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Há exatos 70 anos, era lançado na Inglaterra o breve, mas duradouro livro “Animal Farm”, de George Orwell (em português, a obra recebeu títulos diversos, como “A Revolução dos Bichos”, “A Quinta dos Animais” e “O Triunfo dos Porcos”).
O livro estava pronto já fazia algum tempo, mas a Segunda Guerra Mundial e o fato de que a pequena grande obra era uma sátira clara contra o regime soviético tinha evitado a sua publicação durante o esforço de guerra contra o fascismo. O próprio controle da imprensa para não “ofender” faz parte da história que o brilhante escritor quis contar sobre o que é um regime ditatorial; aliás, os críticos literários se dividem ao interpretar “Animal Farm” como uma sátira específica do comunismo stalinista ou uma crítica a todas e quaisquer ditaduras revolucionárias.
Trata-se de uma história de corrupção protagonizada pelos animais de uma fazenda, que servem como um retrato das fraquezas humanas na relação com o poder. Os animais se revoltam contra os humanos, liderados pelos porcos Bola-de-Neve e Napoleão. Eles tentam criar uma sociedade utópica, mas Napoleão, seduzido pelo poder, acaba se livrando do ex-camarada Bola-de-Neve e estabelece uma ditadura tão corrupta quanto a sociedade humana.
A nova e revolucionária sociedade adota alguns mandamentos, entre os quais o mais típico e ao mesmo tempo o menos levado à prática em qualquer ditadura que se apresenta como “libertária”:
Todos os animais são iguais.
Nem é preciso dizer que, páginas adiante, a realidade será “ligeiramente diferente” da teoria. Na prática, o princípio adotado pelos poderosos é o de sempre:
Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que outros…
George Orwell era um social-democrata que tinha lutado pela república na Espanha na década de 1930. Mesmo sendo “de esquerda”, ele também combateu os stalinistas liderados por Moscou, já que o comunismo de Stalin eliminava todas as formações, inclusive de esquerda, que não pudesse controlar ideologicamente (é o caso da ala trotskista, que incluía o próprio Orwell. O escritor falará desta experiência em outro livro, “Homenagem à Catalunha”).
O fascismo e o comunismo soviético são similares aos olhos do autor, que também assina o célebre “1984” (em alguns aspectos, este livro é uma continuação natural dos eventos descritos em “Animal Farm”: a tomada do poder inspirada por um ideal nobre, mas substancialmente errôneo, que acaba construindo uma sociedade infinitamente mais injusta do que aquela que tinha tentado substituir).
“A Revolução dos Bichos” é uma advertência feita por quem conhecia a distância entre um ideal e uma ideologia, entre a liberdade verdadeira e a liberdade “concedida” (que, por ser “concedida”, pode também ser “confiscada”).
A questão é atualíssima para todo cristão, que não pode se adaptar ao mundo, mas também não pode ser alheio ao mundo. “A Revolução dos Bichos” é um lembrete de que o mundo (entendido como o domínio do “Príncipe deste mundo”, para sermos claros) está substancialmente dividido entre os poderosos e os invejosos do poder. O cristão, diante desse tipo de poder e das divisões que ele provoca, deve manter a equilibrada e madura postura da “desconfiança”: não só porque a história trágica do século XX deveria ser suficiente para nos convencer de que os poderes deste mundo são traiçoeiros, mas também, e principalmente, porque não podemos nos esquecer de que o verdadeiro poder capaz de revolucionar é o do amor e do serviço fraterno a todos, até a morte, e morte de cruz.
Por Lucandrea Massaro via Aleteia
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