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É um tema que está muito ligado à pessoa e à missão do catequista e muito já se tem escrito sobre isso. O presente artigo faz breve apresentação de duas vertentes teológicas que devem compor a identidade do catequista: a mística e a espiritualidade. A espiritualidade é parte da mística. Num primeiro momento apresentamos de maneira simples conceitos do que vem a ser mística e espiritualidade. Num segundo momento, falaremos sobre a espiritualidade do catequista.
O que é mística?
Há várias definições. Conforme dicionários, mística é um sentimento arraigado de devotamento a uma ideia (por exemplo, a mística do partido político, a mística de movimentos sociais). Pode ser entendida também como uma experiência extraordinária, pessoal com Deus (por exemplo, a mística de São João da Cruz, de Santa Teresa, de São Pio de Pietrelcina).
“Mística” é uma palavra nascida no ambiente das antigas religiões, que eram chamadas religiões mistéricas (de mistérios). Mística e mistérios são palavras relacionadas. “Mística” vem da língua grega, do verbo myein, que quer dizer ocultar, guardar segredo.
Para as religiões mistéricas, quando se falava em mística estava-se referindo ao caráter secreto dos rituais religiosos, secretos e reservados somente aos iniciados. A mística guardava um segredo.
No cristianismo a mística perde o sentido de mistério oculto. Pelo contrário, Paulo diz que ele recebeu de Deus a revelação do mistério e que ele foi encarregado de transmiti-lo:
“Lendo esta carta, vocês poderão entender a percepção que eu tenho do mistério de Cristo. Deus não manifestou esse mistério para as gerações passadas da mesma forma com que o revelou agora, pelo Espírito, aos Seus santos apóstolos e profetas: em Jesus Cristo, por meio do Evangelho, os pagãos são chamados a participar da mesma herança, a formar o mesmo corpo e a participar da mesma promessa” (Ef 3,4-6).
“Essa é a revelação de um mistério que estava envolvido no silêncio desde os tempos eternos. Agora, esse mistério foi manifestado pelos escritos proféticos e por disposição do Deus eterno, e foi anunciado a todos os pagãos, para conduzi-los à obediência da fé ” (Rm 16, 25b-26).
A comunidade cristã começa a chamar também de “mistério” e de “caminho místico” o processo de iniciação cristã especialmente, os sacramentos do Batismo e da Ceia.
A mística cristã primitiva era essencialmente litúrgica. Daí aparecerem naquele tempo escritos dos santos padres com fundo doutrinário-litúrgico, como as conhecidas “Catequeses mistagógicas” (mistagógica, de mystés = iniciação). Tais catequeses são fundamentalmente explicações de ritos e de liturgia – que eram considerados e chamados “os mistérios”.
Mais tarde a palavra “mística” passou a significar experiências extraordinárias de algumas pessoas que tinham alcançado determinado grau de santidade. Por isso, recebiam de Deus visões e revelações especiais. Mística era, nesse tempo, uma experiência de profundo conhecimento e vida de comunhão com Deus (assemelha-se ao que hoje é a espiritualidade). Místico é, para a maioria das pessoas, um indivíduo ligado a Deus, com grande vida interior, com visões e êxtases.
Ultimamente a palavra – sem perder esse cunho tradicional – enriquece-se com outros componentes. Por exemplo, mística é a forte motivação para uma tarefa, para um compromisso. Ela deixa de ser algo elitista e passa a ser uma vocação à qual todos têm acesso: viver a mais profunda intimidade com Deus.
Essa experiência é feita hoje no âmbito das mais diferentes religiões. Desse modo, podemos falar de mística hinduísta, islâmica, cristã, judaica, etc. Hoje popularizaram-se os místicos, tanto orientais, como islâmicos e cristãos. No âmbito cristão são muito conhecidos e admirados os místicos São João da Cruz e Santa Teresa de Jesus.
Enfim, mística vem a ser resumidamente motivação, força, dinâmica e energia que levam a pessoa ao ponto de chegada indicado pela espiritualidade: a meta que é Deus. (cf.BARROS, M. “O re-encanto da vida”. Curso de Verão, ano XI, p. 18-24).
Sem a mística, a espiritualidade esvazia-se. Ela é o combustível para se fazer a caminhada (BEOZZO, J.O. “Espiritualidade e Mistica” Curso de Verão, ano XI, p. 6)
O que é espiritualidade?
Espiritualidade não é uma referência a coisas do espírito ou da alma; não é também uma contraposição ao que é material.
Espiritualidade refere-se ao Espírito de Deus, Espírito Santo. Uma realidade provocada, vivida, interiorizada, por obra do Espírito Santo.
Espiritualidade é primeiramente a capacidade de a pessoa entrar em harmonia consigo mesma, vivendo na paz; é a capacidade de dialogar, de expressar toda a força de sua interioridade, de abrir-se e acolher todo o amor de Deus. Espiritualidade, dizia o Dalai Lama, “é aquilo que produz no ser humano uma mudança interior e o leva a mudar o mundo”.
A procura da espiritualidade é uma exigência da própria natureza humana, pois o homem sempre procura o equilíbrio interior; quanto mais ele acolher e obedecer à voz do Espírito que mora dentro dele, tanto mais estará construindo esse equilíbrio (Rm 8, 16 e 26). Se a mística é o ponto de chegada, a meta no encontro com Deus, a espiritualidade é o caminho, o método, o instrumento.
Por isso, há muitas espiritualidades. Todas elas têm pontos em comum e pontos específicos. No cristianismo não há escolas de mística, mas de espiritualidades. E todas elas se fundamentam na Palavra de Deus, centralizam-se na Pessoa e missão de Jesus Cristo e promovem o mútuo crescimento na solidariedade.
São clássicas a espiritualidade dos monges do deserto (renúncia, isolamento, vida eremítica como caminho para Deus), a espiritualidade franciscana (contemplação e ação, pobreza, minoridade e seguimento na fraternidade), a espiritualidade inaciana e outras. Hoje em dia, em nível de América Latina, falamos de uma espiritualidade latino-americana ou de “libertação”. Vem a ser uma forma de viver o Evangelho de modo concreto pelo compromisso com a vida do povo sofrido, procurando alternativas de libertação. Libertação do esquema de pecado que leva à opressão, à exclusão dos irmãos.
Espiritualidade, enfim, é tudo o que ajuda a pessoa ou a comunidade a viver uma vida nova “conduzida pelo Espírito de Deus”. A energia para realizar isso está dentro de cada um, é a obra de Deus, independentemente de cultura ou religião.
Por Frei Mauro A. Strabeli
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