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Estimado(a) leitor(a) da Revista Ave Maria, começo nossa reflexão mensal de agosto sobre a família no plano de Deus em sintonia com a Semana Nacional da Família 2022, que tem como tema “Amor familiar, vocação e caminho de santidade!”, em sintonia com o 10º Encontro Mundial das Famílias, convocado pelo Papa Francisco, e o 15º Congresso Nacional da Pastoral Familiar, marcado para o fim de agosto em Governador Celso Ramos (SC).
O primeiro espaço no qual tem vida a ordem da caridade é a família, que constitui o objeto direto e específico do quarto mandamento, segundo o enunciado de Êxodo 20,12: “Honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá”. Encontramo-nos diante de uma apresentação tradicional do quarto mandamento, assim como a encontramos na teologia moral.
É uma apresentação que, na verdade, privilegiou o objeto direto e específico, deixando um espaço mais ou menos limitado e junto uma tratativa genérica e formal ao objeto indireto, ou seja, ao relacionamento na sociedade civil: o quarto mandamento dirige-se expressamente aos filhos em suas relações com seus pais e suas mães, porque tal relação é mais universal. Diz respeito também às relações de parentesco com os membros do grupo familiar. Manda prestar honra, afeição e reconhecimento aos avós e aos antepassados. Estende-se, enfim, aos deveres dos alunos para com o seu professor, dos empregados para com os seus patrões, dos subordinados para com os seus chefes, dos cidadãos para com a sua pátria, os que a administram ou a governam. Esse mandamento implica e subentende os deveres dos pais, tutores, professores, chefes, magistrados, governantes, de todos os que exercem uma autoridade sobre outros ou sobre uma comunidade.
Como se pode imediatamente revelar, o quarto mandamento, segundo essa concepção, tende a abranger o vastíssimo âmbito da moral social e política: um âmbito que a reflexão teológico-moral de hoje assume além disso e, assim, outras linhas tradicionais e inovadoras da tradição do quarto mandamento. Não é sem significado que o quarto mandamento vem assumindo e propondo como paradigma das diversas formas de realização das relações sociais. Tal significado pode resumir em relação seja à família, seja à sociedade.
Quanto à família, deve-se ver a sua relevância social, em chave genética ou procriativa e em chave cultural ou educativa: a família é a célula originária da vida social. É a sociedade natural onde o homem e a mulher são chamados ao dom de si no amor e no dom da vida. A autoridade, a estabilidade e a vida de relações dentro dela constituem seus fundamentos de liberdade, segurança e fraternidade. A família é a comunidade na qual, desde a infância, podem-se assimilar os valores morais, em que se pode começar a honrar a Deus e a usar corretamente a liberdade. A vida em família é iniciação para a vida em sociedade. Com o símbolo da reciprocidade, a sociedade recebe da família o testemunho, o modelo e o estímulo para impostar e viver as suas relações no respeito e na promoção do caráter eminentemente pessoal dos membros da sociedade: as nossas relações com o próximo são de caráter pessoal. O próximo não é um “indivíduo” da coletividade humana, ele é “alguém” que, por suas origens conhecidas, merece atenção e respeito individuais.
Uma leitura atenta do quarto mandamento, que constitui um dos fundamentos da doutrina social da Igreja, mostra claramente que esta não se limita a uma apresentação de ética ou de filosofia moral, também obviamente forte é o peso de uma reflexão antropológica e de um patrimônio cultural acessível a simples razão humana: configura-se como uma apresentação especificamente teológica. Teológica porque da família e das mais amplas relações sociais vem proposto o desígnio de Deus, que é impresso na natureza, na estrutura nativa e originária de tal realidade e que foi desvelado na história da salvação, na revelação e na experiência de fé de Israel e do novo povo de Deus, que é a Igreja. Um testemunho sobre é dado recorrendo-se aos textos bíblicos e aos documentos do magistério.
Portanto, a família se revela na sua verdade plena como família cristã, ou seja, família salva por Jesus Cristo e por Ele feita comunidade salvante, sinal e instrumento mediante o Sacramento do Matrimônio de salvação. O Catecismo da Igreja Católica apresenta a família cristã como “pequena Igreja doméstica”, uma dimensão que encontrou um singular desenvolvimento na Exortação Apostólica Familiaris Consortio: “É antes de tudo a Igreja mãe que gera, educa, edifica a família cristã, operando em seu favor a missão de salvação que recebeu do Senhor. Com o anúncio da Palavra de Deus, a Igreja revela à família cristã a sua verdadeira identidade, o que ela é e deve ser segundo o desígnio do Senhor; com a celebração dos sacramentos, a Igreja enriquece e corrobora a família cristã com a graça de Cristo em ordem à sua santificação para a glória do Pai; com a renovada proclamação do mandamento novo da caridade, a Igreja anima e guia a família cristã ao serviço do amor, a fim de que imite e reviva o mesmo amor de doação e sacrifício que o Senhor Jesus nutre pela humanidade inteira. Por sua vez, a família cristã está inserida a tal ponto no mistério da Igreja que se torna participante, a seu modo, da missão de salvação própria da Igreja: os cônjuges e os pais cristãos, em virtude do Sacramento, ‘têm assim, no seu estado de vida e na sua ordem, um dom próprio no Povo de Deus’ (Constituição Dogmática sobre a Igreja Lumen Gentium, 11). Por isso não só ‘recebem’ o amor de Cristo tornando-se comunidade ‘salva’, mas também são chamados a ‘transmitir’ aos irmãos o mesmo amor de Cristo, tornando-se assim comunidade ‘salvadora’. Desse modo, enquanto é fruto e sinal da fecundidade sobrenatural da Igreja, a família cristã torna-se símbolo, testemunho, participação da maternidade da Igreja” (49).
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