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Os frades da Província Carmelitana de Santo Elias (PCSE), por meio do canal ‘Somos Carmelitas, no YouTube, criaram a série “Aprenda com Santa Teresa de Jesus”, com o objetivo de aprofundar alguns temas da espiritualidade carmelitana, como os apresentados pela santa carmelita, mística, doutora da Igreja e mestra de oração.
Durante o mês de maio, os fiéis tiveram a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre ‘Os quatro graus da oração’ como Santa Teresa apresenta no Livro da Vida. Temática importante para quem deseja iniciar uma vida de oração e busca ter uma intimidade com Deus.
Dentro deste contexto, Frei Juliano Luiz da Silva, O.Carm. – que escreveu e apresenta a série no YouTube – também preparou alguns artigos sobre o tema, que serão publicados no site Carmelitas como forma de auxiliar os fiéis nesta caminhada oracional.
Introdução
É natural que em momentos de maiores dificuldades o ser humano sinta necessidade de conversar mais com Deus e intensificar a vida de oração. O Pai amoroso continua sempre esperando seus filhos que um dia estiveram distantes. Porém, muitas vezes não é fácil iniciar a vida de oração. Muitos sentem dúvidas sobre o que fazer, como falar, aonde ir. Nós, carmelitas, somos por vocação, “orientadores na vida espiritual”, e precisamos dar uma resposta àqueles que desejam experimentar a intimidade com Deus. Pensando nisso, apresentamos com muita simplicidade os graus da oração em Santa Teresa de Jesus.
Em um período de muita preocupação por causa das necessidades do mosteiro de São José em Ávila, Teresa encontrou tempo para relatar as graças que Deus a concedia na oração. Foi um pedido do Frei Garcia de Toledo, um de seus confessores e orientadores na vida espiritual. Este tema ocupa o centro de sua autobiografia, mais precisamente a partir do capítulo 11 do Livro da Vida.
Para falar dos graus da oração, Santa Teresa usa a imagem de um jardim que o principiante, ou seja, aquele que decide ter vida de oração vai cultivar em terreno ruim, devendo, portanto, fazer brotar “flores de perfume suavíssimo” para agradar ao Senhor. Sua metodologia sugere quatro maneiras de regar esse jardim para atingir o objetivo, nesse caso, fazer crescer as virtudes no terreno pedregoso da alma, tornando-o fértil para o deleito de Sua Majestade. A santa afirma que ela mesma passou por cada um desses graus e seu intuito é mostrar que amar a Deus com perfeição é um caminho que exige tempo.
“Quem principia deve ter especial cuidado, como quem fosse plantar um jardim, para deleite do Senhor, em terra muito improdutiva.”
1º Grau da Oração
Os capítulos 11, 12 e 13 são dedicados ao primeiro grau, uma orientação aos principiantes e aos que não encontram alegria na oração. Consideremos as imagens usadas por Teresa, temos um terreno seco e pedregoso que podemos imaginar como a nossa alma, o dono desta terra que é Deus e o jardineiro que somos nós.
“Com a ajuda de Deus, temos de procurar, como bons jardineiros, que essas plantas cresçam, tendo o cuidado de regá-las para que não se percam e venham a dar flores.”
Neste início da vida de oração o jardineiro principiante deve “buscar a água num poço, com a ajuda de um balde” para regar o jardim do Senhor. Aqui o trabalho é árduo e cansativo, podendo ocorrer diversas vezes que ao puxar o balde o jardineiro perceba que o poço está seco. O desânimo pode ser uma grande arma do inimigo para fazer com que o ele desista de seu ofício.
O primeiro passo para quem deseja ter vida de oração é colocar-se diante de Deus com humildade, reconhecendo as próprias fraquezas e limitações. Deixar-se enamorar pela humanidade de Cristo, falando com ele, chorando na dor, sorrindo na alegria e usando palavras que expressem os próprios desejos e necessidades.
“Imaginem que estão diante de Cristo e, sem cansar o intelecto, falem e alegrem-se com o Senhor, sem o trabalho de formular raciocínios”.
Teresa indica para esse ponto do caminho a meditação da flagelação do Senhor. Diante do Cristo chagado e atado a uma coluna podemos nos perguntar: quem é este que sofre, porque sofre e com qual amor sofre. É necessário ter a determinação de não deixar Jesus cair sozinho com a cruz, lembrando-se que Ele a carregou até o fim por nossos pecados.
“Pensemos numa passagem da Paixão — por exemplo, a do Senhor atado à coluna — e, com o intelecto, procuremos avaliar as grandes dores e o sofrimento que Sua Majestade teve ali tão só”.
O balde é pequeno e exigirá muitas “idas e vindas” para cumprir o serviço de cada dia e assim alegrar Àquele que é Dono de tal terra. No início da vida de oração todos nós estamos sujeitos ao desânimo e à distração que nos fazem pensar nos inúmeros problemas da vida. Temos duas opções: desistir na primeira vez que retirarmos do poço um balde sem água, abandonando o terreno; ou persistir, voltando ao poço diversas vezes até que a divina providência me faça encontrar, enfim, água para cultivar a terra.
É preciso estabelecer um momento de oração, considerando o local, a disposição do nosso corpo, a agitação dos nossos pensamentos. Porém, existem outras práticas exteriores, como fazer uma obra de caridade ocupar-se de uma boa leitura. É importante que ninguém se atormente por aridez espiritual, inquietação e distração de pensamentos.
Santa Teresa alerta nesse grau para a tentação de nos preocuparmos com os pecados e as culpas que vemos nas outras pessoas. Na verdade, devemos apreciar as virtudes e boas obras que encontramos nos outros e cobrir os seus defeitos pensando nos nossos grandes pecados.
Santa Teresa diz que o conhecimento pessoal e a consciência dos nossos próprios pecados, deve ser neste caminho de oração o pão que acompanha todas as nossas refeições. Conhecer a si mesmo é importante porque não existe, no caminho espiritual, alma que seja tão gigante que não tenha necessidade de retornar a ser criança várias vezes.
“O conhecimento próprio nunca deve ser abandonado, nem haja alma nesse caminho, tão forte, que não precise muitas vezes voltar a ser criança”.
Por fim, preciso lembrar que a humildade é essencial no caminho da oração. Certamente todos nós queremos progredir, mas, será Deus a nos dizer quando estamos prontos para dar o próximo passo. Não nos enganemos de estar tão adiante enquanto ainda estamos no começo. Também, nenhum de nós, pense que estando num grau elevado da oração não possa voltar ao ponto zero.
Frei Juliano Luiz da Silva, O.Carm.
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