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“Deus é amor; quem permanece no amor, permanece em Deus, e Deus permanece nele” (1Jo 4,16): estas palavras da primeira Carta de João exprimem com particular clareza o centro da fé cristã, a imagem cristã de Deus e também a consequente imagem do homem e de seu caminho.” (Bento XVI, Carta Encíclica Deus Caritas Est, 1)
Fomos criados à imagem de Deus, Ele que é amor, que é Trindade! Mas como se concretiza isso em nós?
Nós somos se amamos, se vivermos não entre ou com os outros, mas pelos outros. Fomos criados como dom para quem está ao nosso lado e quem está próximo de nós foi criado por Deus como dom para nós, como o Pai na Trindade é todo para o Filho e o Filho é todo para o Pai.
Não fomos criados como indivíduos que antes se realizam e depois se doam, mas, desde a eternidade, fomos pensados por Deus na relação com os outros. Nossa essência como pessoas não se esgota no ser, mas é definida pelas relações consigo, com os outros, com a natureza, com Deus. Viver, para o ser humano, é conviver.
Eu sou se amo! Realizar-me-ei estando em relação com os outros, doando e também recebendo.
Deus, que é comunidade-comunhão, é o modelo das relações humanas. Esse é o único e verdadeiro Deus e dessa revelação é que se expressa a única maneira de viver como ser humano. Porque Deus é comunhão, é amor. Deus é amor em si mesmo, antes do tempo, porque desde sempre tem em si um Filho, o Verbo, a quem ama com amor infinito, que é o Espírito Santo.
Em todo amor há sempre três realidades ou sujeitos: um que ama, um que é amado e o amor que os une. Quando Deus é concebido como poder absoluto não existe necessidade de mais pessoas, porque o poder pode ser exercido por um só; mas, não é assim, pois Deus é o amor absoluto.
A contemplação da Trindade pode ter um precioso impacto na vida humana. É um mistério de relação. Significa que as pessoas divinas não têm relações, mas que são relações. Sabemos que a felicidade e a infelicidade na Terra dependem em grande medida da qualidade de nossas relações. A Trindade nos revela o segredo para ter relações belas.
O que faz bela, livre e gratificante uma relação é o amor em suas diferentes expressões.
Conhecer e contemplar a Deus antes de tudo como amor, não como poder, afetará nosso modo de viver, pois o amor doa, o poder domina. O que envenena uma relação é querer dominar o outro, possuí-lo, instrumentalizá-lo, em vez de acolhê-lo e entregar-se.
Viver o amor muda tudo. Muda nossas relações com Deus, com os outros, com a Igreja, com as pessoas, com a natureza, com a cultura, com tudo aquilo que é expressão da ação humana: a política, a educação, a economia, a ciência, a filosofia, a arte, a própria espiritualidade.
O amor é o “segredo” que fez os primeiros cristãos construírem a história da qual todos nós somos herdeiros e também protagonistas.
O amor verdadeiro conduz à reciprocidade. É o amor mútuo. Amando-nos uns aos outros construímos a unidade. Aquela unidade que a Eucaristia ao mesmo tempo nos revela, realiza e nos desafia a viver tornando nossas próprias vidas, nossas relações, nossas comunidades expressões da Eucaristia vivida. “Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, como eu vos amei. Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida por seus amigos.” (Jo 15,12-13) Jesus deu a medida do seu amor ao dizer “amai-vos como eu vos amei”. Amando dessa maneira nosso amor é fecundo e se transforma numa expressão viva da Trindade. Nisso está a perfeição que Jesus diz: “Sede perfeitos assim como o Pai é perfeito” (Mt 5,48).
Disse Paulo IV: “Amar, esta é a vocação do católico” (1970, discurso aos bispos em Sydney, Austrália).
Por isso, “a Igreja convida a todos a transformar suas mentes e seus corações segundo a escala de valores do Evangelho” (Documento de Puebla, 148).
“Tanto a hierarquia como o laicato e os religiosos vivamos numa contínua autocrítica, à luz do Evangelho, em nível pessoal, grupal e comunitário, para nos despojarmos de qualquer atitude que não seja evangélica e desfigure a fisionomia de Cristo. Esta é a nossa primeira opção pastoral: a própria comunidade cristã, seus leigos, seus pastores, seus ministros e seus religiosos devem converter-se cada vez mais ao Evangelho.” (Documento de Puebla, 972-973)
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