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Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney (RJ)
O tema da Campanha da Fraternidade desse ano “Fraternidade: Igreja e Sociedade”, com o lema “Eu vim para servir” (cf. Mc 10, 45), escolhido para recordar a vocação e missão de todo o cristão e das comunidades de fé na sociedade, como sal da terra e luz do mundo, é propício para excelentes reflexões. Mas, infelizmente, pode também ser usado para favorecer a ideologias heterodoxas. A Igreja não é uma entidade apenas ou simplesmente filantrópica ou política. Ela vai muito além do corpo e da visão terrestre.
Em sua mensagem, o Papa Francisco recorda o principal da Quaresma, nossa união e identificação com Cristo, e a sua consequência, identificarmo-nos com os irmãos: “Um tempo propício para nos deixarmos servir por Cristo e, deste modo, tornarmo-nos como Ele. Verifica-se isto quando ouvimos a Palavra de Deus e recebemos os sacramentos, nomeadamente a Eucaristia. Nesta, tornamo-nos naquilo que recebemos: o corpo de Cristo”. Como consequência, aprendemos que “neste corpo, não encontra lugar a tal indiferença que, com tanta frequência, parece apoderar-se dos nossos corações, porque, quem é de Cristo, pertence a um único corpo e, n’Ele, um não olha com indiferença o outro. ‘Assim, se um membro sofre, com ele sofrem todos os membros; se um membro é honrado, todos os membros participam da sua alegria’ (1 Cor 12, 26)”.
Entre as manipulações possíveis do tema, está a de querer ressuscitar o viés marxista da Teologia da Libertação. Essa ideologia teológica surgiu como reação às escravidões sociais e econômicas, que todos lamentamos, mas muitas vezes enfatizou demasiadamente a linha social em detrimento da espiritual, tentando reduzir o Evangelho da salvação a um evangelho terrestre e, pior, dentro de uma análise marxista, com rejeição da doutrina social da Igreja.
Ao receber Bispos do Brasil em visita ad limina, em dezembro de 2009, o Papa Bento XVI recordou a “Instrução Libertatis nuntius da Congregação para a Doutrina da Fé, sobre alguns aspectos da teologia da libertação, que sublinha o perigo que comportava a aceitação acrítica, realizada por alguns teólogos, de tese e metodologias provenientes do marxismo”. Bento XVI advertiu que as sequelas da teologia marxista da libertação “mais ou menos visíveis de rebelião, divisão, desacordo, ofensa, anarquia, ainda se fazem sentir, criando em suas comunidades diocesanas um grande sofrimento e grave perda de forças vivas”. Por essa razão, o Santo Padre exortou “aos que de algum modo se sintam atraídos, envolvidos e afetados no íntimo por certos princípios enganosos da teologia da libertação, que se confrontem novamente com a referida Instrução, acolhendo a luz benigna que a mesma oferece com mão estendida”.
No Credo do Povo de Deus, Paulo VI exprimiu bem o pensamento equilibrado da Igreja: “Nós professamos que o Reino de Deus iniciado aqui na Terra, na Igreja de Cristo, não é deste mundo, cuja figura passa, e que seu crescimento próprio não se pode confundir com o progresso da civilização…, mas consiste em conhecer cada vez mais profundamente as insondáveis riquezas de Cristo, em esperar cada vez mais corajosamente os bens eternos, em responder cada vez mais ardentemente ao amor de Deus e em difundir cada vez mais amplamente a graça e a santidade entre os homens. Mas é este mesmo amor que leva a Igreja a preocupar-se constantemente com o bem temporal dos homens,… suas necessidades, alegrias e esperanças, seus sofrimentos e seus esforços…”.
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