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Por: Frei Carlos Mesters, O.Carm
Sim, a Bíblia registrou dez viagens da Mãe de Jesus. Eis a lista:
1ª Viagem: de Nazaré até Judeia para visitar sua prima Isabel (Lc 1,39)
2ª Viagem: da Judeia de volta até Nazaré, depois da visita a Isabel (Lc 1,56)
3ª Viagem: de Nazaré até Belém para o recenseamento (Lc 2,1-5)
4ª Viagem: de Belém até o Egito pois Herodes queria matar Jesus (Mt 2,13-15)
5ª Viagem: do Egito de volta até Nazaré, depois da morte de Herodes (Mt 2,19-23)
6ª Viagem: de Nazaré até Jerusalém na festa da Páscoa junto com Jesus (Lc 2,41-42)
7ª Viagem: de Jerusalém de volta até Nazaré, depois da festa da Páscoa (Lc 2,43-51)
8ª Viagem: acompanhando Jesus até à Cruz (Jo 19,25-27)
9ª Viagem: acompanhando os cristãos no dia de Pentecostes (At 1,12-14)
10ª Viagem de todos nós: (não registrada) no fim da vida, para junto de Deus
A Bíblia menciona muitas outras viagens. Por exemplo, Lucas diz: “Os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém para a festa de Páscoa” (Lc 2,41). “Todos os anos!” Não sabemos quantos anos a Mãe de Jesus viveu.
A Lei também mandava o povo visitar Jerusalém nas três grandes festas do ano: Páscoa, Pentecostes e Tendas: semeadura, início da colheita, e fim da colheita (Ex 23,17; Ex 34,23; Dt 16,16)
Além disso, Maria deve ter feito muitas viagens não registradas na Bíblia. Mas para a nossa reflexão basta ficarmos com estas dez viagens registradas na Bíblia. É para obtermos uma ideia de como se viajava naquele tempo e para comparar com o nosso jeito de viajar hoje.
As nossas perguntas
Ao ler o título “As dez viagens da Mãe de Jesus, registradas na Bíblia”, muitas perguntas vêm na cabeça da gente: Como eles viajavam naquele tempo? Como é que uma moça de seus 15 ou 16 anos podia viajar de Nazaré até Judeia? Quantos quilômetros? Viajava a pé, no lombo de algum animal ou numa carroça? Como eram as estradas? Como eram as hospedarias? Era perigoso viajar naquele tempo? E muitas outras perguntas sobre os lugares por onde ela passava, sobre as pessoas que ela encontrava, e sobre os fatos que aconteciam durante as viagens. Por exemplo, muitos pais perguntam: Como é que Maria e José, os pais de Jesus, podiam viajar um dia inteiro, de Jerusalém para Nazaré, sem se dar conta de que o menino Jesus de 12 anos de idade não estava com eles e que ele tinha ficado sozinho em Jerusalém? (Lc 2,43). E tantas outras perguntas….
Comparando: viajar hoje e viajar no tempo de Jesus
Viajar hoje. Hoje, muita gente passa mais de três horas por dia no ônibus: uma hora e meia de manhã para ir ao trabalho, e outro tanto à tarde para voltar para casa. Na cidade grande, o pessoal vai de ônibus, de metrô, de trem. Muita gente vai de carro, de bicicleta ou de motocicleta. Se você tem que viajar longe, vai de avião. Tem empresas que ajudam a organizar suas viagens. Se tem que viajar 170 quilômetros, o ônibus o faz em três horas ou menos, mesmo parando em vários lugares e fazendo uma parada de quinze minutos num restaurante para tomar um cafezinho e ir ao banheiro. Os ônibus e os trens têm horário para sair e chegar. Sabendo disso, você se organiza.
Viajar hoje de Nazaré até Jerusalém não é difícil. Existe uma estrada boa, bem asfaltada, e um bom serviço de ônibus. Mas, como era no tempo de Jesus? Como Maria viajou para visitar sua prima Isabel na Judeia? Viajou sozinha? Era longe? São perguntas que a gente se faz.
Viajar no tempo de Jesus. O povo ia a pé ou no lombo do animal. Os mais ricos iam de carruagem (At 8,28). Os oficiais do exército iam a cavalo. Os que iam a pé, iam descalços ou de sandálias. Viajar sozinho era arriscado, pois havia perigo de assalto. Um homem viajou sozinho de Jerusalém para Jericó e foi assaltado. Os ladrões o deixaram meio morto à beira da estrada (Lc 10,30). Até Jesus ficou sabendo e usou o fato para contar uma parábola (Lc 10,30-37). Para viajar longe eles iam em caravanas. Era mais seguro. Nas caravanas era muita gente: homens, mulheres e crianças. Faziam uma média de uns trinta quilômetros por dia. Nas caravanas, um grupo de homens ia na frente, outro grupo de homens atrás, no fim. No meio, entre os dois grupos, iam as mulheres com as crianças. Nas estradas maiores, a cada 30 quilômetros, havia uma hospedaria. O evangelho de Lucas menciona a hospedaria no caminho entre Jerusalém e Jericó, para onde o bom samaritano levou o homem assaltado que ele encontrou meio morto à beira da estrada, quando estava de viagem (Lc 10,34-35).
