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Muita gente, ao ler a Bíblia, se fixa em detalhes que deixam de lado a mensagem fundamental do texto. Por exemplo: se perguntarmos quem era o profeta Jonas, a maioria vai se referir a um profeta que a baleia engoliu (o que também estaria errado porque o texto fala em peixe , não em baleia). E a mensagem que a história quis transmitir não se menciona…
Outra atitude comum é deixar de lado a mensagem e colocar em questão dados que nos parecem inaceitáveis, coisas do tipo: Noé tinha mesmo seiscentos anos quando veio o dilúvio? A história de Davi e Golias foi assim mesmo? Mas a grande pergunta a ser feita quando se lê a Bíblia deve ser de outra natureza: O que Deus está querendo me dizer com isso?
Essa pergunta é válida até para textos que às vezes nos incomodam. Por exemplo, no final do salmo 137, falando do povo da Babilônia, o grande inimigo, se diz: “Feliz quem agarrar e esmagar teus recém-nascidos contra a rocha.” Se ficarmos presos ao pé da letra, será um texto chocante. Mas se cada um perguntar o que isso pode dizer a respeito da sua vida podemos refletir noutra direção. Não estamos diante da Babilônia, que aí vem como símbolo do que afasta o povo de Deus. Então nossos “inimigos” hoje seriam outros: nossa vaidade, nossas idolatrias modernas, nossa indiferença diante das necessidades do próximo, nossos maus desejos, nossa ganância… e o que mais? Aí seria bom que essas coisas fossem destruídas enquanto são “recém-nascidas” porque depois crescem e vão ficando mais poderosas. Um outro modo de ler o texto buscando uma mensagem de Deus seria pensar: ficamos tão horrorizados quando se fala em esmagar os bebês da Babilônia contra a rocha, mas muitas crianças em nossa sociedade estão privadas de direitos básicos, até com a vida ameaçada. Como reagimos diante disso?
Textos menos problemáticos devem ser também motivo de questionamento nessa mesma direção. Temos na Bíblia Jesus curando cegos, paralíticos, leprosos. Então podemos nos perguntar: o que Deus está nos convidando a fazer quando lemos esses fatos? Mesmo sem realizar o que geralmente é chamado de “milagre”, podemos nos inspirar nos atos de Jesus para fazer muitas coisas boas e importantes. Quem ensina um analfabeto a ler está curando um tipo de “cegueira”, quem dá condições para alguém se preparar e conseguir um emprego está libertando um “paralítico”, quem acolhe e busca compreender com afeto uma pessoa que se sente rejeitada está dando condições para acabar com uma “lepra” que gerava isolamento e desvalorização.
A Bíblia trabalha também com muitas listas e genealogias, mostrando como a história do povo vai sendo construída ao passar por tantas pessoas diferentes. E nossa vida também não é assim? O que conseguimos ser dependeu e vai continuar dependendo de muita gente: antepassados, nossos pais e irmãos, gente que nos instruiu, gente que nos feriu e assim nos mostrou que não devemos ferir outros, amigos que nos ajudaram ou que nós conseguimos ajudar, biografias que admiramos ou exemplos que nunca gostaríamos de seguir… tudo isso vai construindo a pessoa que hoje somos. Nesse espírito, D. Pedro Casaldáliga, no livro “Na procura do reino”, nos oferece um pequeno poema que pode inspirar muito nossas orações:
Ao final do caminho me dirão:
– E tu, viveste? Amaste?
E eu, sem dizer nada,
Abrirei o coração cheio de nomes.
Não se trata simplesmente de “saber” o que a Bíblia diz sobre os fatos que fazem parte da história da salvação. O importante é perguntar: o que isso me convida a fazer? Sabemos que no dia de Pentecostes a descida do Espírito Santo, que marca o início da Igreja, fez com que cada um entendesse em sua própria língua o que os apóstolos estavam dizendo. Em vez de ficar apenas admirados diante de tal fenômeno, é importante questionar: e nós, como Igreja, estamos falando uma língua que cada pessoa, de acordo com a sua cultura, suas experiências de vida, suas necessidades, pode sentir como sendo sua?
Se a catequese trabalhar bem essa atitude de sempre colocar em destaque a mensagem que cada texto traz para a vida de cada um estará promovendo uma construtiva conversa com Deus em cada leitura bíblica.
Para isso é preciso saber ouvir o que cada um sente, necessita ou tem a oferecer. Como estamos fazendo isso na catequese?
Por Therezinha Mota Lima da Cruz (Catequese do Brasil)
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