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Pesquisas revelam que mais de 70% da população do nosso continente vive em ambientes urbanos. Os outros 30% — em virtude, principalmente, dos diferentes meios de comunicação — são de alguma maneira atingidos pela realidade urbana. Esses dados apontam para a necessidade de repensar a forma de anunciar e viver a boa-nova de Jesus. Segundo o padre Joel Portella Amado, o mundo urbano é:
o mundo da pluralidade, da diversidade, da individualidade e da mobilidade. Quanto mais urbano for um ambiente, mais forte será a presença destes elementos, entre outros. Os ambientes pré-urbanos são monolíticos e, com licença do termo, centrípetos: tudo converge para o centro, centro espacial (a praça, com a igreja), centro dos valores (os valores de nossa cidade, de nossa família, de nossa tradição e assim por diante), centro religioso (uma religião). A transmissão de valores se dá exatamente pela inserção neste conjunto de realidades unas para as quais tudo converge. O diferente é exceção.
Quanto mais urbano um ambiente vai se tornando, mais, com licença de outra palavra,centrífugo ele é. O movimento é exatamente o oposto. Já não há mais um centro, nem mesmo geográfico. Basta ver, em nossas grandes cidades, os inúmeros centros de referência, os bairros maiores, alguns até com subprefeituras ou similares. No urbano, plural e centrífugo, os limites de espaço se quebram: vive-se num local, trabalha-se em outro, estuda-se em outro, tem-se vida social em outro e assim por diante. Os ritmos de tempo se rompem. O sol pode se pôr e isso não é empecilho para que a vida urbana continue a acontecer. A religião, aí estamos nós, já não é mais a única, nem muito menos o centro da vida. Assim podemos compreender os diversos fenômenos religiosos característicos principalmente das grandes cidades, mas — repito — exportados, transplantados, transculturados para cidades pequenas e ambientes rurais. (Disponível em <www.cnbbne2.org.br>. Acesso em 23 abr. 2009.)
Nesse quadro, torna-se sempre mais urgente uma prática pastoral que, de acordo com o padre Joel, deve ser “rica de espaços e momentos onde as pessoas tenham a chance de experimentar a grandeza da fé em Jesus Cristo vivida na comunidade dos discípulos”.
A realidade descrita acima aponta para a atualidade da prática pastoral de Paulo e suas(seus) colaboradoras(es) no mundo greco-romano. Uma das comunidades paulinas que experimentaram intensamente a vivência da boa-nova no meio urbano foi a comunidade cristã de Filipos. Esse núcleo cristão se comprometeu com a boa-nova de Cristo Jesus, testemunhou-a corajosamente e demonstrou, inúmeras vezes, solidariedade a Paulo em momentos difíceis de sua vida missionária (1,7), como no período em que esteve preso em Éfeso.
Por isso, estabeleceu-se entre Paulo e a comunidade de Filipos uma relação de ternura: “Deus me é testemunho de que amo a todos com a ternura de Cristo Jesus” (1,8); “Sei que ficarei e continuarei com todos vós, para proveito vosso e para alegria de vossa fé” (1,25). Nesse espaço comunitário, pessoas de diferentes origens e condição social tiveram a oportunidade de experimentar a fé em Jesus Cristo vivida na comunidade de discípulas e discípulos.
Que o estudo da carta aos Filipenses lance luzes e seja estímulo para pensarmos novas formas de anunciar a boa-nova hoje.
1. Conhecendo o contexto social em que a carta aos Filipenses foi escrita
No ano 148 a.C., a Macedônia se torna província romana e o mesmo acontece com todas as cidades localizadas nessa região, entre as quais Filipos. Quando Paulo chega à cidade, entre os anos 49 e 52 d.C., em sua segunda viagem missionária, ela continua sob o domínio romano. Na carta, encontramos a seguinte informação: “Todos os santos vos saúdam, especialmente os da casa do imperador” (4,22).
O que significa estar sob o domínio dessa grande potência, o império romano? De onde vem sua riqueza? Como esse império se organiza e de que modo exerce domínio sobre povos e culturas?
É possível afirmar que o império romano se sustenta sobre três pilares: a escravidão, a propriedade privada da terra e o comércio.
1) Escravidão. A mão de obra escrava é encontrada em toda e qualquer ocupação ou atividade civil. Ela é utilizada como força de trabalho na produção da vida material, predominantemente nas minas, na agricultura e no serviço doméstico dos grandes senhores. Além disso, sua importância cresce como mercadoria, uma vez que pode ser transportada facilmente de um lugar para outro. A pessoa escravizada é considerada um bem do mesmo nível que uma extensão de terra, uma cabeça de gado ou uma saca de grãos, por exemplo.
