ACONTECE NA IGREJA Amor Bíblia Carmelitas Carmelo Catecismo Catequese Catequista Catequistas CNBB Coronavírus Deus ESPAÇO DO LEITOR Espiritualidade Espírito Santo Eucaristia Família Formação Fé Igreja Jesus juventude Maria MATÉRIA DE CAPA Natal Nossa Senhora do Carmo O.Carm. Ocarm Oração Ordem do Carmo Papa Francisco Pentecostés provocarmo Páscoa Quaresma Reflexão SANTO DO MÊS Sociedade Somos Carmelitas somoscarmelitas São Martinho Vida vocacional Vocação vocação carmelita
20 de Abril de 2005
“Graças e paz em abundância para vós! Na minha alma convivem nestas horas dois sentimentos contrastantes. Por uma parte, um sentido de inadequação e de confusão humana pela responsabilidade que me confiaram ontem de cara à Igreja universal, como sucessor do apóstolo Pedro nesta sé de Roma. Por outra parte, sinto viva em mim uma gratidão profunda a Deus que, como nos faz cantar a liturgia, não abandona seu rebanho, mas sim o conduz através dos tempos sob a guia daqueles que Ele mesmo escolheu vigários de seu Filho e constituiu pastores.
Caríssimos, este agradecimento íntimo por um dom da misericórdia divina prevalece em meu coração apesar de tudo. E considero este fato uma graça especial que me concedeu meu venerado predecessor João Paulo II. Parece-me sentir sua mão forte que estreita a minha, parece-me ver seus olhos sorridentes e escutar suas palavras, dirigidas, neste momento, particularmente a mim: “Não tenha medo!”.
A morte do Santo Padre João Paulo II e os dias seguintes, foram para a Igreja e para o mundo inteiro um tempo extraordinário de graça. A grande dor por seu desaparecimento e o sentido de vazio que deixou em todos se temperaram com a ação de Cristo ressuscitado, que se manifestou durante longos dias em uma grande onda de fé, de amor e de solidariedade espiritual, culminada nas suas exéquias solenes.
Podemos dizê-lo: os funerais de João Paulo II foram uma experiência verdadeiramente extraordinária em que se percebeu de alguma forma a potência de Deus que, através de sua Igreja, quer formar com todos os povos uma grande família, mediante a força unificadora da Verdade e do Amor. Na hora da morte, conformado com seu Mestre e Senhor, João Paulo II coroou seu longo e fecundo pontificado, confirmando na fé ao povo cristão, reunindo-o em torno de si e fazendo sentir-se mais unida a inteira família humana. Como não sentir-se sustentados por este testemunho? Como não advertir o fôlego que procede deste acontecimento de graça?
Surpreendendo toda minha previsão, a Providência divina, através do voto dos venerados padres cardeais, chamou-me a suceder a este grande Papa. Nestas horas penso novamente no que aconteceu na região da Cesaréia do Filipo faz dois mil anos. Parece-me escutar as palavras do Pedro:”Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo” e a solene afirmação do Senhor: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja (…)Te darei as chaves do reino dos céus”.
Tu és Cristo! Tu és Pedro! Parece-me reviver a mesma cena evangélica; eu, sucessor de Pedro, repito com trepidação as palavras trepidantes do pescador da Galiléia e volto a escutar com emoção íntima a consoladora promessa do divino Mestre. Se for enorme o peso da responsabilidade que cai sobre meus pobres ombros, é certamente desmesurada a potência divina com a que posso contar: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei minha Igreja”. Ao me escolher como bispo de Roma, o Senhor me quis vigário d’Ele, quis-me “pedra” em que todos possam apoiar-se com segurança. A Ele peço que supra à pobreza de minhas forças, para que seja valente e fiel pastor de seu rebanho, sempre dócil às inspirações do Espírito Santo.
Disponho-me a empreender este ministério peculiar, o ministério “petrino” ao serviço da Igreja universal, com humilde abandono nas mãos da Providência de Deus. É a Cristo em primeiro lugar a quem renovo minha adesão total e confiada: “In Te, Domine, speravi; non confundar in aeternum!”.