Hoje, no Brasil, os hotéis têm um estacionamento para os carros. Naquele tempo, as hospedarias eram de dois andares. No andar de cima, chamado “casa”, ficavam as pessoas. A parte de baixo, o andar térreo, era uma espécie de estábulo, um abrigo, onde ficavam os animais dos hóspedes: jumentos, bois, cavalos e jegues. Era o “estacionamento”. Assim, durante a noite, os animais estavam guardados e não podiam fugir. Pastores e outras pessoas tomavam conta como empregados do dono da hospedaria.
Outro detalhe importante é termos noção das distâncias entre os diversos lugares:
De Nazaré até Ain Karem: cerca de 145 km
De Nazaré até Jerusalém: cerca de 135 km
De Nazaré até Tiberíades: cerca de 32 km
De Jerusalém até Betânia de Marta e Maria: cerca de 6 km
De Jerusalém até Belém: cerca de 10 km
De Jerusalém até Jericó: cerca de 42 km
De Jerusalém até Sicar: cerca de 48 km
De Cesaréia de Filipe até Jerusalém: cerca de 226 km
De Belém até o Egito: cerca de 370 km
Conscientes destas distâncias, vamos ver de perto as 10 viagens de Maria, a Mãe de Jesus.
1ª Viagem
de Nazaré até a Judeia
Lc 1,39-40
“Naqueles dias, Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, às pressas, a uma cidade da Judéia. Entrou na casa de Zacarias, e saudou Isabel” (Lc 1,39-40). |
Nazaré na Galileia ficava a uns 145 quilômetros da “cidade da Judeia” no Sul, onde moravam Isabel e Zacarias, parentes de Maria. A tradição informa que o nome daquela cidade na Judeia era Ain Karem. Significa Fonte da Vinha. Foi o anjo Gabriel que contou a Maria que Isabel sua parenta estava no sexto mês de gravidez (Lc 1,36). Até hoje, em todo canto, há muitos anjos, pessoas amigas, que transmitem e comunicam para nós as notícias, como o anjo Gabriel fez para Maria.
Maria tinha dito ao anjo Gabriel: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Disposta a ser a serva do Senhor, Maria levantou e foi servir a Isabel, que estava no sexto mês de gravidez. De Nazaré até Ain-Karem eram quatro a cinco dias de viagem, uma média de uns trinta quilômetros por dia.
Como ela viajou? Sozinha? Impossível! Hoje temos ônibus ou trem em horários marcados. Naquele tempo, havia as caravanas. Maria teve que esperar até a saída de uma caravana da Galileia até Judeia. E só depois de quatro ou cinco dias de viagem na caravana, ela acabou chegando em Ain-Karem, na casa de Isabel.
Diz a Bíblia: “Maria entrou na casa de Zacarias, e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança se agitou no seu ventre, e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Com um grande grito exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres, e é bendito o fruto do teu ventre! Como posso merecer que a mãe do meu Senhor venha me visitar? Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança saltou de alegria no meu ventre. Bem-aventurada aquela que acreditou, porque vai acontecer o que o Senhor lhe prometeu.” (Lc 1,40-45).
A resposta de Maria para Isabel foi um cântico, chamado Magnificat, que Lucas conservou para nós no seu evangelho. Eis a letra do cântico:
Minha alma proclama a grandeza do Senhor,
47 meu espírito se alegra em Deus, meu salvador, 48 porque olhou para a humilhação de sua serva. Doravante todas as gerações me felicitarão. 49 O Todo-poderoso realizou grandes obras em mim: santo é o seu nome. 50 Sua misericórdia chega aos que o temem, de geração em geração. 51 Ele realiza proezas com seu braço: dispersa os soberbos de coração, 52 derruba do trono os poderosos e eleva os humildes; 53 aos famintos enche de bens, e despede os ricos de mãos vazias. 54 Socorre Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia, 55 conforme prometera aos nossos pais – em favor de Abraão e de sua descendência, para sempre (Lc 1,46-55). |
Neste Cântico Maria cita ou evoca a Bíblia, o Antigo Testamento, 19 vezes, das quais 5 são dos Salmos. O cântico mostra que ela conhecia a história do seu povo, pois menciona as promessas que Deus fez “em favor de Abraão e da sua descendência para sempre” (Lc 1,55). O cântico mostra também que Maria não era uma pessoa ingênua. Ela tinha consciência crítica a respeito da situação social do seu país, pois chega a expressar sua esperança dizendo que o Todo Poderoso “dispersa os soberbos de coração, derruba do trono os poderosos e eleva os humildes; aos famintos enche de bens, e despede os ricos de mãos vazias” (Lc 1,51-53).
A origem da oração da Ave Maria
O anjo saudou Maria dizendo: “Ave Maria, cheia de graça. O Senhor é contigo!” (Lc 1,28). Isabel saudou Maria dizendo: “Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre!” (Lc 1,42). Estas duas saudações para Maria, do anjo Gabriel e de Isabel, formam a primeira parte da Ave-Maria, a oração que todos nós sabemos de memória e que rezamos muitas vezes. A outra metade da Ave-Maria vem do Concílio Ecumênico de Éfeso, celebrado no ano 431. Os bispos reunidos naquele Concílio confirmaram o título de Maria como Mãe de Deus, e o povo em procissão nas ruas rezava e cantava: “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte. Amém”
2ª Viagem:
da Judeia de volta para Nazaré
Lc 1,56
“Maria ficou três meses com Isabel; e depois voltou para casa” (Lc 1,56). |
Quando Maria chegou na casa de Isabel, Isabel estava no sexto mês da sua gravidez (Lc 1,36). Maria ficou três meses. Ficou até o parto. A gente tenta imaginar como deve ter sido esse tempo de espera até à hora do parto. Isabel, uma senhora já de idade, primeiro filho. Parto de risco! As parteiras junto com Maria devem ter dado uma boa ajuda. Nasceu o menino prometido e deram-lhe o nome de João, conforme o anjo tinha anunciado a Zacarias (Lc 1,13). O nome João significa consolador.