2) Propriedade privada da terra. As vastas extensões de terra, os latifúndios, pertencem à elite romana e são cultivadas pela mão de obra escrava. Da concentração de terra e do trabalho escravo se extrai o excedente da produção geradora de riqueza. Esse excedente será utilizado, pela elite, para sustentar uma vida de luxo e pompa nos centros urbanos do Império.
3) Comércio. Verdadeira “roda viva” sustenta o fluxo do comércio imperial. Vejamos. O império entra em constantes batalhas. Os territórios conquistados são anexados às terras imperiais e seus habitantes escravizados. Consequentemente aumenta a produção agrícola, uma vez que há terras e mão de obra abundante. A produção intensa exige forte esquema comercial, favorecido pelas muitas estradas abertas pelo império e pelo aumento de segurança nas rotas marítimas. Além disso, a moeda única e um sistema bancário que fornece financiamento de crédito ajudam a garantir o domínio imperial nas regiões conquistadas, aumentando, dessa forma, os mercados compradores.
Além desses três fatores, o império romano conta com um exército bem equipado e bem remunerado, que garante a sua estabilidade. São funções do exército romano:
• favorecer as conquistas romanas, obrigando as províncias conquistadas a sustentar a riqueza de Roma;
• controlar a população livre e a população escrava;
• Estabelecer a pax romana, ou seja, eliminar os muitos focos de resistência e de rebeliões por meio da força e garantir segura arrecadação de tributos.
Na cidade de Filipos, colônia do império romano, o modelo imperial se fez presente de modo paradigmático. Uma volta ao passado nos ajudará a conhecer essa cidade.
2. Conhecendo a cidade de Filipos
Filipos, no norte da Grécia, é o primeiro centro onde Paulo prega a boa-nova na Europa. Quando ele e seus colaboradores ali chegam, já encontram uma cidade com uma história antiga.
No local existiu antiga cidade trácia conhecida por seu nome grego, Krenides (fontes). Em 361 a.C., um exilado ateniense, Calistratus, juntou colonizadores gregos da ilha de Tasos e dominou o lugar.
Filipe II da Macedônia, pai de Alexandre, o Grande, particularmente interessado nas minas de ouro e prata da próxima Pangeus, anexou em 356 a.C. a região inteira e estabeleceu Filipos como a cidade que levaria seu próprio nome. Ele a fortificou e deixou ali uma guarnição de macedônios, de modo que a cidade se tornou um ponto militar forte na região trácia, capaz de guardar as minas de ouro próximas que proporcionaram a Filipe imensa fonte de riqueza. A cidade foi também estrategicamente importante para ele em virtude de estar localizada na rota terrestre para os estreitos de Dardanelos e Bósforo em direção à Ásia.
Entretanto, em 168-167 a.C. na batalha de Pidna, a região da Macedônia passou para as mãos dos romanos, que a dividiram em quatro distritos. Mas foi em 42 a.C. que Filipos se tornou famosa, por ser o lugar onde Marco Antônio e Otávio derrotaram as forças romanas republicanas de Brutus e Cassius, os assassinos de Júlio César. Os vitoriosos colonizaram-na com soldados veteranos e estabeleceram Filipos como uma colônia romana. Seu território incluía as cidades de Neápolis, Oisymi e Apolônia. Depois da batalha de Actium em 31 a.C., na qual Otávio venceu Marco Antônio, mais colonizadores, incluindo algumas das tropas separadas de Marco Antônio, defensores anteriores, estabeleceram-se em Filipos sob ordem de Otávio Augusto, que renomeou a colônia após renomear a si mesmo, denominando-a colônia Julia Augusta Philippensis. Esses colonizadores, junto com alguns dos primeiros habitantes, constituíram o corpo legal de cidadãos. A Filipos foi dado o maior privilégio possível para uma província romana, o ius italicum, por meio do qual ela passava a ser governada por leis romanas e os habitantes das colônias passavam a ser cidadãos romanos e a poder usufruir de prerrogativas, como o direito de compra, posse e transferência de propriedade, além dos direitos de processos civis. Ademais, sua Constituição era baseada na romana, com dois colégios de magistrados centrais. Filipos passava a ser “cópia” da cidade-mãe, Roma: suas construções obedeciam a padrões similares, o estilo e a arquitetura eram copiados extensivamente e as moedas produzidas na cidade levavam inscrições romanas. A língua latina tornou-se oficial e as(os) cidadãs(os) vestiam-se como romanos.
