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O texto apresenta o relato da vocação de Mateus e mostra como Jesus conviveu com pessoas marginalizadas e excluídas da sociedade. Essa parte da narrativa do Evangelho pretende mostrar Jesus praticando o que acabara de ensinar. No Sermão da Montanha, Ele falou da acolhida; agora, Ele mesmo a pratica: acolhe leprosos (cf. Mt 8,1-4), estrangeiros (cf. Mt 8,5-13), mulheres (cf. Mt 8,14-15), doentes (cf. Mt 8,16-17), endemoninhados (cf. Mt 8,28 -34), paralíticos (cf. Mt 9,1-8), publicanos (cf. Mt 9,9-13), impuros (cf. Mt 9,20-22) etc. Rompe com o que excluía e afastava as pessoas – o medo e a falta de fé (cf. Mt 8,23-27), as leis da pureza (cf. Mt 9,14-17) – e fala das exigências: quem quiser segui-lo tem que deixar muitas coisas (cf. Mt 8,18-22). A prática de Jesus mostra em que consiste o Reino e o cumprimento perfeito da lei.
O relato da vocação de Mateus (cf. Mt 9,9) tem semelhanças com a do chamado dos primeiros discípulos, quatro pescadores, todos judeus (Mt 4,18-22). Nesse novo relato, no entanto, há dois detalhes significativos: em primeiro lugar, é um tanto estranho o fato de Jesus chamar um cobrador de impostos para fazer parte do grupo de seus discípulos, pois os cobradores de impostos eram considerados pelos judeus como ladrões e colaboradores de Roma e como tais eram excluídos da vida social e da religiosa. Em segundo lugar, o evangelista dá ao novo discípulo o nome de Mateus (em Marcos: Levi, filho de Alfeu; em Lucas: Levi), fato que deu origem à tradição de atribuir o primeiro Evangelho a esse discípulo de Jesus. Mateus significa “dom de Deus” ou “dado por Deus”. Os cristãos, em vez de excluírem o publicano como impuro, devem considerá-lo um dom de Deus, pois permite que seja um sinal de salvação para todos os homens. Assim como os quatro primeiros, o publicano Mateus também deixa tudo o que tem. Seguir Jesus requer uma ruptura: Mateus deixou a coletoria de impostos, sua fonte de renda, e foi com Jesus.
A polêmica em Mateus 9,10-13 deve ser entendida a partir do significado que as refeições tinham no tempo de Jesus. O judaísmo tinha regras precisas sobre o tipo de comida que se podia comer, os lugares e as pessoas com quem se podia compartilhar. Todas essas práticas, que vigoravam no tempo de Jesus, serviam para saber quem estava dentro e quem estava fora de um grupo e para dar coesão e unidade a quem praticava as mesmas regras alimentares e seguia os mesmos costumes à mesa. Essa é a razão pela qual o comportamento de Jesus e de seus discípulos é tão marcante aos olhos dos fariseus e dos discípulos de João. Em qualquer cultura, sentar-se à mesa juntos é um sinal de comunhão.
Mateus, simplesmente, diz que “Jesus estava sentado à mesa em casa”, dando a entender que era a casa de Jesus, a casa onde Ele morava, desde que deixara Nazaré e fora morar em Cafarnaum (cf. Mt 4,13), portanto, segundo Mateus, é o próprio Jesus quem hospeda em sua casa publicanos e pecadores, como que antecipando o banquete messiânico da salvação oferecido a todos. Jesus, ao praticar uma comensalidade aberta, quebrou as linhas divisórias e questionou o sistema estabelecido. A frequência com que se sentava à mesa de cobradores de impostos e pescadores lhe valera fama de glutão e beberrão, amigo de cobradores de impostos e pecadores (cf. Mt 11,19), porém, na prática de Jesus essas refeições expressavam a misericórdia e a proximidade de Deus para com os mais distantes. Mateus introduz aqui a citação de Oseias 6,6 para apontar que os gestos concretos de misericórdia valem mais aos olhos de Deus do que a adoração vazia.
É por isso que a missão de Jesus, que é também a missão da Igreja, consiste em chamar os pecadores à conversão. A missão da comunidade era oferecer um lugar para aqueles que não tinham lugar, mas essa nova lei não foi aceita por todos: em algumas comunidades, pessoas que vinham do paganismo, mesmo sendo cristãs, não eram aceitas na mesma mesa. O texto desse encontro mostra que Jesus fez o contrário: comeu com publicanos e pecadores na mesma casa e na mesma mesa.
Quero misericórdia e não sacrifícios: Jesus fez muitas coisas que os fariseus ensinavam e faziam contrariamente. Ele chamou um publicano para fazer parte de sua comunidade e comeu com impuros na mesma mesa (cf. Mt 9,9-13). Segundo o ensino da época, quem comia com uma pessoa impura tornava-se impuro e contaminava os que estavam ao seu redor. Jesus superou tudo isso!
Os fariseus se distanciaram dessa atitude, mas, Jesus negou as críticas deles. Ele não aceitava os argumentos bíblicos que utilizam, pois nasceram de uma falsa ideia da lei de Deus. O próprio Jesus invocava a Bíblia: “Quero misericórdia e não sacrifícios” (Os 6,6). Para Jesus, a misericórdia é mais importante do que a pureza legal. Ele apelava à tradição profética para dizer que para Deus a misericórdia vale mais do que todos os sacrifícios (cf. Mt Os 6,6; Is 1,10-17). Deus tem coração misericordioso, que se comove diante das faltas do seu povo (cf. Mt Os 11,8-9).
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