A vós, senhores cardeais, com ânimo grato pela confiança que me demonstrastes, peço-lhes que me sustentem com a oração e com a colaboração, constante, sapiente e ativa. Peço também a todos os irmãos no episcopado que estejam a meu lado com a oração e com o conselho, para que possa ser verdadeiramente o “Servus Servorum Dei”. Como Pedro e os outros apóstolos constituíram por vontade do Senhor um único colégio apostólico, do mesmo modo o sucessor de Pedro e os bispos, sucessores dos apóstolos -o Concílio o reafirmou com força- devem estar estreitamente unidos entre eles. Esta comunhão colegial, embora na diversidade de funções do romano pontífice e dos bispos, está ao serviço da Igreja e da unidade da fé, da qual depende de maneira notável a eficácia da ação evangelizadora no mundo contemporâneo. Portanto, sobre esta trilha em que avançaram meus venerados predecessores, quero prosseguir preocupado unicamente de proclamar ao mundo inteiro a presença viva de Cristo.
Frente a mim está, em particular, o testemunho de João Paulo II. Ele deixa uma Igreja mais valente, mais livre, mais jovem. Uma Igreja que, segundo seu ensinamento e seu exemplo, olha com serenidade ao passado e não tem medo do futuro. Com o Grande Jubileu se introduziu no novo milênio, levando nas mãos o Evangelho, aplicado ao mundo atual através da autorizada ré-leitura do Concílio Vaticano II. Justamente o Papa João Paulo II indicou esse concílio como “bússola” com a qual orientar-se no vasto oceano do terceiro milênio. Também em seu testamento espiritual escrevia: “Estou convencido de que as novas gerações poderão servir-se ainda durante muito tempo das riquezas proporcionadas por este Concílio do século XX”.
Portanto, eu também, quando me preparo ao serviço que é próprio do sucessor de Pedro, quero reafirmar com força a vontade decidida de prosseguir no compromisso de realização do Concílio Vaticano II, seguindo os meus predecessores e em continuidade fiel com a tradição bimilenar da Igreja. Este ano acontece o 40 aniversário da conclusão da assembléia conciliar (8 de dezembro de 1965). Com o passar dos anos os documentos conciliares não perderam atualidade; pelo contrário, seus ensinamentos se revelam particularmente pertinentes em relação com as novas instâncias da Igreja e da sociedade atual globalizada.
De maneira muito significativa, meu pontificado se inicia enquanto a Igreja vive o ano especial dedicado à Eucaristia. Como não ver nesta coincidência providencial um elemento que deve caracterizar o ministério ao qual estou chamado? A Eucaristia, coração da vida cristã e fonte da missão evangelizadora da Igreja, não pode deixar de constituir o centro permanente e a fonte do serviço petrino que me foi confiado.
A Eucaristia faz presente constantemente a Cristo ressuscitado, que segue entregando-se a nós, nos chamando a participar da mesa de seu Corpo e seu Sangue. Da comunhão plena com Ele, brota cada um dos elementos da vida da Igreja, em primeiro lugar a comunhão entre todos os fiéis, o compromisso de anúncio e testemunho do Evangelho, o ardor da caridade para todos, especialmente para os pobres e os pequenos.
Neste ano, portanto, se terá que celebrar com relevo particular a solenidade do Corpus Christi. A Eucaristia constituirá o centro da Jornada Mundial da Juventude em Colônia e em outubro, da Assembléia Ordinária do Sínodo dos Bispos, cujo tema será: “A Eucaristia, fonte e cume da vida e a missão da Igreja”.
Peço a todos que intensifiquem nos próximos meses o amor e a devoção a Jesus Eucaristia e que expressem com valentia e claridade a fé na presença real do Senhor, sobre tudo mediante a solenidade e a dignidade das celebrações.
Peço-o de modo especial aos sacerdotes, nos que penso neste momento com grande afeto. O sacerdócio ministerial nasceu no Cenáculo, junto com a Eucaristia, como tantas vezes sublinhou meu venerado predecessor João Paulo II. “A existência sacerdotal tem que ter, por um título especial, ‘forma eucarística’, escreveu na sua última carta para a quinta-feira Santa. A este fim contribui sobre tudo a devota celebração cotidiana da Santa Missa, centro da vida e da missão de cada sacerdote.
Alimentados e sustentados pela Eucaristia, os católicos não podem deixar de sentir-se estimulados a tender a aquela plena unidade que Cristo desejou ardentemente no Cenáculo. O Sucessor de Pedro sabe que tem que fazer-se cargo de modo muito particular deste supremo desejo do Mestre divino. A Ele lhe confiou a tarefa de confirmar aos irmãos.
Plenamente consciente, portanto, ao início de seu ministério na Igreja de Roma que Pedro regou com seu sangue, seu atual sucessor assume como compromisso prioritário trabalhar sem economizar energias na reconstituição da unidade plena e visível de todos os seguidores de Cristo. Esta é sua ambição, este é seu urgente dever. É consciente de que para isso não bastam as manifestações de bons sentimentos. São precisos gestos concretos que entrem nos ânimos e removam as consciências, levando a cada um àquela conversão interior que é o condição para tudo progresso no caminho do ecumenismo.