Duas vezes na carta, Paulo faz declarações que aproveitam o orgulho dos habitantes pela cidade. Na primeira, “Cumpre somente que leveis uma vida digna do evangelho de Jesus Cristo” (1,27), o verbo que usa para dizer “levar uma vida”, politeuesthe, significa literalmente “viver como cidadão, viver como pessoa livre”, e até mesmo “tomar parte no governo”. Ao escolher essa palavra, Paulo parece apelar para o orgulho dos filipenses como cidadãos romanos e estender essa ideia à nova comunidade à qual eles pertencem e da qual devem ser cidadãs/os responsáveis, fiéis à sua lei de amor. A outra declaração paulina está em 3,20: “Pois a nossa pátria está nos céus…”. Aqui, a escolha de uma palavra com a mesma raiz de politeuesthe recorda o que foi dito em 1,27 e sugere que, mais uma vez, Paulo pensa na posição cívica de Filipos como colônia romana e lembra aos filipenses que eles agora pertencem a uma comunidade mais alta, mais importante, mais duradoura. Embora não seja a capital da província, Filipos pode ser considerada grande cidade e importante ponto de parada na via Egnatia. O uso militar da via facilitou o acesso das tropas de diversos impérios que se sucederam: persas, gregos, macedônios e romanos experimentaram a importância estratégica de uma cidade atravessada por essa estrada. Os romanos foram os que mais aproveitaram os benefícios de tal localização, transformando esse caminho em instrumento essencial na administração e controle de suas províncias orientais.
Portanto, a escolha de Filipos como lugar para lançar o evangelho em solo europeu combinou com a estratégia missionária paulina de escolher cidades importantes e de localização privilegiada como centros ideais desde os quais a boa-nova se irradiaria.
É visível o sincretismo religioso estabelecido em Filipos na época da chegada de Paulo, apesar de a religião oficial do império tender a dominar. Esse clima se deve à diversidade de povos e culturas ali instalados, com suas diferentes divindades e cultos. Em Filipos podem ser encontrados:
• monumentos de cultos imperiais;
• altares de deuses gregos, como Júpiter (Zeus), Minerva e Marte (Mindrito para os trácios);
• cultos de fertilidade à deusa trácia Bendis (Ártemis para os romanos);
• santuários para deuses egípcios, especialmente para Ísis, escolhida como protetora da cidade após a vitória de Marco Antônio em 42 a.C.;
• culto ao deus Men e à grande deusa-mãe Cibele, trazidos da Anatólia.
Parece que não havia comunidade judaica em Filipos. Para tanto, eram necessários pelo menos dez homens. Paulo, contudo, achou um lugar de encontro informal fora da cidade, perto do rio Gângites, onde várias mulheres, provavelmente admiradoras da religião judaica, se encontravam no sábado para rezar.
Algo novo surge no chão dessa cidade: uma comunidade cristã viva, sensível, que participa ativamente no trabalho de expansão da boa-nova. Não podemos deixar de conhecê-la.
3. Conhecendo a comunidade cristã de Filipos
Pouco sabemos da composição da comunidade de Filipos. No livro dos Atos, encontramos algumas informações: Paulo sai de Trôade acompanhado por Silas e Timóteo, atravessa o mar Egeu, passa pela ilha da Samotrácia e chega ao porto de Neápolis. Do porto seguem pela via Egnatia até chegar a Filipos (At 16,11-12). A caminhada é de mais ou menos 16 quilômetros.
Após alguns dias, os três ficam sabendo que um grupo de pessoas costuma rezar fora da cidade, às margens de um rio. Eles se dirigem para o local, onde encontram algumas mulheres que costumam se reunir para fazer suas orações. É dia de sábado (At 16,13). Os missionários começam a lhes falar. Entre elas se encontra Lídia, original da cidade de Tiatira, na Ásia Menor. Seu nome pode indicar que se trata de uma liberta, ou seja, de uma escrava que comprou sua liberdade. Lídia é negociante de púrpura e “adoradora de Deus” (At 16,14). Tal expressão é usada, normalmente, para pessoas simpatizantes do judaísmo e observantes das práticas religiosas judaicas. Essa mulher acolhe o evangelho, recebe o batismo com os de sua casa e oferece hospedagem aos missionários (At 16,15).