Maria deve ter ficado na casa de Isabel até à festa da circuncisão do menino no oitavo dia depois do nascimento. “No oitavo dia, quando foram circuncidar o menino, quiseram dar-lhe o nome de seu pai, Zacarias” (Lc 1,59). Mas Isabel reagiu: “Não, ele vai se chamar João” (Lc 1,60). Perguntaram a Zacarias, que era mudo (cf. Lc 1,20), qual deveria ser o nome do menino. Ele escreveu numa tabuinha: “O nome dele é João!” (Lc 1,63). Naquela mesma hora, a boca de Zacarias se abriu e ele pôde falar de novo para louvar e agradecer a Deus. Diz a Bíblia: “Cheio do Espírito Santo, Zacarias profetizou dizendo: “Bendito seja o Senhor, Deus de Israel” (Lc 1,68). E segue o Cântico de Zacarias (Lc 1,68-79).
Dois Cânticos muito semelhantes: o Cântico de Maria (Lc 1,46-55) e o Cântico de Zacarias (Lc 1,68-79). Os dois são rezados e cantados até hoje. Devem ter sido cânticos que se cantavam nas reuniões das comunidades dos anos 80, quando Lucas escreveu o seu evangelho. Os dois nos dão uma ideia de como o povo rezava e cantava naquele tempo. Tanto o cântico de Maria como o de Zacarias, ambos parecem colchas de retalhos, recheados com palavras e frases do Antigo Testamento, evocando as profecias de Deus do passado que estavam se realizando no nascimento de João Batista e de Jesus. O Cântico de Zacarias tem 21 evocações ou citações da Bíblia, das quais 6 são dos salmos. O Cântico de Maria tem 19 evocações ou citações da Bíblia, das quais 5 são dos salmos.
Terminada a festa da circuncisão do menino João, Maria procurou uma caravana e voltou para casa em Nazaré. Outros quatro ou cinco dias de viagem de Ain-Karem na Judeia no Sul até Nazaré na Galileia no Norte.
3ª Viagem
de Nazaré até Belém
Lc 2,1-5
“1 Naqueles dias, o imperador Augusto publicou um decreto, ordenando o recenseamento em todo o império. 2 Esse primeiro recenseamento foi feito quando Quirino era governador da Síria. 3 Todos iam registrar-se, cada um na sua cidade natal. 4 José era da família e descendência de Davi. Subiu da cidade de Nazaré, na Galiléia, até à cidade de Davi, chamada Belém, na Judéia, 5 para registrar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida. 6 Enquanto estavam em Belém, se completaram os dias para o parto, 7 e Maria deu à luz o seu filho primogênito. Ela o enfaixou, e o colocou na manjedoura, pois não havia lugar para eles dentro da casa.
8 Naquela região havia pastores, que passavam a noite nos campos, tomando conta do rebanho. 9 Um anjo do Senhor apareceu aos pastores; a glória do Senhor os envolveu em luz, e eles ficaram com muito medo. 10 Mas o anjo disse aos pastores: “Não tenham medo! Eu anuncio para vocês a Boa Notícia, que será uma grande alegria para todo o povo: 11 hoje, na cidade de Davi, nasceu para vocês um Salvador, que é o Messias, o Senhor” (Lc 2,1-11). |
O Evangelho diz: “José subiu da cidade de Nazaré, na Galileia, até à cidade de Davi, chamada Belém, na Judéia, para registrar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida” (Lc 2,4-5). Maria devia estar grávida mais de oito meses, pois o menino nasceu quando eles estavam lá em Belém. Pense um pouco no que significa: viajar grávida de sete ou oito meses, em caravana com muita gente, estrada de chão, subindo e descendo a serra, sofrendo frio e calor, durante no mínimo cinco ou seis dias! Não deve ter sido fácil.
Diz a Bíblia: “Enquanto estavam em Belém, completaram-se os dias para o parto, e Maria deu à luz o seu filho primogênito. Ela o enfaixou, e o colocou na manjedoura, pois não havia lugar para eles dentro da casa” (Lc 2,6-7). Hoje, quando uma moça dá à luz pela primeira vez, a mãe está junto dela. Maria estava sozinha. Ana, sua mãe, estava longe, lá em Nazaré.
Como já informamos, as hospedarias eram de dois andares. O andar de cima era chamado “casa”, onde se hospedavam as pessoas. O andar de baixo era para os animais. Para aquele casal pobre da Galileia, diz a Bíblia:“não havia lugar para eles dentro da casa” (Lc 2,7). Jesus nasceu no andar de baixo, no “estacionamento” dos animais. Seu berço era a manjedoura das vacas e jumentos. Difícil você imaginar um nascimento mais pobre e mais excluído do que o nascimento de Jesus em Belém.
