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Por: Terêzia Dias
Psicóloga e terapeuta familiar. Fonte: Revista Família Cristã
A partir dos 11 anos, mais ou menos, o “pequeno” começa a enfrentar diversas transformações e, aos 15 anos, dificilmente reconhece-se no jovem a criança que ele foi ha quatro anos. Ele já é uma outra pessoa, mas sente-se ainda assustado e desadaptado a seu novo ser.
A puberdade refere-se ao período no qual se manifestam as características sexuais secundárias, com transformações no corpo e alterações no metabolismo. A adolescência constitui um período mais amplo, que alguns autores consideram uma invenção cultural da sociedade contemporânea.
Este é um tempo de passagem da infância para a vida adulta, um período de preparação para que a criança se transforme num membro ativo da sociedade, num indivíduo produtivo, criativo, independente e capaz de perpetuar sua espécie”. Assim a dra. Laura Marisa Calejon — psicóloga e professora de Psicologia do Desenvolvimento nas Faculdades Metropolitanas Unidas, em São Paulo — define puberdade e adolescência, épocas marcantes no processo evolutivo de todo ser humano.
O termo puberdade deriva da palavra latina pubertas, que significa “idade da humanidade”. Este período começa aproximadamente aos 11 anos, com o alargamento gradual dos ovários e demais órgãos reprodutores femininos e o desenvolvimento da próstata e das vesículas seminais, nos homens.
Paralelamente, há o crescimento dos seios, a primeira menstruação (menarca), nas meninas; o desenvolvimento da musculatura, a mudança de voz, nos meninos; e o aparecimento de pêlos pubianos. Todas estas mudanças são o resultado do aumento da produção de hormônios pela glândula pituitária anterior.
O hormônio pituitário estimula a atividade das gônodas, ou seja, as glândulas genitais, incrementando a produção dos hormônios sexuais e dos espermatozóides e óvulos maduros. A combinação dos hormônios sexuais com outros hormônios provoca ainda o crescimento dos ossos e músculos.
Entretanto, é importante observar que tanto o crescimento físico quanto a maturação sexual variam muito entre os jovens: um adolescente de 15 anos, por exemplo, pode não apresentar ainda nenhum desenvolvimento característico da puberdade, enquanto outro da mesma idade já revela fisicamente todas as indicações da maturidade.
CONFUSÃO DE IDENTIDADE
Do ponto de vista da psicologia, tais transformações físicas constituem um dos acontecimentos mais dramáticos experimentados por uma pessoa ao longo de sua existência. Porém muitos outros ajustamentos são cobrados dos jovens nesta fase o que torna a adolescência um período de conflitos e crises, que posteriormente terão influência na formação de sua personalidade.
Entre os principais desafios com que, em geral, os adolescentes defrontam, pode-se citar: as exigências de independência e autonomia, os ajustamentos sexuais, os relacionamentos com os companheiros, a preparação para uma profissão e o desenvolvimento de uma filosofia básica de vida, pela qual possam se orientar.
“Este é um período onde várias possibilidades precisam ser escolhidas e muitas potencialidades estão por desenvolver, o que o torna uma fase muito difícil, mais ou menos conflituada, dependendo de como a pessoa evoluiu e elaborou suas crises até este momento” — expõe dra. Laura.
Erik Erikson, psicanalista e teórico da psicologia do desenvolvimento, denomina a crise desta idade como identidade versus difusão de identidade. Para ele, identidade significa a síntese integradora das diferentes vivências, e o adolescente, que está em busca desta síntese, sente o peso de toda a angústia e tensão resultantes da procura e da confusão de papéis que ele está vivendo. Pode-se afirmar que seu problema primordial é responder à pergunta: “Quem sou eu?”
Diz Erik Erikson: “A identidade que o adolescente quer esclarecer é quem é ele, qual será o seu papel na sociedade. É uma criança ou um adulto? Será capaz algum dia de ser marido ou pai? Que será dele enquanto trabalhador e assalariado?… Em suma, será um fracassado ou terá êxito? Em função dessas indagações, os adolescentes preocupam-se, por vezes morbidamente, com sua aparência aos olhos dos outros, comparada à própria concepção de si mesmo e com o modo como ajustar as regras e Habilidades aprendidas anteriormente ao estilo atual”.
Evidentemente, o jovem não tem condições de assumir toda a responsabilidade que a sociedade lhe delega e nem mesmo tem ainda consciência de seu papel social. Contudo, para que ele se torne realmente um adulto, precisa resolver-se, definir-se e escolher, do contrário partirá para a vida adulta sem saber o que fazer, quais são seus valores, se se comporta como um homem ou uma mulher, etc.
“Ao resolver a crise de identidade, saindo da confusão de papéis, o adolescente se define no plano sexual, biológico, profissional e ideológico. Assim, poderá desenvolver estruturas e recursos próprios que permitirão viabilizar efetivamente suas escolhas, o que a gente chama de assumir a própria vida” — explica dra. Laura Marisa.
TRANSFORMAÇÕES QUE ASSUSTAM
Quando as meninas são bem orientadas, chegam à adolescência preparadas para aceitar a menstruação e as demais transformações de seu corpo. Mas esses fenômenos poderão representar acontecimentos ameaçadores e assustadores se não estiverem claramente conhecidos e assimilados. Da mesma forma, os meninos podem se surpreender e se preocupar com o aparecimento de poluções noturnas, isto é, ejaculações do fluído seminal durante o sono, muitas vezes acompanhadas de sonhos eróticos.