Na própria carta, Paulo cita os nomes de Epafrodito, Evódia, Síntique e Sízigo, todos nomes de origem grega, indicando que a comunidade se compunha de vários membros vindos da cultura helênica, e menciona ainda o nome de Clemente, indicando um membro de origem romana. Estudiosos afirmam que 35% da comunidade era composta de romanos.
Como características dessa comunidade cristã, podemos destacar a solidariedade e a generosidade. Por diversas vezes Paulo pôde contar com sua ajuda: “Vós mesmos bem sabeis, filipenses, que no início da pregação do evangelho, quando parti da Macedônia, nenhuma Igreja teve contato comigo em relação de dar e receber, senão vós somente” (4,15); “E, quando entre vós sofri necessidades, a ninguém fui pesado, pois os irmãos vindos da Macedônia supriram minha penúria” (2Cor 11,9). Também com a coleta para os cristãos de Jerusalém, os filipenses contribuíram prontamente (2Cor 8,1-2).
Na comunidade cristã filipense, encontramos mulheres que desempenham papel de liderança. Dos quatro nomes citados na carta, dois são de mulheres que, segundo Paulo, trabalham arduamente a seu lado na proclamação do evangelho (Fl 4,3). Pela carta, percebemos ainda quanto a comunidade é afetuosa. Paulo, por diversas vezes, demonstra carinho e afeto por seus membros e é correspondido à altura. Ao se dirigir à comunidade, ele não se denomina apóstolo, mas servo de Jesus Cristo. Isso parece demonstrar que Paulo não precisa convencê-la de sua autoridade apostólica como em outras situações (Rm 1,1; 1Cor 1,1; 2Cor 1,1; Gl 1,1). A confiança e o respeito mútuos superam a necessidade de títulos.
A comunidade cristã de Filipos, contudo, não é perfeita. Nela parece haver diferenças sociais. Entre seus membros, encontramos pessoas que possuem cidadania romana e pessoas que não a possuem, pessoas pobres e pessoas escravas. Tais divisões provocam conflitos e geram atitudes egoístas e presunçosas, com busca dos próprios interesses (2,3-4). Na comunidade há ainda os que murmuram (2,14) e disputam (4,2). Paulo, porém, dirige-se a todos os membros com afeto e os convida à harmonia e ao cuidado mútuos.
Olhemos essa carta mais de perto.
4. Conhecendo a carta aos Filipenses
Paulo estava preso em Éfeso, entre os anos 52 e 54 d.C., quando escreveu partes da carta. Um olhar mais atento ao lê-la nos leva a perceber rupturas na sua estrutura. Por exemplo, do capítulo 1,1 até 3,1a, o texto apresenta uma continuidade de estilo e de conteúdo, parecendo ter sido escrito num mesmo período. O tom desses capítulos é suave, alegre, afetivo.
No entanto, no capítulo 3,1b-21 se verifica uma diferença em relação ao que foi escrito anteriormente: o assunto muda e não há conexão com o texto antecedente. O tom da carta passa a ser agressivo, e Paulo alerta a comunidade contra possíveis adversários.
A ruptura é perceptível em 4,10-20. Nesses versículos, Paulo agradece um donativo recebido e não fica claro por que o apóstolo espera o fim da carta para agradecer, uma vez que seus sentimentos de gratidão são tão fortes no texto. Esses dez versículos parecem fazer parte de um bilhete escrito às pressas, logo após o recebimento do donativo feito pelos filipenses.
Tais constatações nos levam a supor que os redatores finais da carta juntaram as correspondências de Paulo para os cristãos de Filipos, colocaram uma só saudação e uniram as conclusões e saudações finais, de modo que o texto aparecesse como uma só carta. Neste artigo, adotaremos a hipótese das três cartas, com a seguinte divisão:
1) Carta A — 4,10-20: seria a carta mais antiga. Paulo está preso e a comunidade de Filipos envia-lhe ajuda pessoal e financeira. Naquele tempo, como hoje, os prisioneiros eram abandonados pelas pessoas mais próximas e passavam necessidades. Paulo, que não tem o costume de aceitar ajuda econômica das comunidades, abre uma exceção por se tratar da comunidade de Filipos. Logo após a chegada de Epafrodito trazendo ajuda, Paulo teria escrito esse bilhete de agradecimento.