O diálogo teológico é necessário. Também é indispensável aprofundar nas motivações históricas de decisões tomadas no passado. Mas o que mais urge é aquela “purificação da memória”, tantas vezes evocada pelo João Paulo II, que unicamente pode preparar os ânimos a acolher a plena verdade de Cristo. Cada um deve apresentar-se diante de Deus, Juiz supremo de tudo ser vivo, consciente do dever de lhe render contas um dia do que tem feito ou não tem feito pelo grande bem da unidade plena e visível de todos seus discípulos.
O atual Sucessor de Pedro se deixa interpelar em primeira pessoa por esta pergunta e está disposto a fazer todo quanto for possível para promover a fundamental causa do ecumenismo. Seguindo a seus predecessores, está plenamente determinado a cultivar todas as iniciativas que possam ser oportunas para promover os contatos e o entendimento com os representantes das diversas igrejas e comunidades eclesiásticas. A eles, envia também nesta ocasião, a saudação mais cordial em Cristo, único Senhor de todos.
Volto com a memória neste momento à inesquecível experiência que vivemos todos com ocasião da morte e do funeral pelo chorado João Paulo II. Junto a seus restos mortais, colocados na terra, recolheram-se os chefes das nações, pessoas de todas as classes sociais, e especialmente jovens, em um inesquecível abraço de afeto e admiração. O mundo inteiro cravou seu olhar nele com confiança. A muitos pareceu que aquela intensa participação, amplificada até os limites do planeta pelos meios de comunicação social, fosse como uma petição comum de ajuda dirigida ao Papa por parte da humanidade, que turvada por incertezas e temores, interroga-se sobre seu futuro.
A Igreja de hoje deve reavivar em si mesmo a consciência da tarefa de voltar a propor ao mundo a voz daquele que há dito: “Eu sou a luz do mundo; quem me segue não caminhará nas trevas, mas terá a luz da vida”. Ao empreender seu ministério, o novo Papa sabe que seu dever é fazer que resplandeça diante dos homens e mulheres de hoje a luz de Cristo: não a própria luz, mas a de Cristo.
Com esta consciência dirijo a todos, também àqueles que seguem outras religiões ou que simplesmente procuram uma resposta às perguntas fundamentais da existência e ainda não a encontraram. Dirijo-me a todos com simplicidade e afeto, para assegurar que a Igreja quer seguir mantendo com eles um diálogo aberto e sincero, a procura do verdadeiro bem do ser humano e da sociedade.
Invoco de Deus a unidade e a paz para a família humana e declaro a disponibilidade de todos os católicos a cooperar em um autêntico desenvolvimento social, respeitoso da dignidade de todos os seres humanos.
Não economizarei esforços e sacrifício para prosseguir o prometedor diálogo iniciado por meus venerados predecessores, com as diversas civilizações, para que da compreensão recíproca nasçam as condições para um futuro melhor para todos.
Penso em particular nos jovens. A eles, interlocutores privilegiados do Papa João Paulo II, dirijo meu afetuoso abraço em espera -se Deus quiser-, de encontrá-los em Colônia, com motivo da próxima Jornada Mundial da Juventude. Queridos jovens, futuro e esperança da Igreja e da humanidade, seguirei dialogando e escutando suas esperanças para lhes ajudar a encontrar cada vez com maior profundidade a Cristo vivente, o eternamente jovem.
Emane nobiscum, Domine! Senhor, fica conosco! Esta invocação, que é o tema dominante da carta apostólica do João Paulo II para o Ano da Eucaristia, é a oração que brota de modo espontâneo de meu coração, enquanto me disponho a iniciar o ministério ao que me chamou Cristo. Como Pedro, também eu renovo a Deus minha promessa de fidelidade incondicional. Quero servir somente a Ele, me dedicando totalmente ao serviço de sua Igreja.
Invoco a materna intercessão de María Santíssima para que sustente esta promessa. Em suas mãos coloco o presente e o futuro de minha pessoa e da Igreja. Que intercedam também os Santos apóstolos Pedro e Paulo e todos os Santos.
Com estes sentimentos reparto a vós, venerados irmãos cardeais, aos que participam neste rito e a quantos o seguem mediante a rádio e a televisão uma especial e afetuosa bênção”.
Comments0