Entretanto os jovens podem acolher tudo isso como coisas naturais que fazem parte do processo normal do crescimento. “O corpo em transformação passa a ser outro corpo” — afirma Laura Calejon —, “e tanto o menino quanto a menina podem encarar as primeiras manifestações do corpo adulto como uma aquisição importante ou como a perda de sua infância, um tempo que está se acabando.
Se o desenvolvimento anterior foi satisfatório.fica mais fácil elaborar o luto pela infância perdida, valorizando os novos recursos, percebendo sua própria capacidade reprodutora, entendendo que não está perdendo nada e assumindo as responsabilidades pela novas aquisições”.
Porém as orientações recebidas e as experiências vividas durante a meninice são as mais variadas possíveis, produzindo também as mais diferentes reações na adolescência. Muitas meninas, por exemplo, esperam tranqüilamente sua primeira menstruação e sentem-se orgulhosas quando ela chega, e outras sentem vergonha e mesmo medo diante do suposto perigo que ela representa.
Um comportamento assim negativo pode perfeitamente ser evitado, se os pais, sobretudo as mães, ajudarem suas filhas, estimulando-as a sentir-se felizes com sua feminilidade, representada pelo advento da menstruação, e providenciando um atendimento médi-co-ginecológico adequado para elas.
Aparentemente os adolescentes de hoje estão mais bem informados sobre estas questões e, portanto, deveriam apresentar menos inquietações. Porém, nem sempre eles recebem as instruções mais correias e apropriadas, principalmente se aprendem somente em conversas com companheiros. Nota-se que muitos jovens apenas reprimem suas ansiedades, desejos e dúvidas e, sem entenderem direito o que lhes está acontecendo, ou sem conseguirem controlar todas as suas fantasias, torturam-se com medos desnecessários e infundados.
O APRENDIZADO DO AMOR
“Na verdade, na primeira fase da adolescência, os garotos e as garotas não possuem muita consciência dos impulsos sexuais. Eles começam a se interessar pelo sexo oposto e a experimentar o amor. E os primeiros amores são sempre coisas muito sérias que marcam para toda a vida, porque constituem experiências novas e profundas e trazem gratificações e frustrações, alegrias e sofrimentos.” As palavras da dra. Laura revelam toda a importância dos envolvimentos amorosos dos jovens e da experiência de intensas e novas sensações sexuais.
Para quem está começando a caminhar por esta trilha, tanto as frustrações como as gratificações constituem experiências necessárias ao aprendizado, alicerces para os relacionamentos futuros. Pela própria vivência, o jovem irá descobrindo toda a riqueza afetiva, a ternura, as exigências, as renúncias e as doações que fazem parte do relacionamento com o outro sexo. Não se pode negar também a força dos impulsos sexuais na adolescência que cada jovem assume e expressa de formas variadas, de acordo com suas características pessoais e com a vasta rede de influências psicológicas e culturais.
Eles precisam aprender a enfrentar direta e conscientemente estes impulsos, para encontrar em si mesmos os meios de lidar com eles sem culpas excessivas e de controlá-los sadiamente sem inibições.
O aprendizado do amor exigirá do adolescente tempo, paciência e atenção, até que alcance sua plena maturidade, consistindo um tarefa que se realiza lenta e gradativamente. Neste aspecto, a presença dos pais mas uma vez representa um ponto de referência e apoio. Ò jovem está confuso e não tem consciência do que significa o amor, apenas o pressente. Os pais, então, podem ensiná-lo como usar sua sexualidade de maneira livre, responsável e ordenada, como controlar seus instintos e orientá-los para o amor.
Recém-saido da infância, o adolescente observa as relações dos mais velhos, mira-se no seu exemplo e aprende. Por isso, o casal que vive com felicidade e serenidade e dá testemunho de união e amor fecundo está contribuindo para que seus filhos se preparem mais adequadamente para a vida amorosa e sexual, impregnando-os com uma imagem positiva e saudável de amor conjugal.
SOB O SIGNO DA CONTESTAÇÃO
Os adolescentes precisam ainda se sentir amados e aceitos por seus pais, o que representa um suporte de segurança afetiva, tranqüilidade e esperança para enfrentarem as crises e conquistarem sua identidade pessoal. Porém, se, durante os 10 ou 11 primeiros anos de vida, o filho não percebeu os pais como pessoas que o amavam e o compreendiam, dificilmente se aproximará deles quando se tornar adolescente, mantendo-se arredio e rebelde. Uma boa interação, entretanto, não suprime os conflitos entre pais e filhos, já que a contestação também constitui marca registrada da adolescência.
“A contestação não é indício de um relacionamento ruim, mas surge da necessidade que o adolescente tem de avaliar os prós e os contras do que os pais lhe dizem, de experimentar suas possibilidades e de fazer suas escolhas. A partir disso, ele está exercitando e assumindo sua identidade” — orienta a dra. Laura. Claro que nem sempre será possível para os pais terem muita paciência com estes treinos dos filhos, principalmente se entenderem suas atitudes como um desafio ou desrespeito. Mas, quanto mais permitirem a existência da contestação dentro do lar, melhor será o desenvolvimento do adolescente.
Além disso, é importante lembrar que, diante do filho adolescente, os pais também se sentem confusos e experimentam conflitos, decepções, preocupações e medos. Sentem, ao mesmo tempo, orgulho e alegria em ver os filhos crescerem;
dor por saberem que os estão perdendo a cada dia para o mundo; e certa insegurança, pois eles mesmos estão deixando de ser um homem e uma mulher jovens para se tornarem pessoas maduras. Mas, de todas estas crises, nascerão pessoas novas e outra forma de relacionamento entre pais e filhos.
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