Depois do parto, estando ainda em Belém, Maria e José receberam duas visitas: uma dos pastores e a outra dos magos. Lucas fala da visita dos pastores (Lc 2,8-20). Mateus descreve a visita dos magos (Mt 2,1-12). Os pastores, os primeiros convidados, eram pessoas marginalizadas, pouco apreciadas. Viviam junto com os animais no campo, cuidando dos rebanhos e fazendo hora extra, sem adicional noturno, separados do convívio humano. Por causa do contato com os animais, eles eram considerados impuros. Ninguém jamais os convidaria para vir visitar um recém-nascido.
Os recenseamentos
Decretos de recenseamento como este do imperador Augusto eram frequentes naquele tempo. Eram feitos para o governo conhecer o número exato dos cidadãos em vista da cobrança dos impostos. Os ricos pagavam uma porcentagem da sua riqueza, em torno de 10%. Os pobres pagavam pelo número dos filhos. O recenseamento também servia para o império descobrir se havia espiões, inimigos disfarçados, no meio do povo, e para obter informações sobre a realidade em vista da organização do povo.
A cobrança dos impostos era feita pelos publicanos. Eram chamados assim porque recolhiam o imposto a ser pago pelo povo em vista do “bem público” da nação. Na hora da cobrança dos impostos, os publicanos eram acompanhados e protegidos por soldados. O povo não tinha defesa contra o sistema que o explorava. Muitos publicanos arrecadavam mais do que o prescrito e assim enchiam o próprio bolso. Dá para entender que o povo não gostava muito dos publicanos.
O recenseamento das pessoas devia ser feito na cidade de origem. Hoje, no Brasil, cada um deve votar no lugar onde está inscrito com a sua carteira. José morava em Nazaré, mas ele era de uma família da descendência de Davi de Belém. Muito provavelmente, a família de José era migrante. No século anterior ao nascimento de Jesus, houve uma migração de muita gente da Judéia no Sul para a Galileia no Norte em busca de melhores condições de vida. Por isso, mesmo morando em Nazaré, José teve que ir até Belém para obedecer ao decreto do recenseamento do imperador Augusto. Eram as ordens que vinham lá de Roma.
4ª Viagem
de Belém até o Egito
Mateus 2,13-15
“Depois que os magos partiram, o Anjo do Senhor apareceu em sonho a José, e lhe disse: “Levante-se, pegue o menino e a mãe dele, e fuja para o Egito! Fique lá até que eu avise. Porque Herodes vai procurar o menino para matá-lo.” José levantou-se de noite, pegou o menino e a mãe dele, e partiu para o Egito” (Mt 2,13-15) |
Os Magos do Oriente tinham chegado em Jerusalém e foram pedir informações ao rei Herodes: “Onde está o recém-nascido rei dos judeus?” (Mt 2,2). Herodes ficou alarmado. Chamou os doutores da Lei para saber deles onde devia nascer o Messias. Os doutores consultaram a Bíblia que dizia, através do profeta Miqueias: o messias deve nascer em Belém (cf. Mq 2,6; Mt 2,3-6). Então, Herodes disse aos magos: “Vão, e procurem obter informações exatas sobre o menino. E me avisem quando o encontrarem, para que também eu vá prestar-lhe homenagem.” (Mt 2,8). Na realidade, a intenção de Herodes era matar o menino. Por isso, “avisados em sonho para não voltarem a Herodes, os Magos partiram para a região deles, seguindo por outro caminho” (Mt 2,12). Depois que os magos partiram, o anjo de Deus avisou a José em sonho: “Levante-se, pegue o menino e a mãe dele, e fuja para o Egito! Fique lá até que eu avise” (Mt 2,13). “José levantou-se de noite, pegou o menino e a mãe dele, e partiu para o Egito” (Mt 2,14).
Como foi esta viagem da Mãe de Jesus, desde Belém até o Egito? Tente imaginar a situação deste casal pobre de Nazaré, Maria e José, com nenê recém-nascido nos braços. Ameaçados por um rei assassino que queria matar o menino, eles devem levantar de noite, no escuro, e fugir de Belém para o Egito, para o exterior! Egito ficava longe e era totalmente desconhecido para José e Maria. País diferente, língua diferente. Outro ambiente, outro clima, outra comida, outra língua! Difícil de saber em que lugar no Egito eles foram. Quem os ajudou? Como conseguiram enfrentar as dificuldades?
No mapa geográfico de hoje, a distância entre Belém e Cairo, capital do Egito, é mais de 350 quilômetros. Certamente, eles não foram até o centro do Egito. Foram na direção do Egito até estar fora do alcance dos soldados e da polícia de Herodes, para que eles não pudessem fazer mal ao menino Jesus.
Ao descrever a fuga de José e Maria para o Egito, o evangelho de Mateus não dá atenção a estes problemas da viagem que acabamos de mencionar. O interesse de Mateus é outro. Ele escreve para judeus convertidos das comunidades da Galileia e da Síria para mostrar que esse menino perseguido, ameaçado de morte, era o messias anunciado pelos profetas. Mateus diz a respeito da fuga para o Egito: Isto aconteceu para que se cumprisse a profecia de Oséias que dizia: “Do Egito chamei o meu filho” (Mt 2,15). E quando Mateus fala de Herodes que mandou matar as crianças de Belém, ele cita o profeta Jeremias: “Ouviu-se um grito em Ramá, choro e grande lamento: é Raquel que chora seus filhos, e não quer ser consolada, porque eles não existem mais.” (Jr 31,15; Mt 2,18) E mais adiante, Mateus repete uma terceira vez: “Isso aconteceu para se cumprir o que foi dito pelos profetas: “Ele será chamado Nazareno.” (Mt 2,23).
