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Chegamos ao mês de setembro e no Brasil já é uma tradição que este mês seja lembrado como o Mês da Bíblia.
Conhecer a Palavra de Deus é fundamental para todo cristão. A Carta aos Hebreus diz que “A Palavra de Deus é viva, eficaz, mais penetrante do que uma espada de dois gumes, e atinge até a divisão da alma e do corpo, das juntas e medulas, e discerne os pensamentos e intenções do coração” (Hb 4,12).
Ao celebrar o mês da Bíblia, a Igreja nos chama a conhecer mais profundamente as Sagradas Escrituras e a cultivar um amor crescente por elas, a incorporar a prática diária de uma leitura contemplativa e devocional.
ORIGEM DO MÊS DA BÍBLIA
Em 1971, a Arquidiocese de Belo Horizonte (MG) lançou a iniciativa de uma ação bíblica destinada a todos os fiéis, leigos ou consagrados, para marcar o jubileu de cinquenta anos de sua fundação. O mês escolhido para a realização dos estudos bíblicos foi setembro, período em que se recorda a memória de São Jerônimo, um grande biblista da Igreja Católica conhecido por sua profunda dedicação à interpretação das Escrituras.
A percepção dessa ação da arquidiocese chamou a atenção do Serviço de Animação Bíblica das Irmãs Paulinas, que passou a promover, de forma contínua, a celebração do Mês da Bíblia nos anos subsequentes. Com o engajamento crescente e a proliferação de grupos de estudo bíblico, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) assumiu oficialmente a responsabilidade pela data comemorativa, estabelecendo-a como uma celebração de âmbito nacional.
Atualmente, o impacto dessa iniciativa ultrapassou as fronteiras brasileiras, estendendo-se para diversos países da América Latina e África, onde o mês de setembro é dedicado à veneração e à reflexão sobre a Bíblia, consolidando-se como um momento significativo para a espiritualidade e a compreensão das sagradas escrituras.
LECTIO DIVINA: UM EXERCÍCIO DE ESCUTA PESSOAL DA PALAVRA DE DEUS
Há diversas formas de realizar a leitura da Bíblia, a lectio divina; por exemplo, é uma prática de leitura e meditação das Escrituras utilizada principalmente na tradição cristã, especialmente entre os monges beneditinos. Essa prática envolve a leitura contemplativa e meditativa das Escrituras como uma forma de comunicação direta com Deus.
Funciona como uma escada de quatro degraus espirituais: leitura, meditação, oração, contemplação: “Buscai na leitura e encontrareis na meditação; batei pela oração e encontrareis pela contemplação” (Monge Guido II, Idade Média).
“A escuta da Palavra de Deus que se revela na pessoa de Jesus Cristo é o fundamento da espiritualidade do Movimento da Transfiguração. Escutar o que Jesus é, faz e diz para nós. A base de oração, nosso fundamento oracional parte sempre dessa realidade da lectio divina”, discorreu em entrevista à reportagem da Revista Ave Maria Cesar Augusto Nunes de Oliveira, fundador do Movimento da Transfiguração, um movimento da Igreja Católica que tem como carisma a transfiguração do coração humano por meio da leitura orante da Palavra de Deus (lectio divina), da oração e da liturgia. Segundo o fundador, a lectio divina ajuda os membros do movimento a aprofundar sua compreensão das Escrituras e a crescer em sua fé.
“Com uma perspectiva cristológica, lê-se o Antigo Testamento à luz do Novo, impulsionando a compreensão de Jesus e o crescimento no amor, adoração, serviço e evangelização. Essa abordagem tipológica na lectio divina é o alicerce para conhecer Jesus, cultivar amizade com Ele, propagar o Evangelho e transformar a nossa vida em busca da conversão”, disse Cesar.
Nas palavras dele, a leitura das Sagradas Escrituras, pelo método da lectio divina, leva todos os membros do Movimento da Transfiguração a terem um comprometimento maior com Cristo nas realidades práticas, no trabalho, na escola, na vida familiar, num compromisso de dar testemunho autenticamente cristão.
A JUVENTUDE QUE SE RENOVA PELA PALAVRA DE DEUS
Num mundo cheio de apelos, o jovem se vê com muitos caminhos a seguir e nem sempre sabe que direção tomar. É nesse momento que a Bíblia vem para orientar e trazer respostas para os desafios de ser jovem no século XXI. Ainda que seja um dos livros mais antigos do mundo é elemento fundamental de direcionamento da vida cristã, principalmente para a juventude.
A jovem Mariane Galvani, 27 anos, participa do grupo de liturgia e juventude da Paróquia São Luís Maria Grignion de Montfort, do bairro Jardim Rincão, na cidade de São Paulo (SP).
Católica desde criança, ela já entendeu a importância da Bíblia na sua vida pessoal e espiritual. “Hoje entendo a Bíblia como a principal ferramenta do meu desenvolvimento espiritual. Quando você ouve a Palavra de Deus com mais maturidade, seja na Missa ou em momentos de reflexão com os jovens, em casa, ela toca você de maneira diferente e consegue remeter a maioria dos ensinamentos para sua realidade. Creio que hoje ela tem total influência nas minhas decisões e modo de ver a vida”, destacou a jovem.
Para a bibliotecária e doula, a Palavra de Deus é atemporal, mas, os desafios da juventude mudam. Em sua opinião, os jovens hoje estão mais voltados para si e para os próprios problemas, sem conexão com a realidade e empatia. “Creio que as redes sociais têm bastante influência nisso. Esquecemos hoje da caridade, da compaixão e amor ao próximo. Esquecemos que servir e estar dispostos a ser solidários é o mandamento que Jesus nos deu, como está em 1João 3,11. Essa é a mensagem que vocês ouviram desde o princípio – que amemos uns aos outros – e creio que esse é o nosso principal desafio”, comentou.