2) Carta B — 1,1-3,1a; 4,2-9.21-23: carta posterior à carta A. Paulo ainda está preso. O conteúdo desses capítulos é a perseguição que ele sofre pela boa-nova de Jesus e a divisão existente na comunidade. O conhecido “hino cristológico” está nessa segunda carta (2,6-11).
3) Carta C — 3,1b-4,1: última carta. Nesses versículos vemos uma mudança de tema e uma alteração no tom adotado. Paulo já não fala como alguém que está na prisão, mas como alguém que adverte a comunidade contra possíveis adversários. Provavelmente são missionários judeu-cristãos que anunciam um Jesus de milagres e triunfos, diferentemente de Paulo, que põe como centro de sua pregação Cristo crucificado. Paulo é duro com esses adversários (3,18). A mensagem é a mesma da carta B: não há outro Cristo a não ser o Jesus crucificado. O tom violento nos lembra a segunda carta aos Coríntios. Os adversários parecem ser os mesmos.
O conteúdo da carta e a experiência de Paulo em Filipos têm muito a dizer às nossas comunidades. Aprendamos com eles.
5. Aprendendo com Paulo e com a carta aos Filipenses
— A carta mostra como a missão evangelizadora é tarefa comunitária. Por isso, são muitas as pessoas envolvidas: Paulo, Timóteo, Silas, Epafrodito, Lídia, Sízigo, Clemente, Evódia, Síntique, os cristãos da casa do imperador, os epíscopos (vigilantes) e diáconos (servos).
— Filipenses ressalta a importância da presença e da participação das mulheres na Igreja de Filipos. Na casa de uma delas a Igreja se reúne. Outras duas, Evódia e Síntique, são lembradas por terem lutado muito pelo evangelho.
— Em Filipenses transparece a importância da manifestação de sentimentos no trabalho evangelizador. O afeto e o carinho que Paulo nutre pela comunidade são visíveis no texto (Fl 1,7; 2,12; 4,1; 1,8).
— A importância da oração e da mística no trabalho pastoral e na vida missionária aparece na carta.
— Filipenses guarda importante hino cristológico. Ele é a síntese do evangelho que Paulo anuncia: Cristo Jesus crucificado e ressuscitado (2,6-11).
— Paulo se apresenta como alguém que toma posição diante de uma situação que ele julga prejudicar o anúncio da boa-nova (3,2-3.18). Em Filipos, um grupo de judeu-cristãos parece querer impor suas tradições religiosas aos membros da comunidade. Para esses judaizantes, o anúncio evangélico feito por Paulo, centrado na cruz de Cristo e na liberdade diante da Lei, era uma traição à sua origem judaica.
— A carta convida a um alegre testemunho de vida com base na esperança na parúsia — vinda do Senhor. A comunidade já vive a presença do Senhor por experimentar a paz, fruto do amor solidário entre irmãs e irmãos, conforme o evangelho de Cristo crucificado/ressuscitado, anunciado por Paulo (4,2-9).
— A comunidade de Filipos ensina que a boa-nova de Jesus exige a prática da solidariedade e da partilha dos bens (4,10-20).
Sem dúvida, a comunidade cristã de Filipos é um reflexo do jeito inovador de Paulo anunciar a boa-nova nas cidades do mundo greco-romano. Na carta aos Filipenses, são inúmeras as vezes em que ele deixa clara a importância da vivência cristã baseada na ternura, na compaixão, na solidariedade entre irmãs e irmãos: “Deus é testemunho de que vos amo a todos com a ternura de Cristo Jesus. E é isto o que peço: que o vosso amor cresça cada vez mais, em conhecimento e em sensibilidade, a fim de poder discernir o que é importante, para que sejais puros e irreprováveis no dia de Cristo, na plena maturidade do fruto da justiça que nos vem de Jesus Cristo para a glória e o louvor de Deus” (Fl 1,8-11).
A realidade do mundo globalizado exige de nós ousadia para mudar. Nossas comunidades precisam apontar para a diversidade e para as diferentes formas de ser comunidade, em que a ternura, a compaixão, a prática do amor solidário, o compromisso com as grandes causas humanas… resgatam a esperança e suscitam a alegria que brota da boa-nova de Jesus crucificado/ressuscitado presente no meio de nós. A exemplo de Paulo, queremos que nossas comunidades experimentem e entoem a verdadeira alegria cristã: “Alegrai-vos sempre no Senhor! Repito: alegrai-vos!” (Fl 4,4).
Fonte: Revista Vida Pastoral
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