Não sabemos quanto tempo eles ficaram no Egito. A situação dos três sozinhos, Maria, José e o menino Jesus, lá no Egito, faz lembrar a situação de um casal de nordestinos bem pobres, com um menino pequeno nos braços e uma porção de pacotes e sacolas. Sentados no chão na rodoviária do Tietê, em São Paulo, eles estavam à espera de algum amigo ou conhecido, um anjo, que viesse buscá-los e levá-los para a casa de um parente na periferia.
Os magos e a estrela que os guiava
A tradição posterior sabe informar que os magos eram três reis: Melchior, rei da Pérsia, Gaspar, rei da Índia, e Baltazar, rei da Arábia. Na realidade, conforme a Bíblia, não eram três nem Reis. Provavelmente, os magos eram pessoas jovens em busca de um sentido para a sua vida. Orientados por uma estrela, buscavam encontrar o recém-nascido rei dos judeus (Mt 2,1-2). Buscar, todo mundo busca algo na vida! Cada um de nós tem a sua estrela e vai atrás dela. As estrelas são muitas! Muitas vezes, como a estrela dos magos, elas desaparecem e deixam a gente no escuro.
De fato, chegando em Jerusalém, a estrela dos Magos desapareceu. Eles foram falar com o rei Herodes que consultou os doutores da lei a respeito do lugar onde devia nascer o Messias. Encontraram a resposta na Bíblia: “Em Belém, na Judéia, porque assim está escrito por meio do profeta: ‘E você, Belém, terra de Judá, não é de modo algum a menor entre as principais cidades de Judá, porque de você sairá um Chefe, que vai apascentar Israel, meu povo.’ “(Mt 2,5-6; Mq 5,1-3). Quando os magos foram para Belém, a estrela reapareceu. “Ao verem de novo a estrela, os magos ficaram radiantes de alegria. Quando entraram na casa, viram o menino com sua mãe. Ajoelharam-se diante dele, e lhe prestaram homenagem” (Mt 2,10-11). Os doutores da Lei souberam informar o lugar do nascimento, mas eles não foram visitar o menino.
5ª Viagem
do Egito até Nazaré
Mt 2,19-23
“Quando Herodes morreu, o Anjo do Senhor apareceu em sonho a José, no Egito, e lhe disse: “Levante-se, pegue o menino e a mãe dele, e volte para a terra de Israel, pois já estão mortos aqueles que procuravam matar o menino”. José levantou-se, pegou o menino e a mãe dele, e voltou para a terra de Israel. Mas, quando soube que Arquelau reinava na Judéia, como sucessor do seu pai Herodes, teve medo de ir para lá. Por isso, depois de receber aviso em sonho, José partiu para a região da Galiléia, e foi morar numa cidade chamada Nazaré. Isso aconteceu para se cumprir o que foi dito pelos profetas: “Ele será chamado Nazareno” (Mt 2,19-23). |
Não sabemos quanto tempo Maria e José ficaram no Egito. A notícia da morte de Herodes foi um sinal de Deus. Havia passado o perigo de Jesus ser morto. Juntaram tudo e iniciaram a viagem de volta “para a terra de Israel” (Mt 2,20). Durante a viagem, eles ficaram sabendo que a situação política na Palestina havia mudado. Diz a Bíblia: “Quando José soube que Arquelau reinava na Judéia, como sucessor do seu pai Herodes, teve medo de ir para lá. Por isso, depois de receber aviso em sonho, José partiu para a região da Galileia, e foi morar numa cidade chamada Nazaré” (Mt 2,22-23).
É que Arquelau, o novo rei, era pior do que seu pai Herodes. Flávio José, um historiador judeu do fim do primeiro século, informa o seguinte. Na tomada de posse de Arquelau, as mães dos filhos assassinados por Herodes pediram justiça ao novo rei. Criou-se uma situação de conflito e o novo rei mandou entrar em ação os soldados. Foi um massacre. Mataram em torno de três mil na praça do templo. Arquelau teve um governo de muitos distúrbios e conflitos, do começo ao fim, até que o imperador de Roma o demitiu no ano 6 depois de Cristo e nomeou um governador romano para a região da Judeia. Alguns estudiosos acham que, na assim chamada “Parábola das Minas” (Lc 19,11-27), Jesus evoca episódios do reinado de Arquelau.
Resumindo. Foram muitos dias de viagem nestes primeiros anos da vida de Jesus. Faça o cálculo: de Nazaré até Belém, de Belém até o Egito, do Egito de volta até Nazaré: ao todo, muitos quilômetros! Se a média era de 30 quilômetros por dia, então muitos dias de viagem!
Lembrando e meditando todas estas viagens da mãe de Jesus, a gente quase espontaneamente diz: “São José, Rogai por nós!” Pois quem tomava a frente das coisas e organizava tudo era José, o esposo de Maria. É de José que o evangelho de Mateus nos fala, mas José, ele mesmo, não diz nenhuma palavra. Ele apenas age, protege e conduz. O Papa Francisco, no documento Patris Corde (com um coração de pai) decretou que o ano de 2021 seja um ano dedicado especialmente a São José.