Fábio dos Santos, 30 anos, também liderança de jovens da Paróquia São Luís Maria Grignion de Montfort, tem a Bíblia como seu guia, a bússola que norteia seus caminhos. Segundo o jovem, não existe fonte mais confiável do que a própria Palavra de Deus: “Interpretações e discursos são moldados ao próprio interesse de quem os está proclamando, mas, com o estudo bíblico aplicado da forma correta, nunca teremos dúvidas de como devemos lidar com as situações do nosso cotidiano. A satisfação de ser guiado pela Palavra de Nosso Senhor Jesus Cristo traz a nós a plenitude de que nosso espírito pode ficar em paz e espalhar sua Palavra com ainda mais propriedade”.
Fábio acredita que as redes sociais e a tecnologia podem fortes aliadas na evangelização da juventude, ainda com seus prós e contras. “Com a tecnologia e as redes sociais, o método de compartilhar informações e engajar a participação das pessoas se amplifica e fica muito mais veloz, além de atingir um número muito maior de pessoas. A juventude hoje já está inserida nos canais de comunicação digital, o que facilita atingir o público-alvo de forma prática, mas, sempre tomando o cuidado de que a linguagem utilizada seja adequada ao jovem, senão ele não irá aderir ao conteúdo”, ressalta o chefe consultor de implementação de sistemas.
“QUEREM ME FAZER FELIZ? LEIAM A BÍBLIA!”
Em 2015, o Papa Francisco escreveu no prólogo de uma edição da Bíblia alemã destinada aos jovens e lhes perguntou: “Vocês querem me fazer feliz? Leiam a Bíblia!”. No texto, o Pontífice dá conselhos de leitura. “Perguntem-se: ‘O que diz este texto ao meu coração? Por meio desta palavra, Deus está me falando? Talvez esteja suscitando anseios, a minha sede profunda? O que devo fazer?’. Somente assim a Palavra de Deus poderá mostrar toda a sua força; somente assim a nossa vida poderá transformar-se, tornando-se plena e bela”, encerrou.
BÍBLIA ORANTE: MAIS DE 100 MIL PESSOAS CONECTADAS PELA FÉ
O ano era 2016 e a Igreja Católica do mundo todo celebrava o Jubileu Extraordinário da Misericórdia. Padre Roger Araújo lançou um desafio para os seus contatos de WhatsApp para que durante o Mês da Bíblia, setembro, todos se dedicassem a fazer a lectio divina, a leitura orante da Palavra de Deus.
A experiência foi muito exitosa e frutuosa; ao fim dela, a maioria das pessoas pediu que o estudo continuasse. Ele continuou com o Evangelho de Lucas e outras pessoas vieram somar-se ao grupo. Hoje é um grande apostolado de evangelização pela Palavra de Deus, com mais de 100 mil pessoas em grupos de WhatsApp em diversos níveis de estudos no mundo todo, como no Brasil, em Portugal, na África, na Europa, na China, nos Estados Unidos, entre outros lugares.
“A Bíblia Orante é um apostolado da Palavra de Deus nas redes sociais. Vivemos em tempos de redes sociais, um tempo de revolução digital. O Papa Francisco nos diz que a Igreja deve ir até onde o povo está. E onde ele está? Nas redes sociais e no WhatsApp. A Bíblia Orante nasceu para responder a essa perspectiva”, comentou em entrevista o sacerdote.
O amor pela Palavra de Deus floresceu a partir do exemplo inspirador de sua mãe e do conhecimento adquirido junto ao Monsenhor Jonas Abib, na Comunidade Canção Nova. Esse amor, posteriormente, expandiu-se para o ambiente digital. No início, enfrentou diversos desafios, especialmente em relação à coordenação de inúmeras pessoas nos grupos do WhatsApp. Com o passar do tempo, a própria plataforma digital passou a auxiliar nessa tarefa de organização.
Um dos principais desafios enfrentados no início do apostolado digital foi manter as pessoas perseverantes; algumas desistiam no meio do caminho, no entanto, segundo o presbítero, eles encontraram uma abordagem eficaz ao utilizar suas próprias redes sociais para motivar e incentivar as pessoas a continuar.
“Vivemos em uma cultura latina e brasileira, na qual as pessoas não estão acostumadas à leitura, inclusive a leitura da Bíblia não faz parte do cotidiano delas. Isso representa um desafio significativo, especialmente para nós, católicos, no sentido de cultivar o gosto pela leitura orante da Bíblia”, refletiu o sacerdote, que continuou: “Inúmeros relatos atestam como a participação nesse apostolado enriquece a vivência da fé das pessoas, tanto no cotidiano quanto na participação na santa Missa e nos estudos diários da Palavra de Deus. O notável sucesso e a crescente adesão ao Apostolado Bíblia Orante, abraçando pessoas de variadas faixas etárias, inclusive o público infantil, impulsionaram a organização a desenvolver um projeto exclusivamente voltado para crianças”.
Todas as iniciativas desse projeto podem ser conhecidas no site bibliaorante.com.br.
Padre Roger Araújo é membro da Comunidade Canção Nova desde 1998; pediu uma licença canônica para fazer uma nova experiência no seu ministério sacerdotal e no fim de 2021 foi nomeado para assumir a Paróquia São Domingos Sávio, no Riacho Fundo I, Distrito Federal.
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