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Neste ano, a celebração do Dia da Educação não poderia acontecer de forma mais significativa: ao fim deste mês de abril, no Tempo Pascal, após a condução quaresmal que foi convidativa, pela Campanha da Fraternidade, à reflexão educacional por meio do tema “Fraternidade e educação” e do lema da passagem de Provérbios “Fala com sabedoria, ensino com amor ” (Pr 31,26).
O autor moçambicano Mia Couto citado acima faz um convite estimulador. A análise do percurso adotado enquanto educadores e as trajetórias trilhadas pelo ensino brasileiro são tarefas essenciais para, como ele ilumina, manter o sonho e a certeza de que a atuação docente é construtora do futuro.
Contudo, as utopias dos tempos vindouros entraram em crise. A realidade atual sofreu modificações, uma vez permeada pela violência de nossas cidades, marcadas pela existência de milhares de excluídos, vítimas da crise econômica, política e sanitária potencializada pela pandemia.
No momento em que ocorre um assalto da capacidade de estabelecer planos e metas futuras, nos resquícios de um mundo ainda atingido pela pandemia do novo coronavírus e atônito diante dos conflitos bélicos na Europa, a missão educativa emerge como farol contra o obscurantismo e, diante desse contexto, estabelece sua atuação.
Se a leitura de tais princípios educacionais pode denotar uma visão mais intangível perante tantos desafios e situações concretas do cotidiano, tomo a iniciativa de apresentar um relato de minha experiência como diretor de um colégio particular em São Paulo (SP) e como responsável pedagógico por todas as casas educativas da congregação a qual pertenço.
A tão apregoada modificação do ensino, pautada pela prevalência da tecnologia ante uma comunidade educativa em isolamento social, ofereceu inegáveis avanços e a possibilidade de novas práticas de ensino. Contudo, o que também constato, após um longo período de atividades remotas e híbridas, é que os estudantes demandam reaprender muitas habilidades que não foram desenvolvidas a distância. Muito além do aprendizado conteudista, as relações socioemocionais necessitam de atenção e restauração.
Diante de tantos desafios encontram-se os docentes, os quais, por mais um ano, reinventam-se e adequam sua metodologia para uma atuação efetiva e condizente a esta realidade.
Ao voltarmo-nos para o cenário nacional, vislumbramos um doloroso descaso para com a educação. O aniquilamento das políticas públicas, os cortes orçamentários e os índices pífios de aprendizado, após a falta de acesso ao ensino remoto para a rede pública, são dilemas que tangenciam a realidade brasileira, permitindo-nos indagar que conquistas celebrar no Dia da Educação e como elas são capazes de nos deixar abater pela desesperança.
Em relação a tal desestímulo, a Igreja oferece o testemunho de muitos santos, confiáveis auxiliadores para os que se dedicam ao ensino. Não poderia deixar de destacar Santo Antônio Maria Claret, homem à frente de seu tempo que conduziu o serviço educativo como ação missionária. A ele se juntam tantas outras inspirações: São Tomás de Aquino, Santa Teresa de Jesus, São João Batista de la Salle, Santa Úrsula… São corajosos na santidade, que aplicaram o que o Papa Francisco tanto nos ensina: a formação de pessoas disponíveis para o serviço da comunidade. Essa valentia faz lembrar um trecho lindo da poetisa brasileira Adélia Prado que, no seu livro Manuscritos de Felipa, diz: “Pede a Deus aquela saúde de volta, a coragem de atravessar o pontilhão sem vertigem. Quero o Deus que alegrou minha juventude, quero minha juventude, esta é a verdade, à falta dela tenho construído meu bezerro de ouro” (1999, p. 143).
Passados os quarenta dias do deserto da conversão, desponta a luz do fogo novo da ressurreição para nossas atuações educacionais, construtora de uma pedagogia da presença e fidedigna aos ensinamentos do Cristo mestre.
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