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Estimado(a) leitor(a) da Revista Ave Maria, começo nossa reflexão mensal de maio propondo uma compreensão sobre a comunidade familiar e suas mediações e vínculos como expressões do amor de Deus.
Um dos elementos que ajudam a compor a essência da vivência cristã é a vida vivida a partir das mediações das pessoas e das instituições, dentre elas a Igreja e o vínculo que estabelecemos com as pessoas e as instituições que colaboram diretamente para a comunhão na comunidade familiar. Não existe cristianismo verdadeiro, real segmento do Cristo, se não existe vida em comunidade. Essa é a vontade de Deus para a humanidade. Se não fosse assim, Jesus não teria reunido pessoas para viver uma fé em comum e fundado uma Igreja, uma comunidade.
Por que viver em comunidade faz parte do plano de salvação de Jesus? Porque o ser humano, que é a imagem e semelhança de Deus, não foi criado para viver sozinho. Logo que criou Adão, Deus disse: “Não é bom que o homem fique sozinho” (Gn 2,18). Essa realidade se confirma observando o cotidiano da nossa vida. Nenhum ser humano consegue se desenvolver sozinho. Imagine se um bebê conseguiria sobreviver sem alguém para alimentá-lo, protegê-lo e abrigá-lo. Nós somos seres essencialmente comunitários pois somos a imagem e semelhança de um Deus que é comunidade. Deus é uno e trino. Ele é uma comunidade perfeita.
A comunidade de Cristo tem, como modelo, a vida trinitária. Sua fonte é a Trindade; seu ponto de chegada é a Trindade, comunhão perfeita entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Jesus nos revela ser Deus uma perfeita comunhão de amor. O Pai ama o Filho e o Filho ama o Pai no Espírito Santo, que os une pelo amor. Jesus é o Filho de Deus, gerado e não criado. Ele se coloca a serviço do Pai e recebe a força do Espírito Santo. O Espírito anima, dá vida a toda a criação do Pai e leva as pessoas a terem fé em Jesus. A Trindade toda sai de si para a salvação do ser humano.
É preciso dizer que nós, seres humanos, somos pecadores, frágeis e tentados a cada momento quando vivemos uma vida em comunidade. O inimigo sabe muito bem que, ao dividir o corpo místico de Cristo, torna-nos enfraquecidos e alvos fáceis para sermos derrotados, pois sem a comunidade não temos pessoas que possam nos ajudar a viver a Palavra de Deus, não temos tanto acesso aos ensinamentos cristãos, não nos alimentamos do pão da vida e não temos conosco pessoas que nos auxiliam nessa longa caminhada com Cristo. Pense bem: quem tem mais chance de vencer uma guerra: um soldado solitário ou um exército numeroso?
Talvez você esteja se sentindo só, mesmo às vezes caminhando com irmãos ou familiares ao seu lado, talvez tenha vivido decepções com pessoas da própria Igreja ou de sua família, mas hoje é preciso dizer a você, meu irmão ou minha irmã: não desista da vida em comunidade, não desista de ligar-se à Igreja, ao corpo de Cristo e não desista de caminhar em comunidade. É preciso perdoar, assim como nos ensina a Palavra do Senhor: perdoar até setenta vezes sete (cf. Mt 18,22). É preciso suportarmos uns aos outros e nos perdoarmos uns aos outros (cf. Cl 3,13).
O evangelista Mateus nos ensina a como sermos discípulos modelos, luz e sal na comunidade, a como oferecermos o sabor da vida de Jesus para todos e como atitudes fundamentais nos convidam a viver o amor, a justiça, a misericórdia e o perdão. Sobre o amor, convida a comunidade familiar a ser imitadora do Pai quando a convida à realização do duplo amor universal: amar a Deus e ao próximo (cf. Mt 22,37-39). Sobre a justiça, a comunidade familiar é convidada a ir além do cumprimento da lei pela busca do Reino de Deus. Jesus diz: “Busquem primeiro o Reino de Deus e sua justiça, e todas essas coisas ficarão garantidas para vocês” (Mt 6,33).
Sobre a misericórdia, Mateus nos dá o ensinamento de Jesus recordando as palavras do profeta Oseias que diz “Quero misericórdia e não sacrifício” (Mt 9,13) (cf. Os 6,6). Na compreensão da comunidade de Mateus, ao serem misericordiosos os discípulos de Jesus se fazem parecidos com o Pai, pois cumprem o mandamento do amor. Assim, quando Jesus é criticado pelo fato de comer com os pecadores e responde que “Não são os sadios que precisam de médico, e sim os doentes” (Mt 9,12), Mateus nos mostra que é a misericórdia o remédio com o qual Jesus vai curar a humanidade. Sobre o perdão, os ensinamentos de Jesus vão nos mostrar que é pela capacidade de perdoar que se cumpre o mandamento do amor. Mateus nos apresenta a parábola que Jesus contava para demonstrar a capacidade de dar o perdão: a parábola do devedor perdoado de uma grande dívida, mas que se recusa a dar o perdão a quem pouco lhe devia (cf. Mt 18,23-35).
Aqui estão as atitudes a que somos chamados a deixar fazer eco na vida da comunidade familiar. No meio em que vivemos, a imagem dominante do ser cristão raras vezes mostra o que é essencial; às vezes se esquece do que é fundamental e então não se espelha a dinâmica cristã fundamental e o sentido da identidade cristã que necessita ser expressa de forma consciente e integral.
Não sei como se encontra agora, como está o seu coração, mas há uma Igreja acolhedora que está de braços abertos para receber você. E o que é uma comunidade familiar senão uma pequena comunidade inserida em uma comunidade maior, a Igreja Católica? A família é o lugar onde podemos caminhar juntos, partilhar nossas angústias e dividir o peso da nossa cruz.
Vamos vencer juntos, pois assim clamou o Cristo ao Pai na Última Ceia: “Para que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti; para que também eles estejam em nós, a fim de que o mundo acredite que tu me enviaste” (Jo 17,21).
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