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Rosa Maria Cúrcio nasceu em Íspica – Sicília (Itália), no dia 30 de janeiro de 1877. Ainda jovem, com 13 anos de idade, ingressa na Ordem Terceira Carmelitana na mesma cidade, toma o nome de Maria Crucifíxa. Ao se dedica à Espiritualidade Carmelitana, nasce-lhe o desejo de “Fazer florir o Carmelo”, através de uma vida mais ativa, dedicada a Missão. Tal ideal a faz transferir-se à Modica em 1912 junto a algumas companheiras para dedica-se ao trabalho com jovens órfãos. Tal inspiração divina a faz passar por algumas tribulações. Mas é com Padre Lourenzo van den Eerenbeemt, frade carmelita holandês que habitava a Roma, que seu sonho de um Carmelo Missionário ganha força ao unir-se com o sonho do mesmo Padre; assim em 3 de julho de 1925 se transfere a Santa Marinella, em 16 de julho mesmo ano a Congregação das Irmãs Carmelitas Missionárias de Santa Teresa do Menino Jesus se afilia a Ordem dos Irmãos da Bem Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo, dedicando-se a missão especialmente à Evangelização, revelando o rosto misericordioso de Deus a todos, de maneira especial às crianças e jovens mais necessitados. No dia 28 de novembro de 1947 chega ao Brasil em Paracatu-MG as primeiras missionárias, a convite do bispo Dom Eliseu van de Weijer.
No dia 4 de julho de 1957, em Santa Marinella (Itália), se encontrou com o Divino Esposo após uma vida de ideais, de sofrimentos, de dedicação às crianças, à oração e a contemplação (sobretudo ao Jesus Eucarístico). Em 13 de novembro de 2005 vem a ser beatificada sob o Pontificado do papa de Bento XVI tão grande mulher que é modelo de santidade para toda a Igreja, chamada a uma vida de contemplação e missão.
Como a pessoa Divina, a pessoa criada também tem uma vocação, e a essa vocação ela procura responder, que é à vida. Mas é a vida em relação, ou seja, é chamado a viver à semelhança de Deus (Gn 1, 27). O ser humano, criado por Deus se faz relação com o Criador, e com os outros. Como motor fundamental para a relação com Deus, o homem o faz em glorificação; para com os outros, o motor movente se dá pelo serviço. A Adoração é ato de glorificação a Deus, se torna extensão do Sacramento da Comunhão que por sua vez, se rende em diakonia aos irmãos. A Beata Maria Crucifixa Cúrcio é considerada “Mulher Eucarística”, por estar fortemente no Coração de Jesus e Jesus em seu coração. E assim ela relata em seu Diário Espiritual:
«Aproximei-me a Mesa dos Anjos, e apenas Jesus veio e dissipou a aflição e o cansaço, me reavivou um fogo de amor imenso naquela íntima união… que docilidade do Céu, que alegria, os meus lábios eram atacados as chagas do seu coração Divino, o seu imenso amor me comunicava aquela fonte de amor com tal intimidade a transformar-me toda Nele, vivo a sua mesma vida»[1].
Essa intima transformação descrita pela venerável Beata encontra sua origem no Corpo de Cristo, pois Ele não deu seu Corpo meramente por dar, mas, muito além disso, Ele ofertou-se como Sacrifício por todos. Quando Cristo se oferta em Sacrifício, Ele se faz relação.
A referida Beata procurou sempre exercitar-se no sacramento Eucarístico, esse por sua vez, se dava por meio da Adoração ao Santíssimo. Muitas vezes enferma e impossibilitada de andar a Mesa Eucarística, procurava o refúgio e abrigo no exercício de adoração, como falado à cima, “extensão da Comunhão”:
« A noite é hora de adoração é a hora de imensa ternura de Jesus Hóstia, mas quinta-feira é é hora de amor e de dor, no Getsemani, toda vez participo com mais intimidade e consciência de algumas imensas dores eu Jesus sofre naquela comovente agonia. »[2]
Em sua aflição a Beata Cúrcio, nunca deixou em segundo plano o centro de sua vida.
A contemplação na Beata Maria Crucifixa Cúrcio rende-se possível através da prática Eucarística, tal diálogo íntimo com o próprio Deus encarnado, leva o homem a se transformar em glorificação de Deus quando O fixa com os olhos do coração, dessa forma, fazendo-se um só com Ele a ponto de se oferecer como Ele se ofereceu. Dessa maneira, a contemplação em Deus, leva a pessoa criada a dispor-se-á, ou seja, a estar sempre a serviço.