6ª Viagem:
de Nazaré até Jerusalém
Lucas 2,41-42
“Os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém, para a festa da Páscoa. Quando o menino completou doze anos, subiram para a festa, como de costume” (Lc 2,41-42). |
Hoje, para acompanhar o crescimento das crianças na fé, nós temos celebrações e cerimônias: batismo, primeira comunhão, profissão de fé. Todas estas datas são acompanhadas com alguma catequese e algum compromisso. O mesmo havia no tempo de Jesus. No sétimo dia depois do nascimento havia a cerimônia da circuncisão. Aos doze anos havia a cerimônia de introdução real dos rapazes como membro pleno no povo de Deus. Foi esta a celebração dos doze anos de Jesus.
O Evangelho diz que os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém para a festa da páscoa. Conforme a lei, a visita a Jerusalém devia ser feita três vezes ao ano. Dizia a Lei: “Três vezes por ano todo homem deverá comparecer diante de Javé seu Deus, no lugar que ele tiver escolhido: na festa dos Pães sem fermento, na festa das Semanas e na festa das Tendas. Que ninguém se apresente de mãos vazias diante de Javé: cada um traga seu dom, conforme a bênção que Javé seu Deus lhe tiver proporcionado” (Dt 16,16-17). Para quem morava na Judeia, não era tão difícil observar esta lei. Mas para os que moravam na Galileia, era bem mais difícil. Isto significava, cada vez, quinze dias de viagem: cinco dias de Nazaré até Jerusalém e outros cinco para voltar. Além disso, no mínimo, uns cinco dias para ficar em Jerusalém e participar das festas. Tudo isto era muito difícil para muita gente. Pense nas mulheres grávidas, nos idosos e idosas, nos enfermos ou nos pobres que moravam longe. Estas pessoas não tinham condições de uma viagem tão longa e desgastante. Por isso, na realidade, muita gente o fazia apenas uma vez ao ano, na grande festa de Páscoa. E muita gente ficava em casa, trabalhando e rezando.
7ª Viagem:
de Jerusalém de volta até Nazaré
Lc 2,43-51
“43 Passados os dias da Páscoa, voltaram, mas o menino Jesus ficou em Jerusalém, sem que seus pais o notassem. 44 Pensando que o menino estivesse na caravana, caminharam um dia inteiro. Depois começaram a procurá-lo entre parentes e conhecidos. 45 Não o tendo encontrado, voltaram a Jerusalém à procura dele. 46 Três dias depois, encontraram o menino no Templo. Estava sentado no meio dos doutores, escutando e fazendo perguntas. 47 Todos os que ouviam o menino estavam maravilhados com a inteligência de suas respostas. 48 Ao vê-lo, seus pais ficaram emocionados. Sua mãe lhe disse: “Meu filho, por que você fez isso conosco? Olhe que seu pai e eu estávamos angustiados, à sua procura.” 49 Jesus respondeu: “Por que me procuravam? Não sabiam que eu devo estar na casa do meu Pai?” 50 Mas eles não compreenderam o que o menino acabava de lhes dizer. 51 Jesus desceu então com seus pais para Nazaré, e permaneceu obediente a eles. E sua mãe conservava no coração todas essas coisas. 52 E Jesus crescia em sabedoria, em estatura e graça, diante de Deus e dos homens” (Lc 2,43-51). |
No retorno da caravana dos romeiros de Jerusalém para Nazaré, Maria e José perderam o contato com o menino Jesus e só o reencontraram, três dias depois, no Templo. A Bíblia diz que “ao vê-lo, seus pais ficaram emocionados. Sua mãe lhe disse: “Meu filho, por que você fez isso conosco? Olhe que seu pai e eu estávamos angustiados, à sua procura”. Jesus respondeu: “Por que me procuravam? Não sabiam que eu devo estar na casa do meu Pai?”. Mas eles não compreenderam o que o menino acabava de lhes dizer” (Lc 2,48-50). Maria não entendeu o motivo que levou Jesus a ficar no Templo sem avisar os pais: “Por que fez isto conosco?” E agora não entende a resposta de Jesus. Não entendeu o gesto, nem as palavras de Jesus.
Vendo o que aconteceu com Maria, estamos olhando no espelho. Conosco acontece o mesmo. Muitas vezes, lemos a Bíblia e não entendemos o significado das palavras. Outras vezes, não entendemos o sentido dos fatos que acontecem conosco na vida. A Bíblia diz que, para poder entender as palavras e os gestos de Jesus, Maria “conservava no coração todas essas coisas” (Lc 2,51). Ela nos ensina a recordar, a rezar e a insistir até que a luz apareça e ilumine nossas trevas.
Hoje, sem dizê-lo abertamente, muitos pais se perguntam: “Como é que Maria e José podiam viajar durante mais de um dia, sem se dar conta de que o filho de apenas doze anos não estava com eles? Hoje seria difícil você imaginar um casal fazer uma romaria até Aparecida do Norte e não se dar conta de que o filho, ainda menor, não está com eles no retorno para casa. Como já dissemos, naquela época, as caravanas dos romeiros eram organizadas da seguinte maneira. Um grupo dos homens ia na frente; as mulheres com crianças andavam no meio, e um outro grupo de homens ia atrás, no fim. Os meninos já mais crescidos podiam ficar com os homens ou com as mulheres. É por isso que Maria e José não se preocuparam. Maria deve ter pensado: “Jesus deve estar com José, com os homens!” José pensava: “Jesus deve estar com a mãe, com as mulheres!” Eles só se deram conta da falta do menino quando, à noite do primeiro dia de viagem, pararam para descansar e dormir. Pois era tudo como uma grande família.
