deus’. A seguir, tomou o pão, deu graças, partiu-o e lhes deu, dizendo: ‘Isto é o meu corpo, que é dado por vós. Fazei isto em memória de mim’. Depois da ceia, fez o mesmo com o cálice, dizendo: ‘Este cálice é a nova aliança no meu sangue, que é derramado por vós’” (Lc 22, 15-20). O Cordeiro se faz presente, é alguém que se entrega. Jesus se antecipa, trazendo para aquela mesa santa o sacrifício a ser realizado pouco depois. Ao mesmo tempo, dali para frente, todas as vezes em que seu gesto se repetir, em sua memória, até sua volta, no final dos tempos. A mesma realidade se faz presente e se abre como uma fonte perene de vida e salvação para todos.
Os fatos se precipitam e a noite terrível que se segue é feita de traição, suor e sangue, entrega livre de quem se doa e passa de réu a juiz, na grande virada da história da humanidade. Nós celebramos nas festas pascais a sucessão dos acontecimentos, chamados a beber na fonte do Salvador todas as graças, na única graça do sacrifício redentor de Cristo, Morto e Ressuscitado.
A Ceia preparada para a noite do Mandamento do Amor, com o gesto expressivo do Lava-Pés, no qual convergem todos os atos de amor, ainda que não sejam perfeitos, e de onde nasce toda a voragem do amor vindo da Trindade: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. Nesta noite a Eucaristia foi instituída e o sacerdócio ministerial nasceu do mistério de Cristo. Em todas as missas, “Eis o Cordeiro de Deus” será o convite ao Banquete das Núpcias do Cordeiro, que se faz presente até o fim dos tempos.
A Sexta-feira Santa é dia do Cordeiro, providenciado pelo Pai do Céu (Cf. Gn 22,8) ser imolado na ara da Cruz, altar definitivo do verdadeiro e definitivo sacrifício. O Cordeiro inocente é imolado na Páscoa da Cruz, Sangue derramado e passado nos umbrais das portas de todos os corações, para que da velhice do pecado e da maldade sejamos todos restaurados no homem novo, que é Jesus.
No Sábado Santo, a terra está em silêncio. O Senhor visitou, portando seu estandarte de Cordeiro Imolado, a mansão dos mortos. Aplica-se pergunta feita no Apocalipse: “Quem é digno de romper os selos e abrir o livro? Ninguém no céu, nem na terra, nem debaixo da terra era digno de abrir ou de olhar o livro. Um dos anciãos me disse: ‘Não chores! Vê, o leão da tribo de Judá, o rebento de Davi, saiu vencedor. Ele pode romper os selos e abrir o livro’. Então, vi um Cordeiro. Estava no centro do trono e dos quatro Seres vivos, no meio dos Anciãos. Estava de pé, como que imolado. O Cordeiro tinha sete chifres e sete olhos, que são os sete Espíritos de Deus, enviados por toda a terra. Então o Cordeiro veio receber o livro, da mão direita daquele que está sentado no trono. Quando ele recebeu o livro, os quatro Seres vivos e os vinte e quatro Anciãos prostraram-se diante do Cordeiro. Todos tinham harpas e taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos. E entoaram um cântico novo: ‘Tu és digno de receber o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste imolado, e com teu sangue adquiriste para Deus gente de toda tribo, língua, povo e nação. Deles fizeste para o nosso Deus um reino de sacerdotes. E eles reinarão sobre a terra”. Eu vi – eu ouvi a voz de numerosos anjos, que rodeavam o trono, os Seres vivos e os Anciãos. Eram milhares de milhares, milhões de milhões, e proclamavam em alta voz: ‘O Cordeiro imolado é digno de receber o poder, a riqueza, a sabedoria e a força, a honra, a glória e o louvor’” (Ap 5, 2-12). No Cristo, Cordeiro Pascal que se imolou, abre-se o livro da vida e encontra sentido a existência de todos os homens e mulheres de todos os tempos.
Chegamos ao coração de nossa fé quando entramos com as luzes acesas no Círio Pascal as velas com as quais renovamos as promessas batismais. A Páscoa é um presente da Igreja para nós. “Eis agora a Páscoa, nossa festa, em que o real Cordeiro se imolou; marcando nossas portas, nossas almas, com seu divino sangue nos salvou” (Precônio Pascal). Recolhidos na noite santa, ouvimos a Palavra de Deus, que nos descortina os passos da história da Salvação. Celebramos a Iniciação Cristã em todas as Paróquias, com o banho batismal, a unção do Espírito Santo para a Missão e a Mesa Eucarística que se põe para todos. Nela o verdadeiro Cordeiro Pascal, o Cristo que se imolou, é dado em alimento.
Nossos votos de Páscoa se expressem no canto da Igreja para o Domingo da Páscoa da Ressurreição: “Cantai, cristãos, afinal: Salve ó vítima pascal. Cordeiro inocente, o Cristo abriu-nos do Pai o aprisco. Por toda ovelha imolado, do mundo lava o pecado, duelam forte e mais forte, é a vida que vence a morte. O Rei da vida, cativo, é morto, mas reina vivo! Responde, pois, ó Maria: no caminho o que havia? Vi Cristo ressuscitado, o túmulo abandonado, os anjos da cor do sol, dobrado ao chão o lençol. O Cristo, que leva aos céus, caminha à frente dos seus! Ressuscitou de verdade. Ó Cristo, Rei, piedade!”
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