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Outro dia, fizemos o passeio de trem entre Campos do Jordão e Santo António do Pinhal – interior de São Paulo. É o trecho ferroviário mais alto do Brasil. Sobe-se a mais de 1700 metros.
No Lageado, o trenzinho pára, permitindo contemplar a magnífica paisagem da serra da Mantiqueira, desde as alturas da Pedra do Baú, majestosa, diante da gente, até as profundidades do vale ensolarado do Paraíba.
Alguns turistas se agitaram com fumadoras e máquinas fotográficas. Nós, minha mulher e eu, ficamos silenciosos. Quando de novo alitorína mergulhou na floresta, exclamei: “Que maravilha! “A única coisa que sei fazer nessas ocasiões” – disse-me ela – “é rezar.”
A leitura da Bíblia é como a viagem no trenzinho de Campos do Jordão. Não tem a facilidade de uma auto-estrada, nem a velocidade de um avião. Á gente vai sacudindo, por passagens difíceis, super antigas, com buracos e marcas deixados por muitas gerações que por ela transitaram. Afundado na floresta dos textos, o leitor, às vezes, já não sabe mais onde está.
De repente, surge um patamar. Uma palavra, um pensamento luminoso, permite, lá das alturas, contemplar a majestade da montanha e adivinhar a riqueza do vale.
Aliança é uma dessas palavras: um verdadeiro patamar, donde se abraça, com o olhar, toda a Bíblia.
Quem lê correndo, passa por ela e nada vê. Como quem viajasse de avião. Mas para quem vai devagar, subindo lentamente no trenzinho da vida e da leitura, a aliança é um foco de luz, que deixa transparecer o segredo da Palavra.
Antes de tudo se vê que aliança não é um objeto ou um ato isolado, mas uma atitude de vida.
Os noivos colocam a aliança nos seus respectivos dedos anulares da mão esquerda, mas o que conta é a atitude, a disposição que os dois proclamam solenemente de ser um do outro e de passar a viver juntos, na alegria e na dor, durante toda a vida, o que quer que aconteça.
Também não basta se comprometer com o outro por palavras. As palavras voam. Quantos compromissos não ficaram no tinteiro, para o dia de são nunca.
A verdadeira aliança é uma atitude que dura toda a vida e se traduz cotidianamente em gestos de fidelidade e de realização do prometido. A aliança é sempre um pacto de vida e de morte; é a condição de duas pessoas que vivem unidas para sempre: um casamento.
A religião é uma aliança entre Deus e nós.
Há muita coisa na religião: orações, graças que se espera, doutrinas e mandamentos. Nada, porém, tem sentido, senão à medida que é expressão e realização da aliança com Deus.
Deus é que quer fazer aliança conosco, é claro. Só faltava a gente querer tomar a iniciativa diante de Deus. Mas não há aliança senão quando o homem aceita esse pacto de vida e morte proposto por Deus e se decide a lhe ser fiel em todas as coisas e em todos os momentos da vida.
Desde o início da humanidade, Deus veio propondo alianças aos homens que, porém nunca lhe foram totalmente fiéis. A primeira parte da Bíblia é a história dessas alianças, tantas vezes rompidas pelo homem, e tantas vezes retomadas por Deus.
A insistência de Deus, porém, tinha um sentido. É que havia de nascer de Maria um justo, que cumpriria até o fim a aliança e aceitaria até a morte, por fidelidade a ela.
Essa nova aliança, entre o Pai e o filho do homem, é a luz que ilumina toda a Bíblia, pois no exemplo e nas palavras de Jesus, conhecemos o Pai, na altura da sua majestade; compreendemos o mundo, como um vale de amor, que tem fome e sede de justiça, e temos acesso ao seu Espírito.
Em geral, dizemos Antigo e Novo Testamento. Mas testamento, aqui, é sinônimo de aliança. Antigo e Novo Testamento quer dizer antiga e nova aliança.
A Bíblia é a história da aliança, do casamento de Deus conosco, realizado no Cristo Jesus, a ser vivido por todos nós, até o fim dos tempos, no mesmo Espírito.
Via Catequisar
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