8ª Viagem:
acompanhando Jesus até à Cruz
João 19,25-27
“A mãe de Jesus, a irmã da mãe dele, Maria de Cléofas, e Maria Madalena estavam junto à cruz. Jesus viu a mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele amava. Então disse à mãe: “Mulher, eis aí o seu filho”. Depois disse ao discípulo: “Eis aí a sua mãe.” E dessa hora em diante, o discípulo a recebeu em sua casa. |
A Bíblia não fala de um encontro de Jesus com sua Mãe durante a Via Sacra, mas fala de um encontro de Jesus com as mulheres que tinham vindo com ele desde a Galileia (cf. Mc 15,41). Elas foram esperar por Jesus à beira do caminho por onde ele devia passar carregando a sua cruz até o Calvário. Era o único gesto possível para mostrar solidariedade a Jesus. Maria devia estar no meio delas. E a tradição da Igreja diz, na 4ª Estação da Via Sacra: “Jesus se encontra com sua Mãe”. Jesus passa carregando a cruz. As mulheres choram. Jesus olha para elas e diz: “Não chorem por mim!” E citando frases da Escritura, ele pede para elas chorem por si mesmas e pelos seus filhos: “Porque dias virão, em que se dirá: ‘Felizes das mulheres que nunca tiveram filhos, dos ventres que nunca deram à luz e dos seios que nunca amamentaram.’ Então começarão a pedir às montanhas: ‘Caiam em cima de nós!’ E às colinas: ‘Escondam-nos!’ Porque, se assim fazem com a árvore verde, o que não farão com a árvore seca?” (Lc 23,28-31). O evangelho de João informa ainda que Maria acompanhou Jesus até no Monte Calvário (Jo 19,25).
Naqueles dias era um espetáculo comum em Jerusalém ver os condenados à morte carregarem suas cruzes pelas ruas da cidade até o Monte Calvário, onde eles eram pregados na cruz e ficavam pendurados à vista de todos. A cruz era um castigo terrível, inventado pelo império romano para castigar os rebeldes que se levantassem contra o poder central do César em Roma. Um crucificado não podia ser sepultado. Ficava pendurado na cruz, totalmente nu, até morrer. Os corpos não podiam ser tirados, a não ser com expressa licença. Ficavam aí até apodrecer ou até os abutres comerem o que restava. Assim seria o destino de Jesus. Mas José de Arimateia pediu licença a Pilatos e, ajudado pelas mulheres, cuidou da sepultura de Jesus (Lc 23,50-56). A história informa que, quando, no ano 70 dC, os romanos invadiram a Palestina e ocuparam a cidade de Jerusalém, havia tantos crucificados ao redor da cidade que não havia madeira suficiente para fabricar as cruzes. E o que pensar das muitas cruzes nos calvários do mundo ao longo da história, desde a Cruz de Jesus no ano 33 até hoje aqui no Brasil? Tantas Cruzes!
É o evangelho de João que menciona a presença da Mãe de Jesus ao pé da Cruz. A atitude de Maria é de silêncio total, silêncio mais eloquente que mil palavras. Junto com ela se encontram Maria de Cléofas e Maria Madalena (Jo 19,25). As três Marias! Junto com elas estava também o discípulo amado (Jo 19,26). Maria é a mãe forte, em pé, junto à cruz do filho, dando o seu apoio até o último momento.
No evangelho de João, a Mãe de Jesus, ao pé da cruz, simboliza o Antigo Testamento, o povo de Deus que vinha caminhando desde os tempos de Abraão. O discípulo amado, ao pé da mesma cruz, simboliza o Novo Testamento, a nova comunidade que nasceu e cresceu ao redor de Jesus. O Antigo e o Novo Testamento se encontram ao pé da cruz! Jesus vendo a sua mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele amava, disse à mãe: “Mulher, eis aí teu filho”. Depois disse ao discípulo: “Eis aí a tua mãe”. E dessa hora em diante o discípulo a recebeu em sua casa.
O Filho recebe a Mãe em sua casa. O Novo Testamento recebe o Antigo Testamento. Antigo e Novo, os dois devem caminhar juntos, fazem uma unidade. O Novo não se entende sem o Antigo. Seria um prédio sem fundamento, uma pessoa sem memória. E o Antigo sem o Novo ficaria incompleto. Seria uma árvore sem fruto. Com estas suas últimas palavras Jesus completou a transição da Antiga para a Nova Aliança, realizou a passagem, cumpriu a sua missão e podia morrer: “Tudo está realizado!” E inclinando a cabeça, entregou o espírito (cf. Jo 19,30). Jesus morreu, mas não ficou na morte. Deus o ressuscitou confirmando assim a transição do Antigo para o Novo. De agora em diante, Jesus é a chave principal para entender a vontade do Pai: “Fazei tudo o que ele vos disser!” ( Jo 2,5).
Depois de morto, Jesus não ficou pendurado na cruz. José de Arimatéia foi pedir a Pilatos a licença para poder enterrar o corpo de Jesus (Lc 23,50-53). Por isso, temos as duas últimas estações da Via Sacra: 13ª Estação: Jesus morto nos braços de sua Mãe; 14ª Estação: Jesus é enterrado.
Para poder sentir e avaliar o encontro de Jesus com as mulheres e com a sua mãe, nada melhor do que lembrar as catorze estações da Via Sacra:
1ª Estação: Jesus é condenado à morte.
2ª Estação: Jesus carrega a cruz às costas.
3ª Estação: Jesus cai pela primeira vez.
