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3 DE SETEMBRO
PAPA E DOUTOR
(CA. 540-604)
Gregório, sempre atento aos desígnios de Deus a respeito de sua pessoa, exerceu as funções mais elevadas na Igreja e, suprindo as carências dos outros, interveio também no campo civil, mas com a clara consciência de cumprir um dever e de ser um simples “servo dos servos de Deus”.
Nasceu em Roma por volta do ano 540, da nobre família dos Anici. Seu pai, Gordônio, senador, e sua mãe Sílvia eram estimados pela comunidade cristã e depois que morreram foram elencados entre os santos. Duas tias, Tarsila e Emiliana, tinham se consagrado como virgens e entre os seus antepassados encontramos dois papas, Félix III e Agapito. Pode-se dizer que Gregório, desde pequenino, bebeu o cristianismo junto com o leite materno que o nutriu.
Frequentou com proveito a escola, estudando Letras e especializando-se depois em Direito. Pela particular posição social da família foi destinado à carreira, então prestigiada, de funcionário imperial.
Com 30 anos apenas foi nomeado prefeito da cidade, o mais eminente cargo civil de Roma. Devia ocupar-se com o bom funcionamento de toda a máquina estatal, da segurança pública e do abastecimento de gêneros alimentícios. Além disso, devia ter bom relacionamento com o Papa, que tinha uma grande importância social, e estar sempre atento às disposições que lhe vinham do exarca de Ravena, que representava o imperador no Ocidente.
Não era uma vida nada fácil, mas foi uma experiência preciosíssima. Em seus anos de oficial público, fez sua a secular experiência da administração pública e colocou-se a serviço dos cidadãos, sem jamais se deixar corromper.
Em seu governo, Roma refloresceu e até mesmo os pobres tiveram com o que alimentar a si e aos seus. Dessa maneira, não só ganhou a estima das autoridades do império, às quais Roma tinha dado sempre enorme atenção, mas conquistou o amor geral de todos os romanos, que gostavam de chamá-lo de “o cônsul de Deus”.
Tinha feito, em pouco tempo, uma carreira invejável; seu futuro estava assegurado. O exarca de Ravena, ao receber o acerto de contas anual do governo da Urbe, não podia senão que elogiá-lo. Uma coisa, porém, deixava todos curiosos: por que jamais esse brilhante funcionário, que vestia com graça a vestimenta de seda guarnecida de pedras preciosas, como convinha ao seu status social, não se casava? As irmãs de Gregório tinham permanecido virgens, levavam vida monástica na casa paterna; em Roma e nos arredores floresciam mosteiros masculinos e femininos, onde se recolhia a fina flor da juventude que, renunciando ao mundo, retirava-se em alegre companhia para aquele otium tão diferente do ócio dos antigos romanos porque era povoado de realidades celestes.
Gregório pensou durante muito tempo e, depois da morte de seu pai, quando até mesmo sua mãe se retirou para um mosteiro, realizou o sonho que há tanto tempo vinha amadurecendo no seu coração. Destinou a casa paterna – um grande complexo construído com gosto de gerações por gerações de antepassadas sobre o monte Célio – para mosteiro intitulado Santo André e outros seis construiu-os em suas terras na Sicília.
Após ter entregado seu cargo de prefeito nas mãos do exarca, cumprindo de maneira escrupulosa todos os atos prescritos pela lei, enriquecido só com a bem-aventurança evangélica da pobreza, apresentou-se a Valeriano, o abade de Santo André, para pedir humildemente que lhe fosse permitido fazer em suas mãos a profissão monástica. Depôs as vestes luxuosas de seda e passou a envergar o humilde hábito de monge.
Livre das preocupações terrenas, podia finalmente mergulhar nas coisas de Deus. Observava a regra monástica ao pé da letra: oração, estudo, trabalho e severas penitências. Os jejuns prejudicaram-lhe para sempre o estômago; o trabalho, mesmo o manual, não lhe agradava muito, mas onde se realizava plenamente era na oração e no estudo da palavra de Deus.
Mais tarde, recordará com saudades desse período de luz: “Na verdade, quando eu estava no mosteiro tinha condições não só de impedir à língua as palavras inúteis, mas ter ocupada a mente em um estado quase contínuo de oração profunda, mas depois que submeti minhas costas ao peso do múnus pastoral, meu espírito não mais pôde se recolher em si mesmo, porque está dividido entre muitas atividades. Sou constrangido ora a cuidar das questões das Igrejas, ora dos mosteiros, frequentemente a examinar a vida e as ações das pessoas; ora a interessar-me por atividades particulares dos cidadãos, ora a gemer sob as espadas dos bárbaros invasores e a temer os lobos que rondam o rebanho que me foi confiado”.
