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A fé cristã, a Igreja e o cristianismo podem ser vistos e considerados sob muitos pontos de vista, mas, antes e acima de tudo fazem parte de uma revolução provocada na sociedade pelo Evangelho. Assim nasceu a Igreja e não pode deixar de permanecer dessa forma, senão trai a si mesma e pode levar a muitos fracassos e a derrotas.
É no Evangelho que os cristãos devem encontrar as suas origens, a sua força revolucionária, a sua vocação e a sua missão.
Retornemos aos primeiros tempos quando os primeiros cristãos não tinham nada ao seu favor senão o Evangelho que levavam na mente e, sobretudo, no coração. As Palavras do Senhor eram para eles inovadoras e portadoras de uma luz que os iluminava de maneira extraordinária. Eles viram na Palavra de Deus uma novidade revolucionária. Se nos deixarmos penetrar pela Palavra podemos ficar encantados com sua novidade absoluta sempre atual e sempre rica de uma sabedoria inesgotável. De fato, essa Palavra é um abismo do qual em todos os séculos se colheu, colhe-se e se colherá luz e vida para todo ser humano. Por isso são sempre palavras novas e únicas, mas, também, eternas, sendo assim sempre atuais em todos os tempos, porque Jesus está presente na Palavra e Ele é sempre vivo: vivo no céu, vivo entre nós, vivo na sua Palavra como na Eucaristia.
A Palavra tem a força e a graça de converter, de transformar pessoas e civilizações. Ela sempre nos convida à transformação da nossa mentalidade e do nosso comportamento como, por exemplo, “Ama o teu próximo como a ti mesmo”. Todos podem vivê-la, mas quem a vive sempre? Denominamo-nos cristãos, mas não o somos realmente se não mantemos essa constante conversão.
A Palavra de Deus não é uma mera doutrina, nem lei e nem teoria. Ela tem uma sabedoria que supera todo conhecimento, sobretudo toda ciência, e só pela fé e pela sua prática se pode constatar a sua verdade.
Foi vivendo a Palavra do Evangelho que os primeiros cristãos viram nascer uma revolução. A experiência de vivê-la transformou vidas, comunidades, povos e nações, pois a Palavra é dinâmica, lança a todos que a acolhem na relação com todas as pessoas do mundo e revela a verdadeira dignidade que todo ser humano tem.
A novidade do Evangelho está exatamente num novo modo de entender e de se relacionar com o ser humano. Essa é a exigência que está antes de todas e ao mesmo tempo dá valor a todas elas. Para nós, que temos a tendência de fechar-nos em nós mesmos, isso é mesmo uma novidade absoluta, uma revolução, uma verdadeira terapia.
Deus quer que façamos essa revolução. Isso está presente na história do cristianismo, nas suas mais variadas experiências. Devemos considerar o Evangelho como o consideravam os primeiros discípulos de Cristo e não podemos estar em paz enquanto dele não colhermos toda a sua força revolucionária. Tal como naquele tempo, devemos estar convencidos de que o mundo tem necessidade extrema de uma terapia do Evangelho. Nosso apoio, nossa força, nossa sabedoria, nossa vocação é o Evangelho. Nós devemos considerá-lo como o alfabeto que Cristo nos ensina. São Boaventura nos diz que devemos conhecer as Escrituras como as crianças aprendem o abecedário. Bastam poucas letras do alfabeto e algumas regras gramaticais para saber ler, mas, se não soubermos isso, ficamos analfabetos por toda a vida. Assim é com o Evangelho. É um livro pequeno, mas, aqueles que não vivem as suas palavras permanecem analfabetos, cristãos imaturos e subdesenvolvidos.
A Palavra é uma “fonte de Deus”. Com ela nutrimos nosso espírito de Deus como quando atingimos outras fontes que a Igreja nos propõe. Os primeiros cristãos e o Concílio Vaticano II ressaltaram fortemente que era preciso alimentar-se tanto da Eucaristia como da Palavra de Deus.
“Revesti-vos de Cristo”, diz São Paulo. A Palavra de Deus é nossa veste, nossa identidade. A Palavra assim acolhida é a voz que ressoa na nossa alma para sempre nos recolocar no caminho de Jesus, pois nos coloca diante de uma novidade absoluta a ser descoberta a cada dia e transforma quem a acolhe e vive em “homens novos”, mesmo quando somos “muito religiosos”.
Podemos ter a certeza de que uma só palavra do Evangelho, vivida por todos, poderia mudar o rumo da história, pois não é um texto, é alguém divino que se faz humano para vencer o mundo.
Se entendermos bem o que é a Palavra, como os primeiros cristãos a acolheram e viveram, experimentamos a fé além de todo formalismo, superando uma visão e uma prática formal ou impessoal. A Palavra não é um slogan para apenas defender uma ideia, mas é um encontro com Ele. Portanto, devemos, sobretudo, viver a Palavra; dessa maneira fazemos muitas experiências, descobertas que podem e precisam ser compartilhadas para o bem de todos.
Pela força da Palavra, aquele pequeno grupo inicial tornou-se uma comunidade universal. Trabalhados por ela foram depois se formando nos outros pontos da vida cristã, descobrindo mais e mais toda sua sabedoria e força revolucionária, constituindo assim um novo, original e verdadeiro estilo de vida. Na próxima edição vamos continuar esse tema inesgotável que sempre poderá nos revelar algo do mistério de Deus.
Para ajudar na compreensão e na vivência desse mistério, apresento agora algumas propostas:
• Programe ler diariamente a Palavra de Deus e à sua luz viver o seu dia;
• Faça o exercício diário da leitura orante da Bíblia, em que se lê com fé a Palavra, procura-se acolher e entender o seu sentido verdadeiro, ora-se a partir dela e tomam-se decisões práticas para vivê-la nas múltiplas situações;
• Selecione salmos, hinos e cânticos – do Antigo e do Novo Testamento – que de modo especial falam da Palavra. Exemplo: Salmo 118 (119) – o mais longo da Bíblia e que expressa a beleza e a sabedoria da Palavra de Deus em forma de oração.
Texto escrito por Pe. José Alem, extraído da seção “Espiritualidade” da Revista Ave Maria, na edição de agosto de 2017.
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