4ª Estação: Jesus encontra a sua Mãe.
5ª Estação: Simão Cirineu ajuda Jesus a carregar a cruz.
6ª Estação: Verônica limpa o rosto de Jesus.
7ª Estação: Jesus cai pela segunda vez.
8ª Estação: Jesus encontra as mulheres.
9ª Estação: Terceira queda de Jesus.
10ª Estação: Jesus é despojado de suas vestes.
11ª Estação: Jesus é pregado na cruz.
12ª Estação: Jesus morre na cruz.
13ª Estação: Jesus morto nos braços de sua Mãe.
14ª Estação: Jesus é enterrado.
9ª Viagem
Acompanhando os cristãos no dia de Pentecostes
At 1,12-14
12 Os apóstolos voltaram para Jerusalém, pois se encontravam no chamado monte das Oliveiras, não muito longe de Jerusalém: uma caminhada de sábado. 13 Entraram na cidade e subiram para a sala de cima, onde costumavam hospedar-se. Aí estavam Pedro e João, Tiago e André, Filipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão Zelota e Judas, filho de Tiago. 14 Todos eles tinham os mesmos sentimentos e eram assíduos na oração, junto com algumas mulheres, entre as quais Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos de Jesus” (At 1,12-14). |
Dia de Pentecostes. Um grupo de 120 pessoas estava reunido, rezando, junto com Maria, a Mãe de Jesus (At 1,14-15). De repente, o ruído de um vendaval enche a casa. Línguas de fogo descem e se repartem sobre cada um dos presentes. Todos ficam cheios do Espírito Santo e começam a falar em outras línguas “conforme o Espírito lhes concedia que falassem” (At 2,4).
O livro dos Atos dos Apóstolos não menciona a presença da mãe de Jesus no meio dos que no dia de Pentecostes receberam o dom do Espírito Santo (At 2,1-5), mas menciona a presença dela no meio dos que se preparavam para a vinda do Espírito de Jesus. Lucas diz: “Todos eles tinham os mesmos sentimentos e eram assíduos na oração, junto com algumas mulheres, entre as quais Maria, a mãe de Jesus, e com os irmãos de Jesus” (At 1,14).
Trinta e três anos antes, o Espírito Santo tinha descido sobre Maria lá em Nazaré, e Jesus nasceu nove meses depois (Lc 1,35-38). Agora, no dia de Pentecostes, o mesmo Espírito desceu sobre os doze e sobre as outras pessoas que estavam reunidas em oração junto com “Maria, a mãe de Jesus”, e nasceu a Igreja (At 1,14; 2,1-2). Maria, Mãe de Jesus e Mãe da Igreja!
O dom do Espírito Santo não se compra nem se vende (At 8,18-24). A única maneira de consegui-lo é através da oração. Jesus disse: “Se vocês que são maus, sabem dar coisas boas aos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem!” (Lc 11,13). A condição é ter os mesmos sentimentos, ser assíduos na oração, junto com Maria, a mãe de Jesus (At 1,14).
São três os sínais da ação do Espírito: vento, língua e fogo.
O vento que encheu a casa evoca o Espírito de Deus que soprava sobre as águas no dia da criação (Gn 1,2); evoca a ventania que secou o Mar Vermelho e permitiu o povo fazer a travessia e iniciar o êxodo (Ex 14,21); evoca a nuvem que encheu o interior do Templo (1Rs 8,10-11).
As línguas evocam a confusão das línguas na construção da Torre de Babel (Gn 11,9). Agora, sob a ação do Espírito Santo, a confusão das línguas está sendo superada: “Esses homens que estão falando, não são todos galileus? Como é que cada um de nós os ouve em sua própria língua materna?” (At 2,7-8).
O fogo evoca a manifestação de Deus na conclusão da Aliança e no nascimento do povo de Deus no Monte Sinai (Ex 19,16-19). No dia de Pentecostes, estava nascendo o novo povo de Deus, iniciando o novo Êxodo, a nova Aliança, o novo Templo.
Depois da vinda do Espírito Santo no dia de Pentecostes, houve muitos outros Pentecostes. Os Atos dos Apóstolos mencionam vários momentos, em que o Espírito Santo fez sentir a sua presença (cf. At 4,31; 13,2-3). Até hoje, ele faz sentir a sua presença em acontecimentos, pequenos e grandes: nas reuniões do povo, nos grupos de mulheres, nos círculos bíblicos, nos encontros das comunidades, nos encontros dos bispos, no Concílio Vaticano II, nas igrejas ecumênicas, no testemunho de tantas pessoas em tantos lugares e de tantas maneiras diferentes!
10ª Viagem
a viagem registrada sem registro,
viagem de todos os seres humanos,
passando desta vida para junto de Deus
de Gênesis até Apocalipse
Ao relatar as coisas da vida das pessoas, a gente não comunica as coisas evidentes que todos fazem e conhecem. Você não diz que a pessoa durante o dia almoça e janta e que durante a noite dorme e descansa. Isto todo mundo sabe e faz.
É isto também o que todos sabemos e a Bíblia não comunica a respeito da vida de Jesus e da sua mãe. Eles andavam e viajavam, dormiam e descansavam, trabalhavam e rezavam, igual a todo mundo. Nasceram e viveram, morreram e ressuscitaram, voltando para Deus que os criou e os ressuscitou da morte para uma vida nova, sem morte e sem dor. Vida eterna feliz!
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