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É chegada a comemoração da data magna da cristandade: o Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo. É o momento em que se inicia efetivamente o Mistério da Redenção, o resgate do homem cativo, privado da graça, desde pecado dos primeiros pais. E tal é a grandiosidade desse acontecimento que Deus foi preparando a humanidade desde o dia em que os expulsou do Paraíso. A partir daquele instante, em que os portões se fecharam, ou seja, em que rompeu-se a estreita ligação que tinha a criatura com o Criador, iniciou-se o processo para resgatá-lo daquela privação, para desagravar aquela ofensa cometida contra Deus.
E por séculos Ele preparou o seu povo, primeiro elegendo aquela casa que iria resgatar a dignidade humana, depois por meio dos ritos, sacrifícios, figuras, símbolos, até que vieram os profetas, anunciando a maravilha que estava por vir; “muitas vezes e de diversos modos outrora falou Deus aos nossos pais pelos profetas” (Heb 1,1).
Mas é chegada a hora em que o próprio Deus encarnado é quem vem nos mostrar o caminho e, pelo seu holocausto, resgatar-nos da culpa original. “Ultimamente nos falou por seu Filho, que constituiu herdeiro universal, pelo qual criou todas as coisas” (Heb 1,2). E veio ao mundo o Cristo Jesus, que “por nós e pela nossa salvação desceu do céu”, conforme professamos nos artigos de nossa fé. “Luz para iluminar as nações e para a glória de vosso povo de Israel”, como canta a Liturgia deste tempo, aludindo à universalidade do senhorio de Cristo que se instaura a partir daquele momento, para todos os povos e também para os hebreus, que aguardavam o Messias prometido.
No momento em que a Santa Igreja comemora o Natal de Jesus, devemos todos concorrer para a propagação desta solenidade por todo o orbe. É o renascimento da esperança da eternidade em nossos corações. Renovam-se os anseios de fraternidade, as aspirações de paz, os votos de prosperidade, no entanto esquecem-se que nada disso provém do homem em si, se não buscar a inspiração naquele que tudo pode e que conduz-nos pelo único caminho da salvação, que é a fé católica.
É, pois, no presépio de Belém que encontraremos as disposições necessárias ara a construção de uma civilização cristã que sobreviverá a todos os governos, que enfrentará convicta todos os sistemas, que subjugará os tiranos e atrairá os mansos de coração, para que todos alcancemos a plenitude da graça na convicção de que tudo deve se convergir ao trono donde impera o “Príncipe da Paz”, o “Pai dos séculos futuros”, o “Sol da Justiça”.
No presépio de Belém busquemos os exemplos que nos assegurarão as virtudes cristãs que nos asseguram a salvação. O estábulo, pobre, infestado por um fedor às vezes repugnante; mas foi ele o “palácio” onde nasceu o Deus feito homem. Quantas vezes nosso íntimo é mais fétido ainda pela corrupção da graça que nos causa o pecado, pelos ressentimentos, pela ingratidão, pela omissão, pelo respeito humano… Ainda assim, Jesus quer vir renascer em nosso coração. Deixemo-lo, pois, pedindo a sua misericórdia.
Os pastores acorreram ao local, aos lhes terem sido anunciado pela coorte angélica: “Hoje vos nasceu na Cidade de Davi um Salvador, que é o Cristo Senhor” (Lc 2,11). E na sua humildade creram no que ouviram, constataram e saíram anunciando a maravilha que viram: José, Maria e o Recém-nascido. Mas, que maravilha? A grandeza da obra de Deus, pois naquele local, por certo, a santidade que dali se exalava era mais intensa e inebriante do que a aparência paupérrima daquele cenário; cousas que só um coração puro pode assimilar. – E quantas vezes nos distanciamos dos Sacramentos, principalmente da Sagrada Eucaristia, e não damos ouvido ao chamado que nos vem do Santo Tabernáculo: “Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei” (Mt 11,28). Não ouvimos porque o mundo nos atrai, porque as ciências são mais convincentes, enquanto o abstrato, o espiritual não são capazes de “sustentar” a vã curiosidade.
Do Oriente acorrem os Reis, magos que receberam o anúncio por uma estrela. Toda a Terra e o Universo inteiro se manifestaram para anunciar a chegada do Príncipe da Paz. Na figura daqueles três reis estão as raças que se prostravam diante do Pai dos Séculos Futuros: o branco, o negro e o amarelo prestavam vassalagem ao Divino Infante, que se manifesta a toda a humanidade. Essa manifestação é tão importante que, nos primeiros séculos da Igreja, este episódio tinha maior destaque que o Natal, a considerada Festa das Teofanias, ou seja, das manifestações divinas. – Não poucas vezes, Nosso Senhor se nos manifesta com a inspiração de sua graça, com seu amor que no-lo dá pela Eucaristia, mesmo sem reconhecermos o seu poder e divindade.
E ajoelhados diante da manjedoura, o trono que o mundo dá ao Deus Menino, São José e Maria Santíssima, os primeiros adoradores que contemplam aquela criancinha, olhos cerrados, adormecida, igual a tantas criancinhas recém-nascidas. Porém, Aquele Menino “é aquele que é eterno e cuja natureza divina não conhece mudança”, como canta o Ofício Divino. É o Deus que toma a natureza humana, pelo mistério da encarnação do Espírito Santo no seio de Maria Santíssima, gerado da mais pura substância do sangue da Virgem, tornando-se semelhante a nós. “Nasceu-nos hoje o Cristo, vinde adoremos”, ainda ecoa o canto da Igreja. – Sejamos, a exemplo de José e Maria, perseverantes adoradores e fiéis amantes de Nosso Senhor Sacramentado, consolando aquele Sagrado Coração trespassado pelas injúrias dos homens e do nosso tempo.
Eis, pois, o magno mistério, em que o Deus se fez homem e, na assimilação de duas naturezas – humana e divina – inicia-se o processo da redenção que culminará com sua morte e ressurreição. Preparemo-nos para bem celebrar o Santo Natal de Jesus, essa comemoração pela “admirável comércio” que fez Deus com os homens, concedendo-nos uma participação real e íntima de Sua natureza, tornando-nos seus filhos pela graça.
A todos, recomendamos uma conveniente preparação para melhor participarem do Santo Natal, granjeando todos os benefícios a Santa Igreja nos concede nesta celebração, ao mesmo tempo em que desejamos abençoados e venturosos dias no ano vindouro.
Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO METROPOLITANO DE JUIZ DE FORA, MG.
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