À contemplação unia o estudo da Escritura e dos padres. Não conhecendo bem o grego, lia a Vulgata e os padres latinos, sobretudo Agostinho e Jerônimo. Foram anos preciosos para crescer na sabedoria sem se ensoberbecer. “Os homens santos” – escrevia – “quanto mais avançam na virtude diante de Deus, tanto mais se veem indignos; porque enquanto se aproximam mais da luz, descobrem o que neles estava escondido; e quanto mais aparecem a si mesmos disformes exteriormente, tanto mais é belo aquilo que vêem no interior”.
Tudo isso acontecia graças ao carisma monástico. Gregório estava convencido de que seria monge para sempre
O Papa desse tempo, mesmo deixando-o no mosteiro, ordenou-o diácono e lhe confiou a coordenação da ação caritativa da Igreja. Quem melhor do que ele teria sabido prover às necessidades de uma cidade, cada dia mais repleta de pessoas que vinham de todos os cantos, pedindo proteção contra as invasões intermináveis daqueles povos que desciam ameaçadores dos Alpes?
Quando o Papa Pelágio II teve a necessidade de um apocrisiário, isto é, de um representante, junto ao imperador do Oriente, dirigiu-se a Gregório, que aceitou com a condição de poder continuar a viver como monge. Com o consentimento do Papa, transferiu-se junto com o seu abade, Maximiano, e algum outro monge para a cidade dourada. No novo ambiente, onde cada dignitário estava habituado ao luxo e às intrigas, o apocrisiário com a sua pequena comunidade brilhava como uma rara pérola preciosa, suscitando a admiração do imperador e da corte.
Não conseguiu muito quando, em nome do Papa, pediu ajuda militar para defender a Itália, porque estava acontecendo a guerra contra os persas que invadiam os limites orientais, mas a permanência em Constantinopla permitiu-lhe conhecer diretamente o mundo oriental e isso revelou-se importante para sua futura missão de Papa.
Em Constantinopla, recebeu a visita de São Leandro, bispo de Sevilha, que quis participar da vida do pequeno mosteiro enquanto realizava seus afazeres junto da corte e, encantado com as explicações que Gregório fazia aos seus monges sobre o Livro de Jó, exortou-o a escrevê-las e a ele presenteá-las. Nasceu assim o volume Moralia in Job, conferências espirituais sobre o Livro de Jó, e entre os dois nasceu uma profunda amizade, fundamentada na mútua estima e no comum amor pela Igreja.
Em 585, o Papa Pelágio II chamou-o a Roma e, mesmo deixando-o no mosteiro de Santo André, tornou-o seu conselheiro particular. Não havia prática de alguma importância que não passasse pelas suas mãos.
SERVO DOS SERVOS DE DEUS
Em 589, tremendas calamidades se abateram sobre a cidade de Roma e nos arredores: uma série de tempestades interrompeu as comunicações estatais com a capital, impedindo o transporte do reabastecimento de víveres; o Tibre havia transbordado, provocando a destruição de inumeráveis moradias e dos armazéns de grãos; finalmente, tinha-se deflagrado a peste bubônica. Também o Papa Pelágio morreu por causa da epidemia.
Gregório foi aclamado Papa por unanimidade. Ele tentou se subtrair, recorrendo a todos os meios. Escreveu, por fim, uma carta ao imperador do Oriente que, de acordo com o costume, deveria exprimir o seu parecer a respeito da eleição papal, pedindo-lhe para não dar o seu consentimento. Com Maurício tinha relações de profunda amizade desde quando era apocrisiário.
O imperador não recebeu jamais essa carta, porque o prefeito de Roma desse tempo não a deixou partir, enviando outra missiva na qual suplicava ao imperador para confirmar aquele que o povo e o clero tinham designado unanimemente. Maurício sentiu-se muito satisfeito por dar sua aprovação. O monge tentou então a fuga, mas foi trazido para Roma e conduzido diretamente a São Pedro, onde todos o esperavam para a ordenação. Compreendeu, então, que a escolha vinha de Deus e teria sido temerário continuar a lhe resistir.
Consciente então de sua missão, preparou-se com uma visão ampla impressionante. Ele soube ler com clareza os sinais de seu tempo. O que restava do Império Romano se concentrava, nesse tempo, no Oriente, enquanto o Ocidente estava abandonado ao seu destino. Os novos povos, durante séculos desconhecidos no lado de lá dos limites do Império Romano e considerados bárbaros, rompidas então todas as barreiras espalhavam-se por todo o Ocidente e algumas vezes se apresentavam até as portas de Constantinopla, impondo-se em toda parte pela força. Não era mais possível continuar a ignorá-los.
Se Agostinho, diante das destruições causadas pelos vândalos na África, pensou que tinha chegado o fim do mundo, Gregório, em vez disso, diante da pressão desses novos povos estava convencido de que eles, mesmo que inconscientemente e com meios frequentemente violentos, reclamavam em alta voz o direito de ser evangelizados.
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