O resultado de sua contemplação é bem visível em sua espiritualidade. A Beata Maria Crucifixa não seria a mesma sem a seus intensos momentos diante de Jesus Eucarístico, pois, é Ele quem dava forças para levar a diante o seu ardor missionário, a qual, impulsionada por Santa Teresa do Menino Jesus, ela encontrou, uma maneira de “fazer reflorescer o Carmelo”, portando ao mundo uma missão além dos claustros, tanto que a Beata a colocou no nome de sua Instituição para ser uma referência (Congregação das Irmãs Carmelitas Missionárias de Santa Teresa do Menino Jesus) conciliando a vida ativa na missão e vida contemplativa por meio da oração, pois esse era o desejo de Santa Teresinha, ser missionária:
“[…] Quisera percorrer a terra, pregar o seu nome e plantar no solo infiel a sua Cruz gloriosa! Mas, oh meu Amado, uma única missão não me bastaria: queria ao mesmo tempo anunciar o Evangelho nas cinco partes do mundo e até as ilhas mais longes… Queria ser missionaria não só por um ano, mas queria ser até a consumação dos séculos… ” [3]
De fato, a foi em suas orações pelos missionários, e depois de sua morte, se tornou uma “missionária” mundial, convertendo muitos simplesmente com sua Pequena Via. Referente aos sacerdotes assim manifesta a Beata Cúrcio:
«Oh! Como queria gritar forte e fazer entender o mundo todo, a sublime missão do sacerdote, Ele na sua imensa bondade não podia conceder-nos um dom maior!… Como queria despertar os sacerdotes que desgraçadamente não compreendam a grandeza de seu ministério, me oferto, me imolo por estes irmãos tão privilegiados e choro por suas infidelidades. »[4]
A semelhança entre santa Teresa do menino Jesus e da Beata Maria Crucifixa em referimento aos sacerdotes é que, tanto Teresinha quanto Crucifixa querem que o mundo preste atenção e dê valor ao Ministério sacerdotal, pois é por ele que Jesus Eucarístico se faz consagração. É por causa de Jesus que se tem a missão; e, é em Sua intenção Ele que acontece todo o serviço missionário.
Portanto, a Eucaristia é o centro da vida e espiritualidade da Beata Maria Crucifixa Cúrcio e nos leva a uma íntima relação para com Deus e para com os irmãos através do serviço, da missão e isso é traduzido na linguagem do Amor recebido de Deus e transmitido aos outros. Em suma, a Eucaristia é o centro, é o coração da Igreja e não pode não ser:
« Contudo, a Liturgia é simultaneamente a meta para a qual se encaminha a ação da Igreja e a fonte de onde promana toda a sua força. Na verdade, o trabalho apostólico ordena-se a conseguir que todos os que se tornaram filhos de Deus pela fé e pelo Baptismo se reúnam em assembleia para louvar a Deus no meio da Igreja, participem no Sacrifício e comam a Ceia do Senhor. A Liturgia, por sua vez, impele os fiéis, saciados pelos «mistérios pascais», a viverem «unidos no amor»; pede «que sejam fiéis na vida a quanto receberam pela fé»; e pela renovação da aliança do Senhor com os homens na Eucaristia, e aquece os fiéis na caridade urgente de Cristo. Da Liturgia, pois, em especial da Eucaristia, corre sobre nós, como de sua fonte, a graça, e por meio dela conseguem os homens com total eficácia a santificação em Cristo e a glorificação de Deus, a que se ordenam como a seu fim, todas as outras obras da Igreja… »[5].
Frei William Pereira Barboza, O.Carm.
Fotos: Arquivo Pessoal
[1] B.M.C. Curcio, Beata Maria Crocifissa Curcio Fondatrice: Ricordi, Biografia e Diario Spirituale, 20 ottobre 1925..
[2] B.M.C. Curcio, Beata Maria Crocifissa Curcio Fondatrice: Ricordi, Biografia e Diario Spirituale, 22 ottobre 1925..
[3] S. T. G. Bambino, Opere Complete (Scritti e ultime parole) di Santa Teresa di Gesù Bambino e del Volto Santo, C. Maccise (a cura di), Città del Vaticano 2009, 222.
[4] B.M.C. Curcio, Beata Maria Crocifissa Curcio Fondatrice: Ricordi, Biografia e Diario Spirituale, 27 agosto 1925..
[5] PAOLO VI, Costituzione Sulla Sacra Liturgia Sacrosanctum Concilium, 10, em: http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19631204_sacrosanctum-concilium_po.html
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