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Por Pe. Eguione Nogueira
O cristianismo, desde o início, aplicou o vocabulário que era de uso quase exclusivo dos especialistas do culto (sacerdotes e funcionários dos templos), seja de Israel ou de outras religiões antigas, para designar todos os que, pelo Batismo, começam a fazer parte do povo de Deus. Por isso, a unção com o óleo do crisma no Batismo é acompanhada por uma fórmula prevista que diz o seguinte: “Que ele te consagre com o óleo santo para que, inserido em Cristo, sacerdote, profeta e rei, continues no seu povo até a vida eterna”. Aprofundaremos neste artigo a dimensão sacerdotal dos leigos e, posteriormente, as dimensões profética e régia.
A Constituição Dogmática Lumen Gentium, do Concílio Vaticano II, diz que: “Cristo Senhor, Pontífice tomado dentre os homens (cf. Hb 5,1-5), fez do novo povo um reino de sacerdotes para Deus Pai (cf. Ap 1,6; 5,9-10). Pois os batizados, pela regeneração e unção do Espírito Santo, são consagrados como templo espiritual e sacerdócio santo, para que, por todas as obras do homem cristão, ofereçam sacrifícios espirituais e anunciem os poderes Daquele que das trevas os chamou à sua admirável luz” (LG 10).
Por isso, podemos afirmar com toda certeza que os leigos participam do único sacerdócio de Cristo, embora não sejam ministros ordenados.
Mas, como compreender a dimensão do sacerdócio na vida laical? Em que sentido os fiéis leigos são sacerdotes? Segundo o Papa Francisco, “a Igreja somos todos nós e todos temos a responsabilidade de santificar uns aos outros, cuidar dos outros” (audiência geral de 6/6/2018). Isso é sacerdócio. A existência batismal, desde o Novo Testamento sempre foi considerada como um sacerdócio: “Também vós, como pedras vivas, prestai-vos à construção de um edifício espiritual, para um sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus por Jesus Cristo” (1Pd 2,5). O sacerdócio cristão se dá por oferecer sacrifícios espirituais, ou seja, todos os atos da existência humana, uma vez que a realidade oferecida não é exterior ao oferente. Como defendia o teólogo Yves Congar, trata-se do dom de si mesmo, ou seja, à vida santa, às boas obras e à atividade apostólica.
Tomando como exemplo a família, em que há uma verdadeira oferta de si nas diversas relações, podemos afirmar que existe um “sacerdócio dos pais e mães de família” e “uma liturgia do lar”.
Isso se dá na oração comum, nas refeições, na intercessão dos pais por seus filhos, muitas vezes em lágrimas ou na alegria etc.
Porém, isso pode ser aplicado a todas as ações humanas, pois, em qualquer ação em que aparece uma das virtudes teologais (fé, esperança e caridade), há um culto de louvor a Deus e do seu mistério presente nas diversas realidades terrestres, convertendo a própria natureza humana em sinal sacramental da presença de Deus. Tudo isso encontra eco e sentido nos sacramentos, especialmente na Eucaristia, que são ao mesmo tempo um movimento do homem para Deus e um dom de Deus ao homem.
Assim, a vida cristã é um constante movimento entre a celebração sacramental, que é a celebração do encontro consumado entre Deus e o homem, e a existência sacramental, que busca ser, na realidade cotidiana, expressão do mistério pascal de Cristo celebrado na liturgia.
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