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Duas palavras compõem o coração cristão: alegria e amor. Não é possível separá-las. Uma depende da outra. O cristão vive a alegria porque sabe escutar a voz do amor. Não é qualquer amor. É amor específico, o amor do Pai. Jesus expõe de forma magnífica o processo do amor no coração do Pai ao contar a parábola do filho pródigo ou do pai misericordioso, como preferem alguns. Em termos musicais, isto é, música é movimento e condução, prefiro dizer filho pródigo, porque é nele que está o movimento, a decisão, a escolha do caminho, a experiência humana. É no movimento do filho que está o nosso movimento; somos pródigos quando não usamos bem a música litúrgica e gastamos os bens herdados sem nenhum critério e amor.
A música exige o mesmo elemento do filho pródigo: a escolha. Se ele não tivesse desafinado, não teria voltado à harmonia. Ao voltar, encontrou o coração do pai alegre e cheio de amor e aconteceu música na casa do pai!
O cristão sente a presença de Deus. É afeto profundo. É presença que provoca alegria interna da alma. Está lá. Sempre lá. No fundo. No lugar do Batismo. O amor do Pai não muda. Sabe esperar a hora em que o filho sente o desejo de voltar ao centro, ao equilíbrio, então, o lá se torna aqui. A mansidão se faz presente. É calma cheia de vida e esperança. A volta do filho pródigo é resultado da experiência e não de ideais que nunca saem do lugar. Anselm Grün e Meinrad Dufner fazem duas atenciosas colocações sobre a espiritualidade neurótica e a espiritualidade criadora no livro A saúde como tarefa espiritual: “A espiritualidade neurótica reprime a sombra e agarra-se forçosamente a ideais, sem jamais conseguir realizá-los. Através da sua identificação com um ideal forte, o homem neurótico tenta compensar o seu sentimento de inferioridade e elevar a sua autoestima. (…) A espiritualidade criadora de união é sempre uma espiritualidade que gera comunidade. Ela não diz respeito apenas ao indivíduo, mas o remete para a comunidade, para a Igreja”.
É lamentável que muitos têm procurado um “piedosismo” exagerado e artificial; isso é algo vazio, terão de voltar uma hora ou outra à espiritualidade criadora. No livro A montanha dos sete patamares, Thomas Merton demonstra o que aprendeu com os monges que ainda não haviam encontrado o caminho de volta: “Pode-se dizer, como regra geral, que os maiores santos raramente são os que patenteiam em suas expressões maior piedade quando estão ajoelhados orando e que os homens mais santos dum mosteiro quase nunca são os que nos dias de festa mantêm olhar exaltado no coro. As pessoas que pasmam para a estátua de Nossa Senhora com olhos deslumbradamente cintilantes nem sempre são tão devotas nem livres de má índole”.
O canto cristão é vida! É ação. São Bento abre a Santa regra com terna e musical palavra: “Escuta, filho, e inclina o ouvido do teu coração”. Canto, alegria e amor são unos ao ouvido inclinado à voz do coração de Jesus.
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