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Estimado leitor da Revista Ave Maria, começo nossa reflexão mensal de abril a partir da grande memória da paixão, morte e ressurreição de Jesus na Semana Santa da Igreja, o anúncio da esperança que nasce da ressurreição.
O anúncio de Jesus Cristo tem que ser portador de esperança para todas as pessoas, sobretudo para as famílias. A esperança cristã se fundamenta na memória de Cristo. A ressurreição de Jesus nos diz que Ele não se encontra mais entre os mortos e que, portanto, a ordem deste mundo mortal foi rompida. Aqueles que esperavam que seria Ele que libertaria Israel do domínio romano, que restauraria a realeza, pareciam ver seus ideais terminados com aquela morte, que segundo a teologia reinante (cf. Dt 21,22-23) era morte de maldição. Os discípulos de Emaús confessam: “Nós esperávamos que seria Ele quem iria redimir Israel” (Lc 24,21). O fato de esse abismo intransponível entre a morte de Jesus e aquele primeiro dia da semana ter sido superado por alguns judeus, discípulos do Nazareno, exige uma explicação proporcional ao abismo. A formidável reviravolta, que da profunda depressão e total desespero causado pela morte de Jesus levou à força da fé e ao entusiasmo com que os discípulos o anunciaram como Messias, não se poderia explicar se no tempo intermediário não produzisse um acontecimento excepcionalmente encorajador. O cristianismo primitivo fundava sua fé não sobre uma reconstrução científica do Jesus histórico, mas na escuta da viva proclamação dele morto e ressuscitado.
O grande anúncio daquele primeiro dia da semana: ressuscitou, não está mais aqui. As aparições do ressuscitado são mencionadas explicitamente no kerigma primitivo (cf. 1Cor 15,3-8). Paulo recorda cinco aparições: a Cefas, aos doze, a quinhentos irmãos, a Tiago, a todos os apóstolos e por fim a ele mesmo. Em Marcos não há nenhuma menção. Mateus narra duas aparições: uma em Jerusalém (cf. 28,9-10) e outra na Galileia (cf. 28,16-20). Lucas recorda três aparições e somente na Galileia: aos discípulos de Emaús (cf. 24,3-33), a Simão (cf. 24,34) e a todos os discípulos (cf. 24,36-53). O Evangelho de João é interessado somente em Jerusalém: a Maria Madalena (cf. 20,11-18) e aos discípulos, primeiro sem Tomé e depois com ele (cf. 20,19-28), mas o apêndice do capítulo 21 nos leva à Galileia, com a aparição aos discípulos e com maior insistência sobre Pedro com relação a João. Os Atos dos Apóstolos, enfim, supõem uma sucessão de várias aparições (cf. 1,3; 10,41; 13,31), ainda que somente a última é aos apóstolos (cf. 1,6-11).
Os evangelhos narram ainda a presença das mulheres no sepulcro e a realidade dele vazio, que é explicitamente presente nos quatro evangelhos e somente neles (cf. Mc 16,1-8; Mt 28,1-8; Lc 24,1-8; Jo 20,1-10). A presença das mulheres é confirmada por um contraste da inadmissível função de testemunha segundo a disposição legal judaica, para a qual as mulheres não são testemunhas válidas. A historicidade do sepulcro vazio é dificilmente eliminável.
É a partir da ressurreição de Cristo que o anúncio cristão se tornou kerigma de ressurreição e de vida. Os Atos dos Apóstolos dirão que em seu nome era pregada a remissão dos pecados. Paulo desenvolve o discurso sobre a ressurreição dos mortos a partir da ressurreição de Cristo (cf. 1Cor 15). No Cristo ressuscitado, o eschaton é já presente em toda sua ação de nova qualidade de vida divina. A ressurreição marca o início da recriação definitiva operada por Deus, que ainda uma vez se define como o Deus que dá a vida. Com a ressurreição, tiveram início os eventos salvíficos últimos e definitivos.
A ressurreição, enfim, é uma verdade e não uma ideia ou utopia. Ela constitui o início e a antecipação da geral ressurreição dos justos. Jesus é o primeiro ressuscitado, inaugura um mundo novo e um novo gênero humano, que historicamente se visibiliza na Igreja, sacramento da sua presença salvífica. A ressurreição de Jesus não só representa todas as outras ressurreições, mas também as precede e as torna possíveis. Abre o futuro como um futuro de vida e não só como simples tempo a vir. O Cristo ressuscitado é assim a semente da “nova humanidade”, que imersa na velha humanidade a liberta da escravidão do pecado, da lei e da morte. Jesus ressuscitado é o homem novo e abre para a humanidade um futuro de novidade absoluta. A realidade dessa plenitude e dessa novidade já irrompeu na nossa história, polarizando a marcha para o “estado do ser humano perfeito”, segundo Jesus Cristo.
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